sexta-feira, 30 de julho de 2021

Variante Delta é identificada pela primeira vez no Ceará, confirma Secretaria da Saúde

Enfermeiro conduzindo teste de coronavírus em laboratório
Legenda: Variante Delta já foi identificada em pelo menos outros 12 estados em todo o Brasil Foto: arquivo

A Secretaria da Saúde do Estado (Sesa) informou, nesta quinta-feira (29), que quatro casos da variante Delta da Covid-19 foram identificados no Ceará. Os viajantes, oriundos do Rio de Janeiro, foram testados entre os dias 19 e 21 de julho, no Aeroporto de Fortaleza. São três mulheres e um homem, com idades entre 22 e 26 anos.

A pasta informa que os casos - os primeiros confirmados no Estado - e seus respectivos contatos são monitorados. A recomendação é de que todas as pessoas presentes nos voos listados abaixo realizem quarentena de 14 dias. São eles:

  • Voo Gol 2021 de 19/7/2021 – Rio de Janeiro → Fortaleza
  • Voo Latam 3383 de 20/7/2021 – Rio de Janeiro → Fortaleza
  • Voo Azul 4763 de 21/07/2021 – Rio de Janeiro → Fortaleza

 

Os demais passageiros e tripulantes também devem entrar imediatamente em contato com o Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (Cievs/CE) pelo número (85) 98724-0455 (das 9h às 17 horas) ou comparecer para realização do exame RT-PCR no Laboratório Central de Saúde Pública do Ceará (Lacen). 

O local já possui a lista com os nomes de quem estava nas aeronaves.  

"A Sesa e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) estão realizando busca ativa na lista dos passageiros e tripulantes de três aeronaves vindas do Rio de Janeiro, onde estavam os quatro viajantes que testaram positivo para a variante originária da Índia", informou a pasta, em nota. 

Além da Delta, outras mutações da cepa do coronavírus foram identificadas nas 17 amostras positivas para a Covid-19 já coletadas no Aeroporto de Fortaleza e analisadas pela Fiocruz. Dentre elas, a Gama, encontrada inicialmente no Brasil, em Manaus. 

Ao comunicar a confirmação dos quatro casos, o governador Camilo Santana (PT) frisou a necessidade de manter os cuidados para evitar a contaminação da doença:

"Informo que as barreiras sanitárias estão sendo reforçadas nas rodoviárias de Fortaleza e Interior, além da ampliação de 5% para 20% das coletas por amostragem no Centro de Testagem do Aeroporto", disse, nas redes sociais.

“Reforço a importância de seguirmos mantendo todos os cuidados, como usar sempre a máscara”, completou.

Também nas redes sociais, o prefeito de Fortaleza, Sarto Nogueira (PDT), reforçou que o Município está atento à confirmação da variante Delta no Ceará. "Para prevenir contágios, é muito importante que todos continuem cumprindo protocolos sanitários, obedecendo ao que determinam os decretos municipal e estadual", frisou.

"O Município participa da equipe de coleta de exames no Aeroporto Internacional Pinto Martins, monitora casos positivos e rastreia contactantes, orientando isolamento e necessidade de assistência médica. Mantemos unidades sentinelas em todas as regionais de saúde com coleta diária de exames, a fim de identificar vírus circulantes", destacou o prefeito, ressaltando que, desde a flexibilização econômica após a primeira onda, as equipes "já rastrearam e monitoraram mais de 26 mil pessoas".

Perfil dos passageiros infectados

Segundo a Sesa, os quatro passageiros, sendo três mulheres e um homem com idades entre 22 e 26 anos, são moradores de Fortaleza (dois), Caucaia e Itapipoca. Eles desembarcaram em três voos diferentes, oriundos do Rio de Janeiro, entre os dias 19 e 21 de julho.

O pesquisador Fábio Miyajima, coordenador da Rede Genômica da Fiocruz Ceará, explica que, apesar de estarem em aeronaves distintas, os quatro diagnosticados com a variante têm em comum a passagem pelo Aeroporto Internacional Galeão, no Rio de Janeiro, na semana passada. 

Três deles apresentaram sintomas e um foi assintomático. As pessoas examinadas no Centro de Testagem de Viajantes do Aeroporto são escolhidas de forma aleatória. 

Além de manter a quarentena, eles deverão fazer novas coletas para medição de carga viral, potencial de transmissão e estudo de anticorpos.

movimento no aeroporto de fortaleza
Legenda: Variante foi identificada em passageiros que desembarcaram no Aeroporto de Fortaleza Foto: Kid Jr.

Cuidados para evitar a transmissão comunitária

Fábio Miyajima acrescenta que as autoridades de saúde têm fortalecido a vigilância epidemiológica, no Ceará. Neste momento, o foco é impedir a transmissão comunitária como houve com variante brasileira do coronavírus, denominada P1

A transmissão comunitária é quando o vírus está mais disseminado e já não é possível rastrear o caso que originou as infecções

“Saímos de um modelo passivo, reativo para um proativo, mais em tempo real. Se tivéssemos essas mesmas condições quando a variante P1 foi introduzida no Ceará, talvez, estivéssemos numa situação melhor”, avaliou. 

“Mas não temos como voltar no tempo. Estamos tentando aprender, realizando um monitoramento mais ativo e o rastreio para que se evite a transmissão comunitária e que se espalhe pelos municípios e bairros da Capital”, completou. 

Segundo o especialista, as testagens ocorridas no Aeroporto integram um fluxo de prioridade para evitar a importação de variantes. Assim,  as amostras são analisadas em tempo mais célere, de uma semana a 10 dias. 

Testagem no Aeroporto 

Desde o último dia 12, passageiros são submetidos a testes rápidos de detecção da Covid-19 no Aeroporto de Fortaleza. 

As análises são feitas de forma conjunta pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), pelo Centro de Hematologia e Hemoterapia do Ceará (Hemoce) e pelo Lacen. 

Como medida preventiva, no momento em que são positivados pelo teste rápido de antígeno, ainda no aeroporto, os passageiros são orientados pela Sesa a cumprir o isolamento.

Até o momento, outros 12 estados já divulgaram casos da nova cepa no País. Na segunda-feira (26), o Ministério da Saúde informou 169 casos da variante Delta no Brasil. 

O que é a variante Delta?

Identificada pela primeira vez em dezembro de 2020, a nova cepa do coronavírus é uma das versões do vírus, que faz mudanças consecutivas para adaptação no corpo humano.

Rapidamente, a variante Delta, definida como a mais transmissível do SARS-CoV-2, se tornou a principal pelo mundo. Segundo cientistas, ela é 50% mais rápida que a primeira variante, a alfa.

Quais os sintomas da variante Delta?

Conforme o pesquisador David Straim, da faculdade de Medicina da Universidade de Exeter, no Reino Unido, os sintomas desta cepa são muito semelhantes ao de uma gripe.

Já o chefe do Centro de Medicina Social da Universidade Jawaharlal Nehru, em Nova Delhi, Rajib Dasgupta, conta que também não é possível distingui-la das demais variantes da Covid-19.

"Todas as infecções causadas pela Covid começam como uma doença viral leve", explicou ele em entrevista concedida ao portal G1.

Apesar dos sintomas semelhantes, faixas etárias distintas podem sentir a variante de formas diferentes. Em crianças, por exemplo, diarreia, coriza, febre e mal-estar são os sintomas mais comuns.

Em adultos e idosos, eles ainda podem surgir por meio dos sintomas comuns da Covid-19, como falta de ar ou tosse.

As vacinas são eficazes contra a variante Delta?

A pesquisa mais recente sobre a questão foi lançada na última quarta-feira (21), administrada por pesquisadores do Sistema de Saúde do Reino Unido, da Universidade de Oxford e do Imperial College London.

Dados apontam que, já na primeira dose, as vacinas da Pfizer/BioNTech e da AstraZeneca apresentam resistência contra a nova cepa.

Nesse caso, a taxa de eficácia é de 30,7% para ambas, com uma variação de 25,2% a 35,7%.

Com duas doses, entretanto, os números sobem. A AstraZeneca possui, nesse caso, eficácia que pode chegar a 67%, com média entre 61,3% a 71,8%.

Enquanto isso, duas doses da Pfizer/BioNTech podem proteger o indivíduo imunizado contra a variante Delta em 88%, variando entre 85,3% a 90,1%.

Ainda segundo outro estudo, conduzido pela Universidade de Nova York, a vacina da Janssen, produzida pela Johnson & Johnson teria se mostrado menos eficiente contra a variante. 

Em laboratório, cientistas identificaram uma eficácia que pode ser menor que 50% do imunizante contra a cepa em questão. A fabricante, no entanto, informou que a resposta imunológica ainda existe.