segunda-feira, 13 de outubro de 2025

6 em cada 10 brasileiros com pressão alta abandonam ou tomam errado o remédio prescrito

Foto Divulgação/Sesa Paraná
Quase 60% dos brasileiros diagnosticados com hipertensão arterial não tomam os medicamentos conforme a orientação médica. O dado preocupante é resultado de um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade do Oeste Paulista (Unoeste), publicado em 2024 no International Journal of Cardiovascular Sciences. O trabalho recebeu o Prêmio de Publicação Científica durante o 80º Congresso Brasileiro de Cardiologia, realizado em setembro deste ano.

A pesquisa acompanhou 2.578 homens e mulheres hipertensos, em 49 clínicas de todas as regiões do país, durante um período de um ano. Todos tinham mais de 18 anos e foram diagnosticados com pressão alta há pelo menos quatro semanas. Pacientes com condições que poderiam interferir na regularidade do tratamento — como gestantes, renais crônicos e pessoas com distúrbios psiquiátricos — foram excluídos do estudo.

Os participantes responderam a um questionário internacional de aderência medicamentosa, conhecido como Escala de Moritsky-Green, que avalia três níveis de comprometimento: alta, média e baixa aderência. O levantamento identificou que apenas 40% seguem corretamente o tratamento, enquanto 60% interrompem o uso do medicamento parcial ou totalmente, seja por esquecimento, descuido, melhora dos sintomas ou efeitos colaterais.

O estudo revelou ainda diferenças marcantes entre grupos etários, raciais e regionais. Entre os idosos, que representaram 56,7% dos participantes, quase 60% não tomam o remédio como deveriam. A taxa de baixa adesão é maior entre negros (17,7%) e miscigenados (13,1%), enquanto cai para 7,5% entre asiáticos e 9% entre brancos. Apenas 31,4% dos pacientes negros e 33,6% dos miscigenados seguem rigorosamente o tratamento, contra 46,2% dos brancos.

Os pesquisadores apontam que fatores socioeconômicos, como menor escolaridade e dificuldade de acesso a serviços de saúde, influenciam diretamente a adesão. Estudos anteriores já haviam identificado esse mesmo padrão entre pacientes de baixa renda no Nordeste.

Na análise regional, a baixa adesão é mais grave no Nordeste, onde 22% dos pacientes não seguem o tratamento de forma adequada — mais que o dobro do índice do Sudeste (9%) e quatro vezes o do Norte (5%).

Para os especialistas, os resultados reforçam a necessidade de políticas públicas voltadas à educação em saúde e acompanhamento contínuo de hipertensos, uma vez que a pressão alta é um dos principais fatores de risco para infarto e AVC, doenças que figuram entre as maiores causas de morte no Brasil.

Com informações do Ceará Agora.