Com a pandemia do novo coronavírus e as recomendações de distanciamento social, eventos de música foram duramente atingidos.
Segundo dados de um levantamento do Data SIM realizado em março, mais de 8 mil shows e apresentações foram cancelados ou adiados em 21 estados do país em 2020.
O palco foi transferido para a tela do celular ou computador. Músicos de todos os estilos têm realizado transmissões em que apresentam seu repertório, as chamadas “lives”, que acontecem normalmente nas redes sociais. Cada dia da quarentena conta com um cardápio formidável de “shows” online. Muitos desses eventos têm promovido arrecadações para o combate ao coronavírus.
A modalidade de apresentação passou a ocupar um lugar central no perfil de artistas. “Muita gente já estudava e propunha fazer isso [antes da pandemia], mas de maneira mais tímida. Agora todo mundo foi obrigado a fazer”, afirmou Fabrício Nobre, fundador do Festival Bananada e programador de shows do Grupo Vegas, ao Nexo.
No início das quarentenas, a maneira mais comum de live musical era uma proposta bem despojada. Geralmente, é o artista em um cômodo da casa, filmando com seu celular e tocando enquanto conversa com o público. Foi assim que se apresentaram, por exemplo, o inglês Chris Martin, do Coldplay, o americano John Legend, ou a brasileira Ludmilla, acompanhada de um amigo ao violão.
Na segunda quinzena de março, dois festivais virtuais reuniram lives de dezenas de músicos brasileiros de diversos gêneros. O Festival Fico em Casa e o #tamojunto, iniciativa do jornal O Globo, transmitiram uma programação gerada a partir dos perfis no Instagram dos artistas.
Em paralelo, artistas sertanejos como Jorge e Mateus e Gusttavo Lima apostaram em produções mais sofisticadas. Seus shows online bateram recordes de audiência no YouTube. Com patrocínio de marcas de bebida, posicionaram as lives como um atraente filão para ações de marketing.
O palco foi transferido para a tela do celular ou computador. Músicos de todos os estilos têm realizado transmissões em que apresentam seu repertório, as chamadas “lives”, que acontecem normalmente nas redes sociais. Cada dia da quarentena conta com um cardápio formidável de “shows” online. Muitos desses eventos têm promovido arrecadações para o combate ao coronavírus.
A modalidade de apresentação passou a ocupar um lugar central no perfil de artistas. “Muita gente já estudava e propunha fazer isso [antes da pandemia], mas de maneira mais tímida. Agora todo mundo foi obrigado a fazer”, afirmou Fabrício Nobre, fundador do Festival Bananada e programador de shows do Grupo Vegas, ao Nexo.
No início das quarentenas, a maneira mais comum de live musical era uma proposta bem despojada. Geralmente, é o artista em um cômodo da casa, filmando com seu celular e tocando enquanto conversa com o público. Foi assim que se apresentaram, por exemplo, o inglês Chris Martin, do Coldplay, o americano John Legend, ou a brasileira Ludmilla, acompanhada de um amigo ao violão.
Na segunda quinzena de março, dois festivais virtuais reuniram lives de dezenas de músicos brasileiros de diversos gêneros. O Festival Fico em Casa e o #tamojunto, iniciativa do jornal O Globo, transmitiram uma programação gerada a partir dos perfis no Instagram dos artistas.
Em paralelo, artistas sertanejos como Jorge e Mateus e Gusttavo Lima apostaram em produções mais sofisticadas. Seus shows online bateram recordes de audiência no YouTube. Com patrocínio de marcas de bebida, posicionaram as lives como um atraente filão para ações de marketing.
As lives sertanejas
As
transmissões dos astros sertanejos mobilizam estrutura de filmagem com
mais de uma câmera, iluminação, cenografia e patrocínio, geralmente de
marcas de cerveja. É um tipo de produção que não se viu em transmissões
de estrelas estrangeiras. O cantor inglês Elton John, por exemplo,
transmitiu a partir da cozinha de sua casa.
O pioneiro da
“super-live” foi o cantor Gusttavo Lima, que fez uma transmissão de
cerca de cinco horas no YouTube em 28 de março. Conseguiu um recorde:
mais de 700 mil espectadores simultâneos, ultrapassando a marca da
cantora americana Beyoncé, que tinha chegado a 458 mil em 2018 com sua
apresentação no festival Coachella. Com objetivo beneficente, a live
arrecadou, segundo o cantor, R$ 500 mil em dinheiro, alimentos e
equipamentos de segurança para o combate ao coronavírus.
Uma
semana depois, a dupla Jorge e Mateus deu a sua contribuição ao novo
modelo, conseguindo números ainda mais impressionantes. Com mais de 3,1
milhões de pessoas vendo ao mesmo tempo, também no YouTube, o recorde de
Gusttavo Lima foi batido em quatro vezes. Quatro dias depois, seu
recorde foi batido por Marília Mendonça, que chegou a ter 3,5 milhões de
espectadores simultâneos em sua apresentação no dia 8 de março.
De
acordo com Jorge e Mateus, sua empreitada levantou 172 toneladas de
alimentos, 10 mil frascos de álcool em gel e 200 cursos na área de
saúde. A live da dupla também contou com a participação do ministro da
Saúde, Luiz Henrique Mandetta, recomendando ao público que seguisse a
quarentena, dizendo que “é importante não aglomerar”.
Ao realizar
produções com mais sofisticação, os sertanejos também precisaram
mobilizar equipe técnica para seus shows na internet. Uma imagem de
bastidores da live de Jorge e Mateus mostrou pelo menos dez pessoas,
fisicamente próximas, que seriam do pessoal de produção. Com isso, a
produção estaria contrariando as recomendações da Organização Mundial da
Saúde de evitar aglomerações.
A assessoria da dupla informou à
imprensa que 18 pessoas participaram da produção do evento, realizado em
um restaurante em Goiânia. Segundo a assessoria, as equipes foram
divididas em dias e horários diferentes. “A equipe de cenário montou na
sexta, a de som montou no sábado de manhã, e a de filmagem entrou no
sábado à tarde e já ficou para a live. Não houve aglomeração. Toda a
produção usou máscaras e luvas. Seguimos todas as normas recomendadas
pelo Ministério da Saúde”, declarou.
Já
a cantora Anitta afirmou em seu Instagram que não pretende fazer lives
pois precisaria envolver muitas pessoas no empreendimento. “Para fazer
uma live mara – porque se eu fizer vão ficar todos me comparando com
outras lives – eu tenho que chamar equipe, pessoas. Não dá pra fazer uma
live maravilhosa com cenário, luz, sem ter uma equipe coordenando isso,
com transmissão mara”, disse no Instagram.
Entre 8 e 26 de abril,
foram marcadas 30 lives de artistas sertanejos. Nove delas estão
concentradas em um “festival” de lives da produtora Workshow, no dia 17
de abril. Entre os nomes, participarão as cantoras Marília Mendonça e
Maiara & Maraísa.
Os artistas menores
“Pode ser um
novo formato que vai ficar para os grandes artistas, pois eles conseguem
ganhar dinheiro com isso”, avaliou Dani Ribas, doutora em sociologia da
música pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e diretora de
pesquisa do Datasim e da Sonar Cultural. “Para os pequenos é mais uma
maneira de se comunicar com o público de maneira mais direta. A live
para eles está se transformando na nova esfera pública, muito mais do
que em um novo filão de mercado.”
“Para os menores é um contato
direto com o fã. Enquanto em uma casa de shows você pode tocar para 100
ou 200 pessoas, em uma live pode impactar 2 mil, 3 mil ou 5 mil pessoas
de uma vez. Pode ser bom para o artista e para marcas que querem ter
esse artista por perto”, afirmou Nobre, do Festival Bananada e Grupo
Vegas.
Para Ribas, é preciso entender que a live de música está
concorrendo com o livro e com o filme da Netflix na tentativa de reter a
atenção das pessoas. Nessa competição, é muito difícil para um artista
de menor projeção se sobressair e atingir novos ouvintes.
Ambos
acreditam que é cedo para dizer o que acontecerá com o formato depois
que passar a época de isolamento social. “Na minha opinião,
absolutamente nada é comparável à sensação da música apresentada ao
vivo, num clube pequeno ou num festival onde 5 mil pessoas estão em
transe por causa de um som, da performance, das pessoas em volta”,
ressaltou Nobre.