Adicionar legenda |
A nova cédula brasileira de R$ 200 ainda nem foi lançada, mas já deu o que falar. Após memes e até mesmo questionamento do Supremo Tribunal Federal (STF), a nota que estampará o lobo-guará deve ser apresentada nesta quarta-feira, 2. Dentre as mudanças que ela poderá trazer está a maior dificuldade na hora de passar o troco, segundo especialistas ouvidos pelo O POVO.
Apesar de ter como justificativa o aumento pela demanda de dinheiro em espécie na pandemia, principalmente em razão do auxílio emergencial, a nova nota vai na direção contrária às necessidades atuais do varejo por mais cédulas menores e moedas. É como que analisa o economista Alex Araújo.
"Esse problema de hoje, já que uma quantidade relativamente pequena de moeda e cédulas de pequeno valor circulam no mercado, tende a aumentar com a cédula de R$200", afirma.
Na análise de Rodrigo Doria, especialista em Gestão de Negócios, quando está em questão troco em valores mais baixos, como as moedas e notas de R$ 2 e R$ 5, a nota de R$ 200 não necessariamente agravará a falta de troco já existente no varejo.
Isso porque, segundo ele, as notas mais altas são pouco usadas em compras cotidianas, e estima-se que apenas 10% da população utilize cédulas de R$ 100 para fazer pagamentos em dinheiro.
No entanto, um estudo de 2018 do Banco Central do Brasil mostrou que 96% dos brasileiros ainda utilizavam o dinheiro em pagamentos diários. Desses, 60% afirmaram que usam o dinheiro com maior frequência em suas compras.
"Porém, ainda não é possível prever o real comportamento das pessoas em posse das notas de R$ 200, se vão guardar a cédula com medo de uma crise financeira, como o governo imagina, ou se vão colocá-la em circulação no mercado. Se elas passarem a ser muito usadas em pagamentos do dia a dia, aí sim teríamos um novo desafio pela frente", pontua Doria.
Além da falta de moedas e cédulas de baixo valor que o varejo já enfrenta, Doria alerta que o lojista pode passar a sofrer também com a falta de cédulas mais altas de R$ 10, R$ 20, R$ 50 e até R$ 100.
Para o economista Ivan Frota, professor do Departamento de Teoria Econômica (DTE) da Universidade Federal do Ceará (UFC), "não resta dúvida" de que as cédulas de R$ 200 podem "inibir" as compras de pequenos valores por falta do troco.
"A Diretoria do Meio Circulante do Banco Central deverá, simultaneamente, ampliar a circulação das moedas metálicas e das cédulas fracionárias", sugere como saída coerente para o problema.
Soluções digitais são tendência
Cada vez menos as pessoas estão usando dinheiro em espécie no mundo. Esse processo será ainda mais acelerado no País com o Pix, novo sistema de pagamentos instantâneos do Banco Central (BC) que entrará em vigor em 16 de novembro.
O economista Alex Araújo considera que a tendência é que mais pessoas passem a fazer pagamentos eletrônicos, seja por meio de cartão ou de aplicativo no celular. "Nesses casos, o troco é completamente dispensável, já que você paga exatamente o valor do que está sendo cobrado", diz.
De toda forma, Araújo orienta aos pequenos lojistas, que têm maior demanda de dinheiro para troco, se prepararem para a necessidade de troco que a nota de R$ 200 pode gerar.
Rodrigo Doria, que também é CEO e fundador da startup Super Troco, acredita que o varejo é muito criativo ao tentar encontrar soluções para minimizar o impasse sobre a falta de troco. "Algumas redes criam promoções e oferecem brindes para pagamentos em dinheiro trocado ou para quem levar suas moedas para serem trocadas por notas de maior valor nas lojas, por exemplo", comenta.
Ele cita alternativas nessa área como a plataforma Super Troco, que digitaliza o troco em uma carteira de pontos que são acumulados e podem ser resgatados em produtos e serviços.
No Brasil, a iniciativa já reúne mais de 1 milhão de clientes, sendo 3,1 mil no Ceará. Além disso, são cerca de 5,6 mil lojas que aderem ao sistema em todo o País, com 278 em território cearense. O varejista pode se tornar parceiro sem custos e os clientes também participam de campanhas promocionais e concorrem a prêmios em dinheiro.