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Foto Divulgação/Sesa Paraná |
Quase
60% dos brasileiros diagnosticados com hipertensão arterial não tomam
os medicamentos conforme a orientação médica. O dado preocupante é
resultado de um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de
São Paulo (USP) e da Universidade do Oeste Paulista (Unoeste), publicado
em 2024 no International Journal of Cardiovascular Sciences. O trabalho
recebeu o Prêmio de Publicação Científica durante o 80º Congresso
Brasileiro de Cardiologia, realizado em setembro deste ano.
A
pesquisa acompanhou 2.578 homens e mulheres hipertensos, em 49 clínicas
de todas as regiões do país, durante um período de um ano. Todos tinham
mais de 18 anos e foram diagnosticados com pressão alta há pelo menos
quatro semanas. Pacientes com condições que poderiam interferir na
regularidade do tratamento — como gestantes, renais crônicos e pessoas
com distúrbios psiquiátricos — foram excluídos do estudo.
Os
participantes responderam a um questionário internacional de aderência
medicamentosa, conhecido como Escala de Moritsky-Green, que avalia três
níveis de comprometimento: alta, média e baixa aderência. O levantamento
identificou que apenas 40% seguem corretamente o tratamento, enquanto
60% interrompem o uso do medicamento parcial ou totalmente, seja por
esquecimento, descuido, melhora dos sintomas ou efeitos colaterais.
O
estudo revelou ainda diferenças marcantes entre grupos etários, raciais
e regionais. Entre os idosos, que representaram 56,7% dos
participantes, quase 60% não tomam o remédio como deveriam. A taxa de
baixa adesão é maior entre negros (17,7%) e miscigenados (13,1%),
enquanto cai para 7,5% entre asiáticos e 9% entre brancos. Apenas 31,4%
dos pacientes negros e 33,6% dos miscigenados seguem rigorosamente o
tratamento, contra 46,2% dos brancos.
Os
pesquisadores apontam que fatores socioeconômicos, como menor
escolaridade e dificuldade de acesso a serviços de saúde, influenciam
diretamente a adesão. Estudos anteriores já haviam identificado esse
mesmo padrão entre pacientes de baixa renda no Nordeste.
Na
análise regional, a baixa adesão é mais grave no Nordeste, onde 22% dos
pacientes não seguem o tratamento de forma adequada — mais que o dobro
do índice do Sudeste (9%) e quatro vezes o do Norte (5%).
Para
os especialistas, os resultados reforçam a necessidade de políticas
públicas voltadas à educação em saúde e acompanhamento contínuo de
hipertensos, uma vez que a pressão alta é um dos principais fatores de
risco para infarto e AVC, doenças que figuram entre as maiores causas de
morte no Brasil.