O juiz destacou na sentença que "o crime foi cometido porque a vítima pensava diferente. Porque ousou exercer um direito constitucional - o de livre manifestação do pensamento - e por isso, tornou-se alvo de ódio, intolerância e morte"
O Tribunal do Júri decidiu condenar Edmilson Freire da Silva por matar a facadas Antônio Carlos Silva de Lima, eleitor de Lula, em uma discussão política. Edmilson foi condenado a 12 anos e seis meses de prisão, em regime fechado e sem direito de recorrer em liberdade.
A decisão foi proferida nessa segunda-feira (23), na 1ª Vara da Comarca de Cascavel. O crime aconteceu dentro de um bar, às vésperas da eleição presidencial em 2022. O réu estava com uma faca e teria chegado no local gritando: "quem é Lula aqui?".
Durante o júri, o réu sustentou que agiu em legítima defesa. Na sentença, o magistrado destacou que "o crime foi cometido porque a vítima pensava diferente. Porque ousou exercer um direito constitucional - o de livre manifestação do pensamento - e por isso, tornou-se alvo de ódio, intolerância e morte".
Nos debates, o promotor de Justiça pediu a condenação do réu pelo crime de homicídio qualificado por motivo torpe e a defesa representada por defensor público pediu a desclassificação para o crime de homicídio simples e em seguida lesão corporal.
"A intolerância política, quando degenera em violência, representa uma afronta à própria civilização. É sintoma de tempos sombrios, em que o discurso cede lugar à agressão, em que o voto é substituído pela violência, e respeito pela diferença dá lugar à eliminação do diferente"
Edmilson foi pronunciado pelo crime de homicídio qualificado no ano passado. Na época, o juiz decidiu pela manutenção da liberdade provisória com medidas cautelares, porque "até o momento não se teve notícias sob o possível descumprimento de qualquer uma delas (medidas cautelares)"
'QUEM É LULA AQUI?'
A vítima gritava, pedindo para não morrer, enquanto era atacada. Antônio Carlos não tinha antecedentes criminais e chegou a ser socorrido por populares, mas morreu durante atendimento médico, segundo a Polícia Civil do Ceará (PC-CE).
"Testemunhas, que são a principal fonte de provas, de indício de autoria do crime, informam que por conta de uma discussão fútil por conta de divergências políticas, o infrator teria esfaqueado a vítima. Na verdade, a vítima era conhecida na região por defender um lado político, uma opinião política, e o infrator chegou para realizar o consumo de bebidas alcoólicas no local. Ao chegar vendo aquela pessoa expressando aquela opinião política, em menos de cinco minutos, houve as agressões e a morte. Ele portava uma faca e com essa faca ele esfaqueou a vítima", disse o delegado Josafá Araújo Carneiro Filho, ainda no dia do crime.
"Na sequência, acusado e vítima começaram a discutir em razão das preferências político-partidárias antagônicas e entraram em vias de fato, sendo que, em dado momento, Edmilson puxou uma faca que portava consigo e desferiu três facadas na vítima Antônio Carlos"
Dois dias após o assassinato, o suspeito foi alvo de um mandado de prisão, expedido pela Justiça Estadual e cumprido dentro da Delegacia Municipal de Cascavel, quando Edmilson foi prestar depoimento sobre o crime.
Já na delegacia, o acusado chegou a dar uma versão diferente do fato. Ele teria dito que chegou no bar e Antônio Carlos perguntou em quem ele votava. Os dois começaram a discutir e ele disse que a vítima tentou estrangulá-lo. Ele afirmou que reagiu e esfaqueou Antônio Carlos. Na época, fonte da Polícia Civil disse que a versão do suspeito era totalmente contrária à das testemunhas do caso.
FONTE DIÁRIO DO NORDESTE