Um memorando de intenção foi assinado no último dia 22 entre as duas partes. Conforme o plano de vacinação elaborado pela Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), a projeção é que 2,6 milhões de pessoas pertencentes a grupos prioritários sejam protegidas.
Na primeira fase programada, devem ser imunizados trabalhadores de saúde, idosos acima de 75 anos de idade, idosos acima de 60 anos que vivem em instituições de longa permanência e a população indígena do Estado.
Em uma entrevista coletiva, o secretário da Saúde, Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho, o Dr. Cabeto, enalteceu a “longa tradição de eficiência” do Estado em campanhas de vacinação e garantiu que a rede de saúde está estruturada e preparada para iniciar a imunização, seguindo os planos já definidos. A meta da Sesa é vacinar 95% dos grupos prioritários.
Dr. Cabeto afirma que a indústria não produz esta alta demanda de vacinas. “Está havendo um esforço nacional e internacional para a mais rápida imunização da população”, complementou.
“Os insumos já estão garantidos. Temos estoque razoável de seringas e EPIs (equipamentos de proteção individual). A estrutura de distribuição já foi otimizada, reformamos freezers e geladeiras. No caso de vacina que precisa de condições especiais, está tudo estruturado em cima de Fortaleza, que é onde fica mais fácil fazer a distribuição”, explica.
Essas condições especiais se referem à vacina da Pfizer, cuja conservação necessita de temperaturas muito baixas. Por isso, a Universidade Federal do Ceará (UFC) já contatou a Sesa para ceder oito freezers de alta potência de congelamento a -70 ºC, que pertencem à Faculdade de Medicina da Instituição. Os equipamento têm capacidade para conservar 53 milhões de doses.
Ontem (30), cinco municípios receberam uma câmera refrigerada para armazenamento das vacinas, com capacidade de 200 litros. A Sesa já adquiriu um total de 147 delas, num investimento de R$ 2,8 milhões.
Preparação
Dr. Cabeto salienta que há planejamento para qualquer tipo de cenário. “Em São Paulo, fizemos contato com outras empresas para que, em qualquer oportunidade que exista no mundo, em outros países que também estão produzindo vacinas, o Ceará esteja sempre à frente desse processo. Mesmo sabendo da necessidade do Ministério da Saúde, nos antecipamos com uma reserva de material adequada para a vacinação eficiente”, ressalta.
Ainda em dezembro, o governador Camilo Santana informou que o primeiro lote da vacina enviada ao Ceará deve ser da empresa AstraZeneca.
A própria Fiocruz sinalizou que as primeiras doses produzidas pela Fundação devem ser entregues entre 8 e 12 de fevereiro.“A maior quantidade de vacina que o Ministério (da Saúde) fez acordo é com a Fiocruz e Oxford, com relação à AstraZeneca. A previsão é que no primeiro semestre o Ceará receba 1,7 milhão da AstraZeneca, depois de validada pela Anvisa, pelos órgãos competentes, que garantam a segurança da vacina”.
O prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio, também se mostra otimista com a sinalização do Ministério da Saúde para a distribuição da vacina aos municípios ainda no primeiro trimestre de 2021. Ele garante que a rede de 119 postos de saúde da cidade está estruturada e dispõe de salas de imunização com geladeiras, armazenadores e equipes especializadas em imunização.
“O grande desafio específico é a capacitação. Cada vacina tem um modo de cuidar e de orientar a população. É isso que o prefeito eleito Sarto Nogueira deve priorizar. Outro ponto é garantir a vacinação em casa para os grupos de risco, sobretudo idosos e gestantes. Já reproduzimos isso na pandemia para a vacina da gripe, e isso acabou nos dando uma certa experiência”.
Fortaleza, Recife e Salvador foram as três capitais do Nordeste escolhidas pelo Ministério da Saúde para armazenar e distribuir doses do imunizante aos demais estados da região, funcionando como polos logísticos. A meta do prefeito eleito também é “adquirir vacina para toda Fortaleza”, se houver possibilidade já em um primeiro lote.
Cautela
Para a infectologista Roberta Luiz, doutora em Medicina Tropical e médica do Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC), o retorno ao “normal” só deve ser pensado após os resultados da Fase 4 da vacina, quando ocorre a aplicação em larga escala e se verificam possíveis reações adversas – que “são esperadas em toda vacina, isso é normal” – e o tempo de imunidade conferido por ela.
“Em 2021, ainda vamos ter de manter o hábito de usar máscara, ter etiqueta ao falar e espirrar, e higienizar as mãos. Se os resultados da Fase 4 forem favoráveis, aí sim, em 2022, a gente dispensa o uso de máscara. Mas a higiene das mãos e a etiqueta respiratória devem ser mantidas”, explica Roberta.
A médica destaca que, como não haverá vacina suficiente para toda a população, sobretudo por conta do preço mais elevado, aqueles fora do grupo de risco têm duas opções: adquiri-la em clínicas privadas ou manter as medidas de proteção individual, evitando aglomerações.
Para resguardar a imunização, no último dia 17 de dezembro, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que a vacina contra a Covid-19 deve ser obrigatória e deu autorização para que a União, Estados e Municípios aprovem leis que restrinjam direitos das pessoas que não quiserem se vacinar. Ainda que haja obrigatoriedade, o uso da força para exigi-la é vedado.
Imunologista e professor do Departamento de Patologia e Medicina Legal da UFC, Edson Holanda Teixeira reforça que a vacina “não é um alvará de soltura”, então as medidas de proteção, como o isolamento social e o uso máscara, só poderão ser relaxadas quando ocorrer o bloqueio da propagação viral diante da imunidade de rebanho.
“Você só se torna imune depois de 14 dias da segunda dose, tempo necessário para que o corpo produza anticorpos. Mesmo após a segunda dose, é preciso aguardar se as vacinas da Covid-19 terão essa capacidade neutralizante na comunidade”, explica o imunologista.