Seguindo o avanço do valor da carne bovina,
que desde agosto acumula alta de 30% nos açougues cearenses, os preços
de aves e ovos também devem aumentar já nas próximas semanas. “Nós vamos
ter impacto em todos os segmentos. Primeiramente, o consumidor busca a
carne mais barata, mas o preço das aves também vai subir”, prevê
Francisco Everton da Silva, presidente do Sindicato do Comércio de
Carnes Frescas do Ceará (Sindicarnes-CE).
O movimento acontece em razão da maior procura das pessoas por outras
opções de proteína animal, como aves ou ovos, para fugir do aumento dos
altos valores da carne vermelha – é de se esperar, portanto, que haja
reajuste nos preços desses itens, principalmente nesta época de fim de
ano. “A verdade é que todos esses produtos vão subir exageradamente em
relação ao ano passado”.
Até o fim do ano, o presidente do Sindicarnes-CE estima que a alta da
carne bovina pode chegar a 40% no Estado. O efeito do valor da carne
vermelha sobre o do frango e também do peixe está sendo analisado pelo
Ministério da Agricultura. A avaliação da Pasta é de que o preço da
carne deverá se estabilizar em um patamar, influenciado diretamente pelo
custo internacional da proteína.
Hoje, o preço da arroba do boi gordo (o equivalente a 15 quilos de
carne) oscila entre US$ 40 e US$ 50. Se considerada a cotação desta
sexta-feira (29), com o dólar a R$ 4,23, a arroba do boi chega a custar
até R$ 201. Ou seja, para o Ministério da Agricultura, o preço da carne
deve se estabilizar nesse patamar.
O aumento se deve a uma conjunção de fatores, diz Silva, entre os
quais o crescimento da demanda do mercado da China, que mais do que
dobrou o volume de importação da carne brasileira. “Este ano está sendo
atípico porque, além do período da entressafra do boi, estamos vivendo o
momento de maior exportação do Brasil nos últimos dez anos. A China
aumentou em 110% a importação de carne do Brasil devido à peste suína, e
essa recuperação é lenta”.
Além disso, o presidente do Sindicarnes-CE diz que outros
concorrentes do Brasil no segmento estão com dificuldades para atender à
demanda externa. “A Argentina está em crise e a Austrália enfrenta uma
forte estiagem, por isso essa agressividade de mercados como o da China,
Rússia e Arábia Saudita. Todos esses países dobraram suas importações, o
que elevou os preços no mercado internacional. E, com o dólar do jeito
que está, o produtor nacional quer (vender) no mercado externo”, explica
Silva.
Na quinta-feira (28), a ministra da Agricultura, Tereza Cristina,
afirmou em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo que, além do efeito
das exportações, é preciso considerar fatores internos, como o preço
nacional cobrado pelo pecuarista, que estava sem reajuste há três anos,
sem esquecer da seca prolongada, que mexeu com a produção do boi gordo.
“Sabemos que essa situação decorre de uma conjuntura de fatores. Agora, a
arroba não vai baixar mais ao patamar que estava”, disse.
Abastecimento
Apesar do aumento do preço, o Governo Federal afasta a possibilidade
de que haja qualquer risco de desabastecimento de carne no mercado
nacional, uma vez que o Brasil conta hoje com um rebanho de 215 milhões
de cabeças de gado, número superior ao da população do País.
“Realmente, o mercado chinês mexeu com as exportações, e não só da
carne brasileira, mas da carne argentina, paraguaia, uruguaia. É muito
grande a necessidade da China”, disse a ministra da Agricultura. “Além
de o Brasil abrir as exportações, temos de lembrar que o boi tinha um
preço represado há três anos”, apontou a ministra. “Antes, o produtor
vendia uma arroba por R$ 140, em média. O que aconteceu é que, nesse
primeiro momento de abertura, com a China pagando um preço muito bom,
houve esse momento, digamos, de euforia”.
Inflação
O aumento do preço da carne bovina também foi um dos principais
fatores de pressão sobre a inflação dos produtos industriais na porta de
fábrica nos últimos três meses, segundo Alexandre Brandão, gerente de
análise e metodologia da coordenação de indústria do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O Índice de Preços ao Produtor (IPP), que inclui preços da indústria
extrativa e de transformação, registrou aumento de 0,64% em outubro, o
terceiro consecutivo, conforme divulgou o Instituto nesta sexta-feira
(29). Com alta de 2,12% – a maior desde junho de 2018 – os preços dos
alimentos exerceram a principal influência sobre o resultado geral da
indústria (0,47 ponto porcentual).
Com o resultado de outubro, o setor de alimentos já acumula alta de
4,17% no IPP em 2019. Os destaques são justamente “carnes de bovinos
frescas ou refrigeradas” e “produtos embutidos ou de salamaria de suíno,
exceto pratos prontos”. Se somados “rações e suplementos para animais” e
“carnes de bovinos congeladas”, os quatro produtos tiveram influência
conjunta de 1,78 ponto porcentual na alta dos alimentos no mês de
outubro.
Diário do Nordeste