A sirene mal começa a tocar e o corredor de
veículos se abre para dar passagem à ambulância em branco e vermelho.
Cada minuto importa para salvar vidas na proposta do Serviço de
Atendimento Móvel de Urgência (Samu) 192 Ceará, que hoje dá cobertura a
136 municípios de 18 regiões de Saúde, com 13 bases regionais e 52 bases
descentralizadas. Nos últimos cinco anos, o serviço apresenta
crescimento no número de atendimentos e tem, em 2019, considerando o
período de janeiro a outubro, a maior média mensal de suportes a
pacientes.
O Samu alcançou média de 4,5 mil assistências por mês neste ano,
incluindo atendimentos e transferências, número superior às 4 mil
mensais de 2018. Em 2015, o serviço não chegava a 3 mil. A projeção da
Secretaria da Saúde do Estado (Sesa) é que o apoio cresça porque, até o
fim deste ano, o serviço deve estar em todos os municípios.
No mesmo prazo, devem chegar mais 18 ambulâncias com apoio do
Ministério da Saúde. A frota atual é de 132 veículos: 19 Unidades de
Suporte Avançado (USA), duas Unidades de Suporte Intermediário (USI),
107 Unidades de Suporte Básico (USB), duas motolâncias e dois
helicópteros aeromédicos.
O diretor do Samu Ceará, coronel João Vasconcelos, confirma que, com a
ampliação do serviço até o início de 2020, mais profissionais devem ser
chamados para preencher as novas ambulâncias. “É uma coisa que já está
sendo trabalhada”, garante. “A nossa meta é que tenhamos profissionais
sempre bem qualificados para dar um atendimento de excelência ao
paciente. O serviço do Samu é de rua, ele precisa estar bem treinado”.
Descentralização
Até 2008, o serviço existia apenas em Fortaleza e Sobral, cuja gestão
é municipal. Na Capital, 338 profissionais e 37 veículos – incluindo
três bicicletas – dão suporte a acidentes de trânsito, urgências
clínicas e cardiológicas, quedas e violência interpessoal, dentre outros
casos. Em 2017, a média era de 3,6 mil atendimentos mensais. Neste ano,
de janeiro a outubro, o valor subiu para 4,2 mil.
Conforme a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), até o fim de 2020, a
cidade contará com 15 bases descentralizadas, incluindo os terminais do
Antônio Bezerra, Messejana, Siqueira, Parangaba e Conjunto Ceará,
garantindo a distribuição das ambulâncias “em locais estratégicos”.
A nível estadual, o Samu Ceará funciona 24 horas por dia com equipes
formadas por 1.932 profissionais, que prestam socorro em qualquer lugar,
público ou privado, após chamada gratuita feita através do 192.
Conforme a portaria 1.010/2012, do Ministério da Saúde, cada USB deve
ser tripulada por, no mínimo, dois profissionais: um condutor de veículo
de urgência e um técnico ou auxiliar de enfermagem. Em cada USA deve
haver um condutor, um enfermeiro e um médico.
O presidente do Sindicato dos Médicos do Ceará (Simec), Edmar
Fernandes, reconhece os avanços no serviço, mas observa que a cobertura
poderia ser maior. “O Ceará é muito grande, mas aqui em Fortaleza se
concentram leitos de UTIs e cirurgias mais avançadas. Tem pacientes que
saem do interior por isso, e toda essa logística acaba sendo
prejudicada. Se tivessem unidades descentralizadas, os pacientes não
demorariam tanto a serem transferidos”, pondera o médico.
Orientações
Já o coronel João Vasconcelos pontua que, por conta dos dois
aeromédicos disponíveis no Samu Ceará, hoje já se pode dizer que todo o
Estado é coberto. “Hoje, o Samu só não tem cobertura na Região Norte em
relação a veículos, mas o aeromédico cobre”, afirma. Ele também destaca o
investimento das cidades na área do trânsito, o que facilita o
deslocamento das ambulâncias.
Quando o Samu recebe uma ligação, um médico regulador faz o
diagnóstico da situação e inicia o atendimento imediatamente, orientando
o paciente ou a pessoa que fez a chamada sobre primeiros socorros ou a
imobilização das vítimas, dependendo da gravidade do caso. Em situações
graves, o paciente é transferido numa ambulância USA, que simula uma
Unidade de Tratamento Intensivo (UTI).
Trotes
Os médicos reguladores do Samu não estão imunes a brincadeiras de mau
gosto, os conhecidos trotes. Só em 2019, de janeiro a outubro, foram
efetuadas 29.684 ligações à central. A média é de 2.968 trotes por mês,
ou 98 por dia – quatro por hora, ou um a cada 15 minutos. Para Edmar
Fernandes, presidente do Simec, as ligações são um “risco de vida”.
Embora o número seja alto, o coronel João Vasconcelos diz que houve
redução de cerca de 50% nos registros, nos anos de 2017 e 2018. O fato
pode ser atribuído a campanhas realizadas em escolas, com crianças e
adolescentes. “São pessoas que não percebem que podem prejudicar alguém
da família deles, porque uma ambulância de urgência sai pra atender a
uma brincadeira em vez de um fato real”.
O próprio serviço se organiza para blindar os trotes. Além de
treinamentos com os telefonistas, um sistema registra os números que
mais efetuam ligações. “O profissional acaba tendo um cuidado maior”,
explica. Os casos também são encaminhados para a Polícia Civil para
apuração. Passar trote é crime.