"O que houve foi uma substancial queda da receita recebida até agora no
ano de 2017 e a mudança consequente para a previsão de 2017. 2018
também é resultado da queda de arrecadação prevista", justificou
Henrique Meirelles.
A alteração das metas na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) precisa
ser aprovada pelo Congresso Nacional. Em 12 meses encerrados em junho, o
déficit primário ficou em R$ 167,198 bilhões, o que corresponde a 2,62%
do Produto Interno Bruto (PIB), a soma de todos os bens e serviços
produzidos no País, de acordo com dados do Banco Central (BC).
Originalmente, a meta de déficit estava fixada em R$ 139 bilhões para
este ano e em R$ 129 bilhões para 2018. No entanto, a arrecadação ainda
em queda, e uma série de frustrações de receitas dificultaram o
cumprimento da meta original.
O aumento do déficit permitirá ao governo, que encontra dificuldades
para subir suas receitas, libere gastos congelados e evite a paralisação
de serviços públicos. Para financiar as despesas, será necessário tomar
recursos emprestados, o que fará aumentar a dívida pública. O governo
também revisou as projeções para 2019 e 2020. Para 2019, a estimativa de
déficit passou de R$ 65 bilhões para R$ 139 bilhões. Em 2020, o
resultado passou de superávit de R$ 10 bilhões para déficit de R$ 65
bilhões. Meirelles justificou o aumento das metas de déficit fiscal
também em 2019 e 2020 pela revisão dos saldos dos dois anos anteriores.
Com uma base menor nas receitas, a expectativa passa a ser de
arrecadação menor também nos anos seguintes.
PIB e inflação
A equipe econômica revisou ainda para baixo as projeções para o PIB e a
inflação em 2018 em relação aos parâmetros definidos na LDO de 2018. A
previsão de crescimento caiu de 2,5% para 2%. Em relação ao Índice
Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a projeção passou de 4,5%
para 4,2%. Os números para 2017 - crescimento de 0,5% do PIB e inflação
oficial de 3,7% - foram mantidos. Segundo cálculos do governo, o ritmo
menor de aumento de preços vai provocar sozinho uma frustração de R$ 19
bilhões na arrecadação deste ano. Em 2018, o efeito é ainda mais
intenso, com perda de R$ 23 bilhões entre receitas de tributos e da
Previdência Social.
"A desaceleração da inflação é boa notícia para o País e para atividade
no futuro, mas tem efeito importante agora, que é exatamente uma
mudança na expectativa de arrecadação", disse Meirelles. Quando a
inflação fica menor, os preços da economia sobem menos, afetando a
arrecadação de tributos.
O ministro disse que no momento da fixação da meta fiscal de 2017, em
julho de 2016, o Boletim Focus apontava projeções de 5,4% para a
inflação neste ano. Em 10 de julho deste ano, essa estimativa já era de
3,28%. Agora, essa previsão é de 3,5%.
Crédito
Além da inflação menor, o aumento da provisão para perdas de crédito do
sistema financeiro também afeta a arrecadação de tributos. "Isso ocorre
à medida que há endividamento maior das empresas, resultado da recessão
muito forte durante dois anos. Então, temos esse aumento de projeção de
perdas, temos maior problema das empresas com efeito maior nos bancos e
na capacidade das empresas de pagar impostos", explicou Meirelles Na
análise apenas dos impostos pagos pelo sistema financeiro, a queda foi
substancial, destacou o ministro. De julho do ano passado até agora, o
recuo nessas receitas foi de 46%.
O que eles pensam
Planalto reconhece desequilíbrio
"As novas metas são um reconhecimento explícito de que as receitas
não serão suficientes e que a política de contenção de gastos não tem
funcionado. As agências de classificação de risco baixaram a nota do
Brasil nos últimos anos, e um dos elementos mais importantes é o
desequilíbrio fiscal. Podemos ter brevemente mais um rebaixamento de
nota e aumento de impostos. O governo está sempre negociando com o
Congresso, e essa 'moeda de troca' acaba dificultando o ajuste fiscal".
Ricardo Eleutério
Vice-presidente do Corecon-CE
"O governo acabou apresentando um número menor do que o que se
falou inicialmente, de R$ 170 bilhões, mas o aumento do déficit mostra a
dificuldade se aumentar a arrecadação e de cortar gastos. Essa
dificuldade vai fazer com que o governo precise se endividar ainda mais.
O buraco desse déficit já está precificado pelas agências de ratting,
mas o aumento de impostos vai ter que acontecer em algum momento. Para
aumentar a arrecadação, diante da economia ainda fraca, o governo terá
que aumentar tributos".
Ênio Arêa Leão
Vice-presidente do Ibef-CE
"Já se tinha essa expectativa do governo de não cumprir as metas
fiscais, mas o governo poderia dar um exemplo muito maior e cortar
despesas na área de pessoal, de ministérios, de benefícios dos
servidores. O governo tem que mostrar que está cortando 'na pele'. Na
forma como o governo está enfrentando essa questão, de não efetivamente
cortar despesas, ele vai ter que aumentar impostos. Ele teria como fazer
isso sem necessitar de ir ao Congresso, por exemplo, com aumento de
IOF".
Henrique Marinho
Economista
Economista