Escavadeira derruba paredes para perícia realizar buscas em imóvel ao lado da casa de pintor (Foto: Will Soares/ G1)
A Polícia Civil vai realizar nesta quarta-feira (30) buscas em mais
dois imóveis vizinhos à casa do pintor Jorge Luiz Morais de Oliveira,
41, preso por matar e esconder corpos na Favela Alba, na Zona Sul de
São Paulo. Ao menos sete corpos foram encontrados na casa do pintor.
Equipes da Prefeitura demoliram paredes de um imóvel abandonado,
vizinho à casa do pintor, para que a perícia da Polícia Civil possa
buscar novos restos mortais.
Uma retroescavadeira foi utilizada no serviço e policiais militares,
civis e uma equipe técnico-científica acompanharam os trabalhos. O
terreno, segundo testemunhas, era muito utilizado por usuários de droga
da região para o consumo de entorpecentes e Jorge seria um dos
frequentadores. A Prefeitura retirou lixo e entulho suficientes para
carregar oito caminhões.
Também na manhã desta quarta-feira a Polícia Civil recebeu uma denúncia
e vai investigar a casa onde o pintor prestava serviços como pedreiro e
jardineiro. A residência fica na Rua Professor Carlos Rizzini, a cerca
de 1 km de onde os corpos foram encontrados.
A delegada Nilze Scapulatiello, do 35º DP, nao quis adiantar mais
detalhes, mas esteve no quintal da residência com bombeiros e policiais
militares para fazer uma avaliação preliminar. Pouco mais tarde, a
delegada retornou acompanhada da proprietária do imóvel e do corretor de
uma imobiliária. Ela afirmou que resolveu "pendências" para poder
investigar o interior da residência.
Vizinhos do local disseram que ele chegava para trabalhar sempre com enxada e pá, mas o mato nunca diminuía.
"Não dava nada para ele. Era uma pessoa humilde, parecia até gente boa.
Sempre passava com enxada e pá. Ele entrava para capinar, mas nunca via
o mato sair. Estava sempre alto", disse vizinho que não quis se
identificar.
Desaparecidos
O delegado da 2ª Seccional - Sul, Jorge Carrasco, disse que vai
investigar se Jorge tem alguma relação com o desaparecimento de 30
pessoas na região do 35º Distrito Policial, que compreende à região de
Jabaquara, na Zona Sul de São Paulo, perto da casa onde o suspeito
morava.
"Temos uma relação de pessoas desaparecidas na área da circunscrição do
35º DP e em alguns desses casos temos evidências de que possivelmente
tenham sido mortas por esse indivíduo. Ele disse em
depoimento que matava desde janeiro deste ano", disse Carrasco.
Sobre a possibilidade de Oliveira ter recebido ajuda para matar e
ocultar os corpos das vítimas, o delegado informou que o pintor "disse
que agiu sozinho, mas a polícia vai investigar se tudo o que ele disse
no interrogatório é verdade."
O seccional explicou que deve fazer exames de DNA para identificar os
corpos e ossadas encontradas na casa do pintor. "O trabalho de
identificação dos corpos segue. Dependemos de laudos técnicos e
periciais. Temos ossos, crânios e tudo será identificado", disse
Carrasco.
O caso
Oliveira foi preso depois de a polícia encontrar o corpo de Carlos Neto
Alves Júnior, de 21 anos, na casa dele, na sexta-feira (25). Durante a
perícia, foram achados mais três cadáveres e uma ossada. Nesta
terça-feira, foram feitas novas buscas no imóvel e mais corpos foram
encontrados, totalizando sete vítimas. A polícia também encontrou fotos
de seis pessoas na casa e vai investigar se elas estão desaparecidas.
Durante depoimento no 16º Distrito Policial, na Vila Clementino,
Oliveira confessou ter assassinado cinco mulheres e um homem, que é o
vizinho Carlos Júnior, segundo a polícia. O pintor disse em depoimento
que as mortes aconteceram dentro do imóvel e as vítimas eram mulheres
que compartilhavam drogas com ele.
Ele nega ter mantido relação sexual com as vítimas. O pintor também
afirmou que a motivação para os crimes é que ele "fazia oposição à
facção que está nos presídios e temia que as vítimas revelassem isso na
região e, por isso, as estrangulou."
O homem diz que matou Carlos Júnior em legítima defesa. O suspeito
disse que Júnior entrou em sua casa com uma faca na mão na companhia de
outro rapaz. Segundo ele, após uma discussão, a vítima o esfaqueou no
braço, ele conseguiu tomar a faca de Júnior e começou a golpeá-lo. O
rapaz que estava com o jovem teria fugido durante a briga.
A polícia diz que as buscas na casa não têm prazo para terminar. Também
existe a possibilidade de haver mais de sete vítimas entre as ossadas
já localizadas.
Pintor Jorge Luiz Morais de Oliveira (Foto: Marcelo Gonçalves/SigmaPress/Estadão Conteúdo)
Vítimas
Oliveira reconheceu por foto Paloma Aparecida dos Santos, de 21 anos, segundo a polícia. Os familiares dela
identificaram um celular da jovem encontrado na casa do pintor de paredes.
Oliveira também disse que estão entre as vítimas uma mulher chamada
Natasha e uma conhecida como “Baianinha”. A polícia informou, no
entanto, que só poderá confirmar a identidade dos corpos quando os
exames de DNA estiverem prontos.
“Não dá para a gente ficar mostrando fotos de vítimas e desaparecidos e
perguntar se ele matou, ou não. A gente vai ter que provar isso na
investigação”, disse o delegado Jorge Carrasco. Segundo ele, na região
do 35º Distrito Policial, o mais próximo da Favela Alba, onde o pintor
morava, há 30 pessoas desaparecidas. A polícia irá fazer a investigação
das vítimas com base nas informações sobre esses desaparecidos.
Mais cedo, o advogado de Oliveira, André Nino, havia dito que o pintor
alegou que agia sob efeito de drogas e que está "arrependido dos
crimes". Segundo o advogado, Oliveira afirmou não se lembrar dos nomes
ou de outras informações das mulheres mortas.
O advogado disse que "se trata de uma pessoa que está consumida pela
droga". Ele informou que ainda não definiu a linha de defesa. Segundo o
advogado, o pintor negou em depoimento que a motivação dos assassinatos
em série seja homofobia – Carlos Júnior e outras possíveis vítimas eram
homossexuais.
Além dos casos revelados nesta semana, o pintor tem longa ficha
criminal. Ele ficou preso 17 anos e 9 meses por dois homicídios em 1994 e
1995, se envolveu em rebelião de presos, e também respondeu
criminalmente por sequestro, cárcere privado e formação de quadrilha.
Ele deixou a cadeia em 7 de novembro de 2013.
Corpo
é retirado da casa do pintor Jorge de Oliveira na região do Jabaquara,
Zona Sul de São Paulo (Foto: Amauri Nehz/Brazil Photo Press/Estadão
Conteúdo)
Restos mortais
Segundo a delegada Nilze Scapulatiello, do 35º Distrito Policial,
roupas, calçados e ossos foram recolhidos da casa e levam à polícia a
acreditar que pessoas tenham sido mortas e enterradas na casa do pintor.
Pintor suspeito de matar e ocultar cadáveres em casa no Jabaquara (Foto: Reprodução/TV Globo)
"Tem homem, tem mulher, tem roupa de criança. Eu peguei todas as
pessoas desaparecidas que eu tenho registro na área, pra informar,
chamar parentes, reconhecer roupa, algum detalhes que não é para nós,
tem vários sapatos, sandálias, mas a família pode reconhecer", disse.
Um morador da favela, que pediu para não ser identificado, afirmou que o
suspeito costumava beber em um bar da região e que ele não fazia
questão de esconder o desprezo que tinha por homossexuais e usuários de
droga. "Ele ficava direto no bar com a gente. Ele sempre falava que
tinha raiva de gay e de nóia, mas nunca imaginei que seria capaz de uma
coisa dessas".
Pintor chega para depor em Distrito Policial em São Paulo (Foto: Will Soares/ G1)
Beco onde fica a casa do pintor suspeito pelas mortes (Foto: Will Soares/G1)