Seja
numa xícara de café ou num bom feijão verde – ambos apreciados pelo
cearense – há a presença do ácido clorogênico. Essa substância foi
analisada por pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade
Federal do Ceará (UFC) como potencial de reduzir déficits de memória,
sendo um dos possíveis caminhos para o tratamento contra a doença de
Alzheimer.Foto: Shutterstock
Os
detalhes foram reunidos no artigo “Efeito Neuroprotetor do Ácido
Clorogênico em um Modelo Animal da Doença de Alzheimer Esporádica
Induzida por Estreptozotocina”, publicado pela revista internacional
Molecular Neurobiology, em junho deste ano.
A
iniciativa recebeu ainda menção honrosa no 48º Congresso da Sociedade
Brasileira de Imunologia, em setembro deste ano, em Fortaleza.
O
ácido clorogênico é um polifenol, em outras palavras, um composto
presente em plantas e frutas, com três importantes efeitos: ação
neuroprotetora, antioxidante e anti-inflamatória. A substância também
está presente na casca da maçã e da pera e no agrião, por exemplo.
A
partir dessa evidência, a ideia dos pesquisadores foi avaliar se o
ácido clorogênico tem o potencial de diminuir os efeitos da doença de
Alzheimer. “Nós testamos quatro tipos de memória e o ácido melhora
todos”, resume Geanne Matos de Andrade, professora do Departamento de
Fisiologia e Farmacologia da Famed.Memória de trabalho: usada para
guardar a informação de onde você estacionou o carro
Memória espacial: serve para lembrar do caminho até o trabalho
Memória de reconhecimento: utilizada para identificar amigos e familiares
Memória aversiva: ativada quando há uma experiência traumática, como um assalto
O
primeiro passo foi induzir os sintomas da doença em camundongos para
iniciar o tratamento com a substância. Entre os resultados, o grupo
registrou uma proteção contra a morte de neurônios dos camundongos e a
diminuição da neuroinflamação causada pela doença.
Também
foi notado o aumento do Fator Neurotrófico Derivado do Cérebro (BDFN,
na sigla em inglês). Essa é uma proteína importante para o
desenvolvimento, crescimento e manutenção dos neurônios.
O estudo foi feito com a substância isolada – inclusive já usada comercialmente como termogênico conhecido como café verde.
“O
café verde é o que tem mais ácido, porque conforme vai torrando o grão
vai perdendo a substância”, exemplifica sobre a substância mais usada
nos lares brasileiros.
Mas
um dos pontos centrais do estudo é mostrar que a alimentação adequada e
a prática de exercícios físicos protegem o cérebro. Isso porque há uma
relação, por exemplo, entre a diabetes e o Alzheimer.
“Quando
a pessoa fica idosa, muitos médicos tiram o café por causa da gastrite e
pra não perder o sono, mas alguns estudos mostram que quem mais toma
café diminui as doenças de demência”, acrescenta Geanne.