quinta-feira, 9 de maio de 2024

Chuvas no RS elevam preços de arroz, embutidos e carnes no Ceará

Enchentes comprometeram produção e distribuição de itens dos principais polos produtores do Rio Grande do Sul e impacto econômico já é observado. Mas não há risco de desabastecimento
Polos produtores do Sul foram atingidos pelas fortes chuvas
Polos produtores do Sul foram atingidos pelas fortes chuvas Crédito: Wenderson Araujo/CNA

As fortes chuvas que atingem o Rio Grande do Sul deixando mortos e desabrigados devem resultar em aumento de preços em alguns produtos vendidos no Ceará. O impacto já é observado, especialmente, no arroz. Mas, nas próximas semanas, é esperada uma elevação em outros grãos, embutidos e carnes.

Mas não há risco de desabastecimento e racionamento de itens, segundo asseguraram o analista de mercado da Companhia de Abastecimento do Ceará (Ceasa), Odálio Girão, e o presidente da Associação Cearense dos Supermercados (Acesu), Nidovando Pinheiro, em entrevista ao O POVO.

O motivo do aumento é a devastação sobre a produção em municípios onde estão localizados polos produtores ou distribuidores. Os municípios de Dona Francisca, Itaqui, Santa Vitória do Palmar e São Borja, cita Odálio, foram impactados e, por isso, o fornecimento de arroz na Ceasa já foi abalado.

Arroz e outros grãos mais caros

"Nós já tivemos um aumento. O arroz estava a R$ 4,75 (o quilo) e passou para R$ 6, um acréscimo de 4,35%. Já é efeito das chuvas", calculou o analista de mercado da Ceasa.

O impacto sobre o preço do item, diz ele, é inevitável, uma vez que 80% do arroz consumido em todo o Brasil - e não só no Ceará - tem origem no Rio Grande do Sul. Os armazéns também não são suficientes para reter carga capaz de amortecer a demanda, o que causa o reflexo imediato nos preços.

Além disso, outros grãos também produzidos naquele estado, vão sofrer impacto das chuvas na produção e distribuição. Logicamente, o preço vai aumentar. São eles:

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  • Feijão de corda;
  • Milho;
  • Soja.

"Todos esses grãos vão ser majorados nas próximas semanas. Não deve chegar a 10% porque há outros estados que devem atuar", afirmou, alertando que o impacto sobre milho, soja e feijão deve ser menor pela capacidade de produção de Goiás, Paraná, São Paulo e Minas Gerais de atender o mercado nacional com esses itens.

Odálio afirma que a estratégia já anunciada pelo Governo Federal de importar arroz para diminuir os efeitos no mercado nacional deve surtir efeito. A origem das cargas, aponta, devem ser:

  • Argentina;
  • Chile;
  • Peru;
  • Índia;
  • China;
  • Tailândia

Embutidos e carnes

O analista de mercado da Ceasa considera que embutidos, como linguiça e salsicha, e carnes, especialmente a de frango, devem ser impactados pelas chuvas no Rio Grande do Sul também.

“É um efeito em cascata ou dominó, porque os animais consomem os grãos afetados e a produção de carne suína, dos embutidos, é muito forte naquela região”, apontou. Da mesma forma é esperada uma alta nos preços das partes dos frangos como resultado do mesmo efeito cascata.

Um ano para normalizar abastecimento

Perguntado quando o fornecimento desses grãos deve ser normalizado, Odálio aponta para um horizonte de quase um ano, após o fim de três safras.

“Na primeira safra que vai acontecer não dá para normalizar ainda. Lá para a terceira safra é que vamos ter uma recuperação maior para aqueles grãos. É preciso que tudo se acalme nessa parte climática e não sabemos quais poderão ser os efeitos sobre outros estados”, analisou.

Mais desequilíbrio ambiental em áreas produtoras como o Rio Grande do Sul, alerta ele, podem trazer mais impacto para o mercado e, consequentemente, para a economia do País como um todo, a partir da diminuição de produtos e a elevação de preços.

Frutas frescas não são afetadas

Odálio informou, no entanto, que as frutas frescas cujas produções têm no Rio Grande do Sul o principal polo não vão sofrer nem variação de preço nem desabastecimento.

Os itens, revelou, são:

  • Maçã
  • Uva
  • Pêssego nectarina
  • Caqui

A explicação está no armazenamento das cargas nas câmaras frigoríficas da Ceasa, com capacidade de preservar 5 toneladas.

"Elas asseguram a qualidade por uns três meses, garantido, sem nenhum problema. Além disso, há cidades de Santa Catarina e São Paulo que podem substituir os produtos gaúchos, além de vir da Argentina e do Chile por avião também", comentou.

Supermercados calculam impacto

Nidovando Pinheiro, presidente da Associação Cearense de Supermercados (Acesu), afirma que não há risco de desabastecimento no mercado cearense devido aos desastres provocados pelo desequilíbrio climático. No entanto, novos preços devem ser praticados entre dez e 15 dias.

"Estava no fim da safra, praticamente, eles tinham colhido de 80% a 90% da colheita. Mas centros de distribuição de algumas arrozeiras foram afetados", contou sobre a situação atual dos parceiros comerciais.

O presidente da Acesu revelou ainda que algumas empresas suspenderam as vendas por falta de produto, enquanto outras já afirmaram que não vão dispor do arroz branco, oferecendo outro tipo para o negócio.

Alguns dos fornecedores, disse, têm cargas em trânsito cujos preços serão negociados só após o desembarque nos portos. Nestes casos, o valor também deve ser elevado, vide ser a única carga à disposição.

Aumento abaixo dos dois dígitos

Perguntado sobre quanto a crise deve resultar em aumento nos preços para os cearenses nas gôndolas dos supermercados, Nidovando afirmou que "não deve chegar a dois dígitos" de elevação, mas deve ser algo significativo.

Além do arroz, ele admite também que embutidos, como linguiças e salsichas, e alguns tipos cortes de carnes prontos devem ter alta nos preços.

Já sobre como os supermercados se preparam para o cenário futuro, ele afirmou: "Olha, eu acredito que é coisa de 30 dias para a gente ter aí um realmente saber que ter uma ideia como é que vai ficar e também depende também muito da chuva vai se comportar lá no Sul."

FONTE O POVO