O senador estadual democrata Brad Hoylman
Depois de o Museu de História Natural de Nova York desistir de sediar uma homenagem ao presidente Jair
Bolsonaro
, a rede de hotéis
Marriott
, para onde o evento foi remarcado, está sob pressão para também
cancelar a cerimônia, sob a alegação de que Bolsonaro ameaça os valores
nova-iorquinos de tolerância e multiculturalismo.
O senador estadual democrata de Nova York Brad Hoylman, que representa,
entre outras áreas de Manhattan, Times Square, onde está localizada a
filial do hotel, enviou uma carta ao presidente do grupo Marriott, na
qual diz que Bolsonaro é um “homofóbico perigoso e violento, que não
merece uma plataforma pública de reconhecimento em nossa cidade”.
Hoylman, que é homossexual, pede que o Marriott Marquis, para onde está
marcada a cerimônia de entrega do título de Personalidade do Ano da
Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos no próximo dia 14 de maio, não
receba Bolsonaro.
— Times Square representa não só a esquina do mundo, mas a essência do
multiculturalismo e da cultura global de aceitação e tolerância — o
senador afirmou ao GLOBO. — Fico enojado com a possibilidade de essa
região receber alguém tão preconceituoso. Assim como vários outros
lugares analisaram e rejeitaram esta possibilidade, espero que o
Marriott vá ouvir a preocupação dos nova-iorquinos e cancelar o evento.
Maior rede hoteleira do mundo, com faturamento de mais de US$ 20 bilhões
em 2018, a rede Marriott há muito tempo tem uma política de apoio à
comunidade LGBT, incluindo funcionários e empregados. Em 2014, a empresa
fez uma campanha publicitária de sucesso com o mote “O amor viaja”, na
qual casais gays e lésbicas aparecem felizes em seus hotéis.
Em 2015, a empresa foi eleita “O melhor lugar para trabalhar em termos
de inclusão LGBT”. O grupo também faz parte da Câmara Nacional de
Comércio de Gays e Lésbicas dos EUA, patrocina a Human Rights Campaign
(HRC) americana, o Centro Nacional para Direitos Lésbicos e outros
grupos americanos de inclusão homoafetiva, além de ter sido um dos
primeiros grandes hotéis a oferecer benefícios iguais para parceiros do
mesmo sexo, desde 1999.
O senador Hoylman definiu como “vergonhoso” que uma empresa com estes
títulos aceite sediar uma homenagem a Bolsonaro. No passado, o
presidente já disse que era “homofóbico com orgulho” e que preferia “ter
um filho morto a um homossexual”, entre outras declarações no mesmo
tom. Nesta quinta-feira, em café da manhã com jornalistas, o presidente
afirmou que “o Brasil não pode ser um país do mundo gay, de turismo
gay”.
— O hotel pode receber quem eles quiserem, mas isso contraria a sua
política de responsabilidade LGBT. Aceitar receber esta homenagem é um
tapa na cara. O hotel deve se preocupar em como seus acionistas e
clientes irão reagir — afirmou Hoylman. — Nenhuma autoridade pública que
deu declarações tão revoltantes merece nada dos nova-iorquinos, nem de
empresas em Nova York.
Apesar de suas declarações do passado, Bolsonaro não mais se identifica
publicamente como homofóbico. No café da manhã, questionado sobre a
recusa do Museu de História Natural, o presidente afirmou que o prefeito
de Nova York, o democrata Bill de Blasio, o atacou porque "é contra
Trump".
Perguntado sobre o que achava de a Câmara de Comércio Brasil-Estados
Unidos não conseguir um lugar para dar a festa que vai homenageá-lo em
Nova York, Bolsonaro disse que recebe a honraria "até na praia".
Procurada, a Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos disse que não irá se manifestar sobre o assunto. O
site do evento
não indica para onde ele será, mas, ao
jornal nova-iorquino NY Daily News
, que primeiro noticiou a pressão de Hoylman, o hotel confirmou que
receberá o evento e disse que “aceitar fazer negócios não indica apoio
nem corroboração a nenhum grupo ou indivíduo”.
A porta-voz do hotel
Marriott não foi localizada para comentar.
A cerimônia no Museu de História Natural foi cancelada após uma série de
protestos de membros da instituição científica, por considerarem o
presidente brasileiro um “inimigo” da preservação ambiental. Em uma
carta aberta à presidente do museu, Ellen Futter, estudantes,
doutorandos, funcionários e pesquisadores da instituição pediram o
cancelamento da homenagem a Bolsonaro, a quem chamaram de “presidente
fascista do Brasil”, afirmando que o evento seria “uma mancha na
reputação do museu”.