No último dia do prazo, o presidente Jair
Bolsonaro (sem partido) sancionou, ontem, o projeto de lei complementar
que prevê socorro financeiro a estados e municípios, atendendo os vetos
recomendados pelo Ministério da Economia, dentre os quais o que trata do
congelamento salarial para servidores públicos até o final de 2021.
A sanção ainda não havia sido publicada no Diário Oficial da União
até o fechamento desta edição, mas, de acordo com o jornal O Estado de
S. Paulo, o aval presidencial à proposta foi confirmado por três fontes
qualificadas da área econômica do Governo Bolsonaro. O Palácio do
Planalto também não havia divulgado os quatro vetos ao projeto aprovado
pelo Congresso Nacional – três recomendados pelo Ministério da Economia e
um da Advocacia Geral da União (AGU).
A proposta estava à espera da sanção desde o dia 6 de maio, quando
foi enviada pelo Senado ao Palácio do Planalto. Contudo, o impasse a
respeito do trecho que trata do congelamento salarial para servidores
públicos até o final de 2021 atrasou a sanção até o fim do prazo, mesmo
após promessas do presidente de que seria realizada “o mais breve
possível”.
Com a sanção, será destinado aos estados e municípios um suporte
financeiro de R$ 125 bilhões. Deste total, R$ 60 bilhões são de repasses
diretos para os cofres estaduais e municipais, a serem realizados em
quatro parcelas. Apesar do pedido de governantes, ainda não se sabe se
será possível que o primeiro montante seja transferido ainda em maio.
Além dos repasses diretos, o auxílio aprovado pelo Congresso inclui a
suspensão de dívidas. </CW>
Sinalização
Na noite de terça-feira (26), Bolsonaro havia prometido a sanção para
ontem, mas associou ao anúncio uma cobrança aos governantes de estados e
municípios quanto à flexibilização do isolamento social em meio à
pandemia do novo coronavírus. “Amanhã (quarta) é o último dia (para
sanção), então vai ser amanhã, com vetos, né, uma injeção de R$ 60
bilhões, estados e municípios, mas eu acho que os prefeitos e
governadores já sabem que não vai ter outra oportunidade. Não podemos
continuar socorrendo estados e municípios que devem, no meu entender, de
forma racional, começar a abrir o mercado”, disse.
O principal motivo para a demora da sanção foi o trecho da proposta
que trata da proibição de reajuste de servidores públicos – nas esferas
federal, estadual e municipal – até o final de 2021. Esta seria uma das
contrapartidas dos entes federativos que recebessem recursos da União.
Contudo, com o apoio do presidente, parlamentares listaram categorias
profissionais que seriam exceções ao congelamento salarial, como as
Forças Armadas e os trabalhadores das áreas da Saúde e da Educação.
A economia prevista pelo Governo Federal diminuiu de R$ 130 bilhões
para R$ 43 bilhões. Por isso, o ministro da Economia, Paulo Guedes,
pediu o veto integral do trecho que trata das exceções. O presidente
chegou a sinalizar que tentaria blindar as forças de segurança do
congelamento, mas recuou. O veto integral ao trecho, entretanto,
enfrenta resistência no Congresso.
Espera
Receoso pela derrubada do veto pelos parlamentares, Bolsonaro buscou
apoio de governadores em reunião realizada no dia 21 de maio. Ele,
entretanto, não cumpriu a promessa de sancionar o socorro “o mais breve
possível”.
A espera teve outros dois elementos, ligados a uma das bases de apoio
do presidente: os profissionais da segurança. Antes de autorizar o
congelamento salarial geral, dois reajustes foram aprovados pelo
Congresso.
O primeiro foi a reestruturação de cargos e funções da Polícia
Federal, com a previsão de reajustes ao topo da carreira do órgão. A
matéria foi promulgada ontem (27) pelo presidente do Congresso Nacional,
senador Davi Alcolumbre (DEM-AP).
Também foi promulgada a Medida Provisória (MP) que aumenta a
remuneração da Polícia Militar do Corpo de Bombeiros Militar e da
Polícia Civil do Distrito Federal (DF). As categorias terão um reajuste
de 8% a 25% a um custo de R$ 505 milhões ao ano, segundo estimativas do
Ministério da Economia.
A aprovação dos dois reajustes era condição para a sanção do projeto
de socorro a estados e municípios. Com eventual veto presidencial, os
aumentos salariais não poderiam ser concedidos ou dariam brecha para
questionamentos judiciais.
Demora na análise pelo Congresso
O auxílio, considerado emergencial para governadores e prefeitos, teve dificuldades também na aprovação no Legislativo Federal. A equipe econômica de Bolsonaro não ficou satisfeita com o projeto de lei elaborado e aprovado por deputados federais, alegando o impacto no Tesouro Nacional e falta de exigência de contrapartidas dos entes federados.
O auxílio, considerado emergencial para governadores e prefeitos, teve dificuldades também na aprovação no Legislativo Federal. A equipe econômica de Bolsonaro não ficou satisfeita com o projeto de lei elaborado e aprovado por deputados federais, alegando o impacto no Tesouro Nacional e falta de exigência de contrapartidas dos entes federados.
Ao chegar ao Senado, o projeto de lei foi arquivado pelo relator da
proposta e presidente da Casa, Davi Alcolumbre. O auxílio financeiro
passou a ser tratado a partir da PLP 39/2020, de autoria do senador
Antonio Anastasia (PSDB-MG), que já estava em tramitação no Senado.
Apesar da queda de braço entre as duas Casas, a proposta avançou rápido
depois da mudança, sendo aprovada em menos de uma semana.