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Foto Natinho Rodrigues/ Arquivo/ Opinião CE |
Nos
últimos 30 anos, o Brasil perdeu quase toda a sua população de
jumentos, uma redução de 94%. Dados do Ministério da Agricultura e
Pecuária (Mapa) apontam que 248 mil animais foram abatidos entre 2018 e
2024, principalmente na Bahia, onde estão os três frigoríficos
autorizados pelo Serviço de Inspeção Federal (SIF) para esse tipo de
atividade. A maior parte da demanda vem da indústria chinesa de ejiao —
suplemento feito com colágeno retirado da pele dos jumentos e amplamente
comercializado na Ásia para aumentar a vitalidade..
O
impacto é drástico. Em 1999, o rebanho brasileiro somava 1,37 milhão de
jumentos. Hoje, restam cerca de 78 mil, segundo dados da Organização
das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Sistema de
Estatísticas de Comércio Exterior do Agronegócio Brasileiro (Agrostat),
vinculado ao Mapa. Isso equivale a apenas seis animais para cada cem que
existiam há três décadas. O país caminha para a extinção da espécie,
caso nenhuma medida seja tomada com urgência.
Para
discutir soluções, acontece entre esta quinta-feira (26) e sábado (28),
em Maceió, capital de Alagoas, o 3º Workshop Internacional – Jumentos
do Brasil: Futuro Sustentável, promovido pela Universidade Federal de
Alagoas (Ufal) com apoio da ONG britânica The Donkey Sanctuary. O evento
marca o lançamento nacional do relatório Stolen Donkeys, Stolen Futures
e da campanha global Parem o Abate (Stop The Slaughter em inglês).
Duas
propostas de lei que proíbem o abate de jumentos tramitam no Brasil: o
PL 2.387/2022, no Congresso Nacional, que já passou pela Comissão de
Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados; e o
PL 24.465/2022, na Assembleia Legislativa da Bahia, também aprovado na
CCJ e aguardando votação em plenário.
“O
jumento nordestino tem um perfil genético único, adaptado ao Semiárido.
Sua extinção seria uma perda irreparável para a biodiversidade e para
as comunidades que dependem dele”, afirma Patricia Tatemoto,
coordenadora da campanha da The Donkey Sanctuary no Brasil. Já o
agrônomo Roberto Arruda defende tecnologias alternativas. “A fermentação
de precisão já permite produzir colágeno em laboratório, sem uso
animal. É uma chance de o Brasil liderar um modelo mais ético e
sustentável”, informa.