Irmãos contam o que mudou na rotina da família e citam episódios de preconceito
Na vida temos muitas surpresas, porém nem sempre estamos suficientemente preparados para encarar cada uma delas. Em 2018, os irmãos Pablo, de 36 anos, e Vinícius Charife, de 28 anos, receberam a inesperada notícia de que sua mãe, Rose Monte Charife, teve um acidente vascular cerebral (AVC) e teria sequelas irreversíveis. “Em um primeiro momento o susto, depois o amor”, conta a dupla.
Gays, eles afirmam que os gestos de procupação e entrega no cuidado com a mãe é um incômodo aos preconceituosos: “Saber que somos gays e damos amor e tudo do bom e do melhor à nossa mãe é intragável a um homofóbico”, diz Pablo.
Os irmãos tiveram que modificar as suas rotinas e desenvolverem novas habilidades para cuidar da genitora, inclusive abdicando temporariamente de um relacionamento.
“Em uma semana, deixamos a função de filho, e passamos a ser chefe de casa e cuidadores. Passamos a ter responsabilidade sobre uma pessoa, o que era inédito para nós”, conta Pablo, que é gerente comercial, em Rio Branco, no Acre. “Ninguém nos deixa pronto para enfrentar os desafios, e a gente vai aprendendo com o tempo. Hoje, conhecemos desde o colchão ideal até a melhor pomada, passando pelo iogurte que auxilia no funcionamento do intestino”.
Além do aprendizado, é necessário organização, pontua Vinícius ao explicar sobre a rotina. O caçula afirma que há na porta da geladeira da casa um calendário com o plantão de 24 horas que cada um faz aos sábados. Eles se revezam e se adaptam àquela que é a “prioridade” da família.
Dentre as dificuldades elencadas pela dupla, está o cuidado constante e prolongado, pois a mãe, segundo eles, é um “bebê grande”.
“Quando um bebê nasce, ele tem fases muito difíceis no primeiro, segundo, terceiro mês. Porém o bebê vai crescendo e aprendendo a andar, falar, e, enfim, descobrindo o mundo. Essa é a forma natural, a pessoa vai se desenvolvendo, mas, no nosso caso, a gente cuida de um bebê em um corpo de adulta, que não se desenvolve”, esclarece.
Sexualidade e barreira religiosa
Além dos desafios no cuidado com a mãe, os irmãos precisam encarar o preconceito contra sua orientação afetiva sexual. Rose é pastora e teve dificuldade de aceitar a orientação sexual do primeiro filho, quando ele se assumiu. Atualmente, os irmãos dizem que ela demonstra um certo desconforto e angústia com a situação, mas por não poder participar e apoiar os seus filhos na vivência de sua sexualidade.
Já acerca da religiosidade, há algumas rusgas. Nenhum dos dois frequentam a igreja e afirmam que há um certo olhar discriminatório entre os religiosos para com eles.
“Desde os quatro anos, eu acompanhava minha mãe na igreja. Era uma liderança e ficava sentado mais no púlpito, do que junto à assembleia. Não me converti, nasci convertido praticamente. E hoje eu tenho muitos questionamentos espirituais sobre a concepção e definição de Deus”, partilha Vinícius que estudou jornalismo.
FONTE TERRA