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Foto Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil |
Apesar
das coberturas vacinais no Brasil estarem em rota de recuperação, as
diferenças entre estados e municípios e os esquemas incompletos ainda
são desafios que ameaçam a saúde pública brasileira. Essas são as
principais conclusões do Anuário VacinaBR, produzido pelo Instituto
Questão de Ciência (IQC), em parceria com a Sociedade Brasileira de
Imunizações (Sbim) o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).



A
publicação mostra que, em 2023, nenhuma vacina infantil do calendário
nacional atingiu a meta de cobertura em todos os estados. O destaque
negativo ficou com os imunizantes que protegem contra a poliomielite,
meningococo C, varicela e Haemophilus influenzae tipo B – nesses casos,
nenhum estado vacinou 95% do público-alvo, porcentagem necessária para
evitar a transmissão dessas doenças.
Além
disso, apenas 1.784 municípios, ou menos de 32% dos mais de 5.570
existentes no Brasil, conseguiram cumprir a meta de cobertura para
quatro vacinas considerados prioritárias: pentavalente, poliomioliete,
pneumo-10 e tríplice viral. O melhor desempenho foi o do Ceará, onde 59%
das cidades imunizaram o público-alvo. No Acre, porém, apenas 5% dos
municípios alcançaram a marca.
"Saúde
é competência concorrente da União, dos estados e dos municípios. O
problema da imunização não pode ser atacado de maneira uniforme, porque a
gente vive em um país de dimensões continentais que tem desafios muito
específicos. E a gente viu, no Anuário, que às vezes tem municípios
adjacentes, com condições muito parecidas, mas com taxas de imunização
muito diferentes", alerta o diretor executivo do IQC e organizador do
Anuário VacinaBR, Paulo Almeida.
Mesmo
a vacina BCG, que protege contra formas graves de tuberculose e deve
ser tomada logo após o nascimento – por isso, muitas vezes, é aplicada
ainda na maternidade – só alcançou a meta de cobertura em oito unidades
federativas. Em 11 estados, a taxa de imunização ficou abaixo de 80%,
alcançando menos de 58% dos bebês no Espírito Santo. Dentro de todos os
estados, há cidades que vacinaram 100% do público-alvo e outras que não
imunizaram nem a metade.
A
diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações, Isabela Balallai,
também destaca o protagonismo dos gestores municipais para aplicar as
recomendações do Ministério da Saúde e a necessidade de seguir o
planejamento estadual, conforme as realidades locais. Isabela lembra que
o maior combustível para a hesitação vacinal é a baixa percepção de
risco, quando as pessoas não sabem, ou não dão valor para o perigo das
doenças preveníveis por vacina.
"O
acesso também é um grande problema no Brasil. Temos 38 mil salas de
vacinação, país nenhum tem isso. Mas se a pessoa vai ao posto e recebe
uma informação errada, ela não volta. Se só funciona em horário
comercial, e ela trabalha, ela não consegue levar os filhos. Se ela vai
num dia, e a vacina acabou, ela não vai consegui voltar em outro dia. A
falta de informação, somada à baixa percepção de risco é igual à não
vacinação", acrescenta a diretora da Sbim.