Rogério Ceni vai passar a virada de ano vendo o Flamengo bem distante de uma situação confortável. Os dez jogos no comando do Rubro-Negro, completos com o empate sem gols diante do Fortaleza, no último sábado, no Castelão, deixaram o clube apenas na terceira colocação do Campeonato Brasileiro e com o treinador tendo que lidar com uma sombra curiosa para seguir na luta pelo título. Incrivelmente não é a de Jorge Jesus desta vez, mas a de Domènec Torrent.
Mesmo quase dois meses após a sua demissão, o catalão continua sendo assunto nos corredores da Gávea e entre os torcedores do Flamengo. Isso porque o aproveitamento do criticado e demitido catalão é superior ao de Ceni nesta mesma série de jogos iniciais.
Ao todo, Rogério soma quatro vitórias, quatro empates e duas derrotas, com 53,3% dos pontos conquistados. Já Dome teve cinco vitórias, dois empates e três derrotas, com 56,67% de aproveitamento no mesmo período. Dados incômodos, que até alimentam a insatisfação da torcida, mas que são tratados com cautela internamente.
Isso significa que o Rogério corre risco de demissão? Não. Mas é inegável que seu trabalho precisará evoluir em 2021 pois Ceni terá tudo a seu favor: tempo para trabalhar, peças que retornam de lesão nesta pausa no calendário e paciência por parte da diretoria.
O primeiro passo será o clássico diante do Fluminense, no dia 6 de janeiro, no Maracanã, que carrega a missão de apagar a péssima impressão deixada no Castelão, a última deste ano.
— Nesses quase 45, 50 dias que estou aqui, estou tentando resgatar o bom futebol. Claro que quando não se tem a vitória, é natural que a pessoa que está do outro lado desanime um pouco, fique um pouco chateado. Mas vamos continuar trabalhando. Vamos tentar contra o Fluminense, no clássico, a vitória para a gente seguir na briga. Não vamos desistir do título— lamentou o treinador.
Um dos motivos de críticas a Ceni é que, devido às eliminações recentes na Libertadores (nas oitavas de final para o Racing) e na Copa do Brasil (nas quartas para o São Paulo), o Flamengo teve três semanas livres para treinar e não enfrentou surtos de Covid-19 no elenco.
Dome, por outro lado, teve apenas uma semana livre e conviveu com testes positivos de atletas a todo momento — após a viagem para o Equador, onde enfrentou Independiente del Valle e Barcelona pela fase de grupos da Libertadores, o Flamengo chegou a ter 33 atletas contaminados e precisou utilizar uma equipe recheada de atletas das categorias de base diante do Palmeiras, pelo Brasileiro.
A favor de Ceni, é levado em conta que entre as derrotas presentes no levantamento estão duas partidas eliminatórias e decisivas contra o São Paulo na Copa do Brasil. De cara, também enfrentou um mata-mata de Libertadores. Dome não teve jogos de peso parecido, por isso os resultados são relevados. Além disso, a avaliação é que a parte física da equipe foi bastante afetada pelos treinos do catalão, enquanto Rogério busca recuperar a melhor forma.
— Muito difícil fazer avaliação do próprio trabalho. Nós chegamos com jogo logo em seguida, primeiro jogo com o São Paulo na Copa do Brasil. Tentamos resgatar a parte física nos últimos jogos, tentamos crescer. No Brasileiro, são seis jogos com quatro vitórias e dois empates se não me engano. É o que nos restou e vamos lutar até o fim — declarou.
De acordo com o Sofascore, algumas estatísticas evoluíram em comparação ao catalão e dão respaldo a Ceni: o Flamengo cria mais grandes chances de gol (36 a 31), converte mais as oportunidades (31% a 26%) e precisa de menos chutes para marcar (6.9 a 8.5).
Para se ter ideia, os dez primeiros jogos de Jorge Jesus também não foram brilhantes e não fogem da média de Dome e Ceni: o português teve cinco vitórias, três empates e duas derrotas, com 60% de aproveitamento. Paciência será fundamental em 2021, mas Ceni precisa ligar o alerta.