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Foto Honório Barbos |
As
tarifas sobre diversos produtos anunciadas por Donald Trump — e a
consequente guerra tarifária que se iniciou a partir do ocorrido — têm
causado alvoroço na economia global, mas também apresentam oportunidades
de abertura e avanços em novos mercados. No asiático, os pescados
cearenses podem ter chances ainda melhores.
O
ministro da Agricultura e Pecuária (Mapa), Carlos Fávaro, chegou a
dizer em entrevista coletiva nos últimos dias que o Brasil está na
“iminência” de obter uma autorização para o envio de pescados para a
China.
A
reportagem demandou a Pasta para entender mais detalhes sobre o tema e
quais pescados seriam autorizados, mas não houve retorno até a
publicação desta matéria. O espaço segue aberto.
Hoje,
segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e
Serviços (Midc), atum, o pargo e a lagosta estão entre os principais
pescados cearenses enviados ao exterior.
"Os
países que mais recebem os nossos produtos são Estados Unidos e
Indonésia, para onde enviamos lagosta, pargo e atum. A Ásia é um mercado
promissor e muito importante", diz o secretário da Pesca e Aquicultura
do Ceará, Oriel Nunes Filho.
Oriel
destaca que, para que isso se intensifique, é preciso "destravar
licenças de embarcações e das fazendas de camarão junto ao Ministério da
Agricultura".
O
camarão, inclusive, é um dos principais produtos que podem ganhar
protagonismo e firmar espaço no mercado chinês, segundo o presidente do
Coletivo Nacional da Pesca e Aquicultura (Conepe), Cadu Villaça.
“Um
produto muito forte é o camarão. A China não habilitou o camarão
brasileiro até hoje e importa do Equador e da Costa Rica”, reforça.
Atualmente, o Ceará é o estado que mais produz camarão no Brasil, com
72,6 mil toneladas em 2023 (dados mais recentes), conforme o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
De
acordo com Villaça, entidades brasileiras como o Conepe já mantêm
conversas “faz tempo” com o Ministério da Agricultura “para que se faça
pressão diplomática” visando levar mais pescados brasileiros para o país
asiático, ampliando não só os produtos autorizados, mas a quantidade de
empresas autorizadas.
A
lagosta cearense, por exemplo, é um dos produtos que já entrou no
mercado chinês. “A Cioba, o Pargo, eles não abriram até hoje”, enfatiza
Villaça.
Ainda
segundo o presidente do Conepe, Estados Unidos é o país que mais recebe
os pescados cearenses. “Além das tarifas, o Trump também anunciou a
abertura de grandes áreas protegidas nos EUA em que não se podia pescar e
agora vai poder, portanto, a produção nortemaericana de pescados vai
subir”, pontua, reforçando a importância de o Brasil abrir mercados.
Potencial do atum
Além
do camarão, o atum pescado pelos cearenses também pode ganhar espaço no
mercado chinês. Hoje, de acordo com a Associação dos Armadores e
Proprietários de Barcos de Pesca do Estado do Ceará (Qualipesc), Bell
Neves, a produção vem crescendo, apesar desse avanço ser “tímido” e do
cenário "desafiador”.
“A
burocracia na regularização das embarcações traz insegurança jurídica
para os pescadores. A frota pesqueira do Ceará é composta por cerca de
200 embarcações, entre licenciadas e não licenciadas. A falta de
regularização impede que muitos pescadores operem legalmente, afetando a
produção e a geração desempregos no setor”, pontua Neves. Além disso,
ele vê uma carência nas indústrias de beneficiamento de pescados no
Ceará.
A
produção de atum no Estado é destinada tanto ao mercado interno quanto à
exportação. “Embora não haja dados específicos sobre a porcentagem
exata destinada a cada mercado, sabe-se que o estado é um dos principais
exportadores de atum do Brasil”.
No
caso do atum, os principais países compradores do produto cearense são
Chile (importa atum enlatado congelado), Equador (recebe lombo cozido
congelado e atum eviscerado congelado), além de Uruguai e Argentina. “A
Ásia, especialmente países como Japão e China, possui uma demanda
significativa por atum de qualidade. O Ceará, com sua localização
estratégica e potencial de produção, tem buscado parcerias e
investimentos para atender a esse mercado”, finaliza Bell Neves.