quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

No Ceará, apelido fez com que surdo fosse acusado por engano no lugar do irmão, suspeito de assassinato


Foto Millin Albuquerque/Defensoria Pública
O cearense Edno Alves Fernandes pode, finalmente, sair de casa sem medo de ser preso e respirar aliviado. É que no dia 06 de fevereiro deste ano ele recebeu a notícia de que foi inocentado de uma acusação por um crime que não cometeu.

O homem de 42 anos, que possui deficiência auditiva desde que nasceu, foi indiciado no lugar de seu irmão, Elionardo Alves Fernandes, suspeito de um crime de assassinato ocorrido em 2014 no Bairro Jardim Bandeirantes, em Maracanaú.

De acordo com os autos do processo, a vítima estava em casa quando dois homens chegaram ao local e o chamaram para ir até um bar. Segundo testemunhas, tratava-se de uma emboscada planejada por um suspeito identificado como 'Eré'. 

'Eré', no entanto, era o apelido de infância do irmão de Edno, mas um equívoco no direcionamento da acusação levou à emissão de um mandado de prisão contra o próprio homem. Elionardo Alves Fernandes, o verdadeiro 'Eré', foi morto em 2015.

O erro só conseguiu ser descoberto quando Maria das Dores, mãe dos dois rapazes, procurou a Defensoria Pública. A defesa ficou a cargo do defensor público Breno Vagner Bezerra Vicente que atua no município de Maracanaú:

"Foi um caso muito importante da atuação da Defensoria em defesa de uma pessoa hipervulnerável. Em 2014, houve o falecimento de uma pessoa e se investigou que se tratava de uma emboscada. A investigação apontava que o apelido de uma das pessoas envolvidas era Erê. Algumas vezes o apelido se atribuiu ao Elionardo, mas também ao Edno. Então, chegaram a ser expedidos mandados de prisão em momentos diferentes em nome dos dois", explicou o defensor.

Desde 2014 havia uma ordem de prisão que poderia ser cumprida a qualquer momento, mas só em 2023 Edno foi formalmente acusado pelo o Ministério Público do Ceará. O órgão chegou a optar pelo arquivamento do caso, mas voltou atrás.

"O que aconteceu, então, é que embora o Ministério Público tenha opinado pelo arquivamento, a polícia depois fez o indiciamento. Então, o Ministério Público acusou o Edno como sendo uma das pessoas que teria o envolvimento na morte dessa pessoa e envolvimento nessa investigação que estava pendente desde 2014. 

A partir daí, ele foi citado. Embora essa ordem de prisão existisse desde 2014, em 2023 é que eles tiveram ciência da existência da ação criminal e da existência do mandado de prisão.", disse Breno Vagner Bezerra Vicente.

Edno é um homem surdo com dificuldade de compreensão na fala. Ele não conhece a Língua Brasileira de Sinais (libras), o que trouxe algumas dificuldades comunicacionais para o processo. Foi a mãe dele quem ajudou em todas as etapas da defesa do filho.

Com informações do G1 Ceará.