No Ceará, entre motoristas de carros e ônibus, motociclistas,
pedestres, caminhoneiros e ciclistas, os condutores de motocicletas são
as principais vítimas de acidentes de trânsito no trabalho, entre os
anos de 2007 e 2016. A situação é revelada em um levantamento inédito
feito pelo Ministério da Saúde e divulgada no último sábado (28).
Segundo a pesquisa, no intervalo de 11 anos, foram notificados 5.305
acidentes do tipo no Ceará. Essas ocorrências tiveram 240 mortes. Desse
total, 63 foram de motociclistas, o equivalente a 26,2% dos casos.
Os dados que embasaram a pesquisa constam nos Sistemas de Informação de
Agravo e Notificações (Sinan) e do de Mortalidade (SIM) do Governo
Federal. Com eles, o Ministério da Saúde mapeou os acidentes ocorridos
quando o trabalhador tem uma função que envolve locomoção (acidentes
típicos) ou quando estava indo ou voltando do local de trabalho
(acidentes de trajeto) durante o intervalo de tempo estudado.
Nesse intervalo de 11 anos, 2012; com 876 acidentes e 2016; com 956
registros, foram os que apresentaram os maiores números de notificações
para um único ano. Em 2017, foram registrados 442 acidentes, uma queda
de 53,7% de ocorrência do tipo no Estado, quando comparados ao ano de
2016.
Características
No Ceará, os condutores/ocupantes de carro aparecem em segundo lugar no
ranking das vítimas, com 38 mortes, seguidos por motoristas/ocupantes
de caminhões, com 18 óbitos. A tendência apresentada no Ceará de
predominância dos óbitos de motociclistas nos acidentes de trânsito
relacionados ao trabalho é a mesma de outros 10 estados brasileiros.
Dentre os 26 estados e o Distrito Federal, conforme o Ministério da
Saúde, a categoria é a mais vitimada, seguida por motoristas de carros
(7 estados), motoristas de caminhões (5 estados) pedestres (2 estados) e
condutores de transportes aquáticos (1 estado). No Nordeste, foram
contabilizadas 2.911 mortes, sendo 752 de motoristas de carros e 572 de
motociclistas. A região foi a terceira com o maior número de acidentes.
No Brasil, ao longo dos 11 anos, foram 118.310 acidentes de transporte
relacionados ao trabalho, passando de 2.798 em 2007 para 18.706 em 2016.
Um aumento de 568,5%. Ao todo essas ocorrências resultaram em 16.568
mortes.
O Ministério da Saúde não disponibilizou dados regionais sobre o perfil
das vítimas, mas apresentou que, nacionalmente, 8 em cada 10 acidentes
de trânsito relacionados ao trabalho foram sofridos por homens. A faixa
etária predominante das vítimas é entre 18 e 29 anos. Em relação às
lesões provocadas por essas ocorrências, de acordo com o Ministério da
Saúde, 22,5% delas foram ocorridas em membros inferiores e 15,7% nos
superiores e outros 14,4% traumatismo em geral. Desses acidentes, 63%
evoluíram para incapacidade temporária.
O órgão informa ainda que, nacionalmente, tem conseguido priorizar a
intervenção nos fatores de risco para acidente de trânsito, como o
consumo de bebida alcoólica e velocidade inadequada para a via, além de
priorizar os grupos de vítimas, como os motociclistas, a partir das
análises de situação, pois tem atuado em cooperação com a Polícia
Rodoviária Federal (PRF), a Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do
Trabalhador (Renast), pelo menos, desde 2010.
Falta monitoramento
Para o presidente do Sindicato dos Motoboys, Motoqueiros, Motoqueiros
Vendedores e Pré-vendedores, Motoqueiros Cobradores, Mensageiros,
Mecânicos e Vendedores específicos da área motociclista no Estado do
Ceará (Sindimotos-CE), Glauberto Almeida, falta no Ceará monitoramento e
sistematização das informações nas unidades de saúde sobre ocorrências
envolvendo trabalhadores do setor dos transportes.
"Eu sempre bati muito pesado cobrando que sejam realizados levantamento
com motociclistas que chegam acidentados, por exemplo, no IJF
(Instituto Dr. José Frota). Porque a grande maioria deles não é
habilitado. Não são trabalhadores profissionais. E é preciso que a
tenhamos informações", reforça.
Na avaliação do representante sindical, medidas que priorizem a
educação no trânsito e os espaços que garantam segurança viária a cada
tipo de modal devem ser reforçadas, à exemplo das iniciativas que vem
sendo aplicadas em Fortaleza. De acordo com ele, a implantação de faixas
de retenção para motos, existente em algumas vias da Capital são uma
conquista pleiteadas há muito tempo pela categoria e que devem ser
ampliadas para outras áreas.