Os índices de poluição do ar continuam acendendo alerta em todo o mundo. No Ceará, segundo dados do boletim epidemiológico da Secretaria Estadual de Saúde (Sesa), divulgado no último dia 11 de dezembro, os números da frota veicular e focos de queimadas, fonte de poluentes, seguem preocupantes. Conforme o boletim, ainda, a poluição atmosférica e o novo coronavírus configuram uma “combinação perigosa”.
Entre as datas 01/01/2020 a 25/11/2020, o Ceará registrou 47.376 focos de calor, de acordo com o boletim, com números extraídos do banco de dados de monitoramentos de queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Os municípios cearenses com os maiores registros foram Icó (1.649 focos); Santa Quitéria (1.461); Acopiara (1.408); Ipueiras (1.314); Mombaça (1.251); Sobral (1.246); Crateús (976); e Jucás (874).
As fontes de poluição estão dividas em fixas e móveis. Segundo o documento, no estado, as fixas são representadas por indústrias de extrativistas e de transformação e as móveis dizem respeito sobre a frota de veículos, por exemplo. Neste ponto, até novembro deste ano, o Ceará estava com 3.379.350 veículos e 3.353.565 até o dia 16 daquele mês, de acordo com o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) e a Sesa. Em números de veículos, no Nordeste, o Ceará só fica atrás da Bahia (4.483.787).
Consequências
Um adulto médio inala e exala em torno de 7 a 8 litros de ar por minuto enquanto está em repouso. Somados, resultam em 11 mil litros por dia, segundo os dados da Sesa. “A inalação de fuligem ou fumaça com material particulado – geralmente referenciada em tamanho por micrômetros, MP10, MP2,5 e MP1 – escurece os pulmões e causa desconforto respiratório e cardíaco, além de doenças como asma e câncer”, específica o boletim.
O boletim também faz o alerta para o fato de que o monóxido de carbono, gás levemente inflamável, inodoro e muito perigoso devido a sua grande toxicidade, pode causar dores de cabeça leves, náuseas e sintomas de envenenamentos moderados.
O documento da Sesa também menciona um estudo recente do Fórum de Sociedades Respiratórias Internacionais, em que a poluição do ar também está associada a uma série de doenças e complicações, desde diabetes e demência até problemas de fertilidade e leucemia infantil.
“Poluentes tornam as pessoas mais suscetíveis aos vírus, o que se manifesta, sobretudo, naquelas que já têm doenças cardiovasculares ou respiratórias. Nos dias atuais, Coronavírus e poluição do ar podem ser uma combinação perigosa”, aponta o boletim.
Segundo o presidente da Sociedade Cearense de Pneumologia e Tisiologia, Ricardo Coelho Reis, as partículas de poluição podem afetar o tecido pulmonar, causando inflamação, deixando os pulmões mais suscetíveis às infecções, incluindo a Covid-19, alergias e neoplasias, como o câncer de pulmão.
“A liberação de gases e partículas sólidas no ambiente é sempre preocupante. Aqui no Ceará, a gente vê muitos problemas alérgicos respiratórios associados ao período de queimadas, por exemplo, então é sempre uma preocupação”, diz o especialista.
Como prevenção contra a poluição, o médico sinaliza algumas práticas como “evitar queimadas, praticar exercícios ao ar livre em vias muito movimentadas em horário de pico, evitar churrascaria, queima de carvão”.
A exposição a longo prazo em um ambiente com o ar poluído aumentou em média 15% o risco de morte por Covid-19, segundo um estudo publicado no final de outubro na revista Cardiovascular Research.
Estudos
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a poluição do ar é responsável por 7 milhões de mortes por ano em todo o mundo. Já um estudo publicado no fim de outubro na revista Cardiovascular Research avalia que essa exposição de longo prazo aumentou em média 15% o risco de morte por Covid-19.
Uma possível vulnerabilidade maior ao coronavírus por pessoas em contato com o ar contaminado também foi detectada em relatório publicado em novembro, na revista Science Advances.
Conduzida por pesquisadores da Universidade de Harvard, diante de dados de emissões atmosféricas de mais de 3 mil condados nos EUA, a análise se concentrou especificamente em pedaços de partículas conhecidas como PM2.5. As descobertas indicam que a exposição a longo prazo a cada micrograma adicional de PM2.5 por 1 metro cúbico de ar aumenta a taxa de mortalidade de Covid-19 em 11%.
No quesito poluição do ar, Fortaleza, segundo o estudo, ainda tem vantagens em relação a outras metrópoles, como a velocidade dos ventos. “No entanto, a verticalização dos lugares, construção de prédios gigantes, associado ao grande fluxo de veículos, como acontece no Meireles, prejudica a qualidade do ar”, coloca o professor Rivelino Cavaltante, do Laboratório de Avaliação de Contaminantes Orgânicos do Labomar da Universidade Federal do Ceará (UFC), também integrante da pesquisa.