quarta-feira, 18 de março de 2020

Ceará pode ter até 10 mil casos de coronavírus entre os meses de abril e maio, diz secretário

O Ceará pode registrar até 10 mil casos de pacientes com o novo coronavírus entre os meses de abril e maio, quando é esperado o pico de Covid-19. A afirmação é do secretário da Saúde do Ceará (Sesa), Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho (Dr. Cabeto), em entrevista ao Sistema Verdes Mares (SVM) realizada nesta nesta terça-feira (17). Segundo o boletim mais recente do órgão, há 9 casos confirmados no Estado. 


“É difícil você especular. Pois esse vírus tem uma característica diferente. Em geral, temos 100 mil casos de gripe no Estado do Ceará por ano. Se a gente acreditar que vamos ter 10% de coronavírus, a gente vai estar falando de 10 mil casos. É uma expectativa, apenas. É preciso está preparado para um cenário pior para que a gente possa receber principalmente os doentes graves”, afirmou. 

Cabeto reforçou que é importante a população saber se faz parte do grupo de risco. Isso implica "saber se tem doença autoimune, se você tem doença que reduz a sua imunidade, se você tem mais de 80 anos de idade, se você tem mais de 60 anos. Se tem essas doenças, você deve ficar mais atento”, alerta. 

UTIs extras

O secretário ainda falou sobre a implantação de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) extras para que sejam utilizados nos atendimentos mais complexos.  
“Existe uma característica do Estado do Ceará que o déficit de leitos, que é realmente grande, principalmente na Região Metropolitana. Quando você vai para o Interior, nós temos hospitais regionais que vamos gerar 200 leitos extras somente para atendimentos complexos", diz. Dr. Cabeto destacou ainda que irá conversar com prefeitos de cidades cearenses sobre o aproveitamento da capacidade ociosa nos hospitais polos, estruturando os equipamentos. "Esses hospitais polos podem colaborar com esse momento de crise”, destaca.

Casos confirmados

De domingo (15) para segunda-feira (16), o número de casos confirmados no Estado triplicou, passando de três para nove, conforme o último boletim divulgado pela Sesa. Os casos investigados chegam a 62, enquanto 99 foram descartados.

A contaminação dos pacientes no Ceará que não estiveram no exterior ocorreu, mais precisamente, por meio do contato com pessoas que realizaram as viagens a outros países e vivem em São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia, estados com os quais o Ceará mais mantém relações, explicou Dr. Cabeto.
Apesar dos casos registrados, ele garante que o quadro de saúde de todos os pacientes infectados está "sob controle".

Medidas

Para a virologista e epidemiologista da Universidade Federal do Ceará (UFC), Caroline Florêncio, as medidas tomadas pelo Poder Público estão de acordo com o que vem sendo implementado em outros países, como a China, que conseguiu controlar a epidemia. "O isolamento, juntamente com os hábitos de educação e higiene adotados, são as melhores armas contra o avanço do número de casos", diz a pesquisadora.

Para Caroline, é preciso "sermos cuidadosos ao extremo neste momento em que estamos sob controle do que esperar acontecer um número assustador de casos (como na Itália)". A medida de isolamento pode ajudar a conter os casos que chegam ao Ceará, segundo ela. "A exemplo da China, que agora reporta casos importados apenas, o isolamento é de fato bastante eficaz", diz Florêncio.

De acordo com a pesquisadora da UFC, o medo da população nesse primeiro momento é natural, mas na "medida em que passamos a conhecer mais a doença, o seu agente e sua epidemiologia, o medo dá lugar à razão".

"E assim como o H1N1 ficou comum, talvez a Covid-19 seja também mais um vírus a ter circulação entre os humanos. Ter medo é natural diante uma doença emergente", conta Caroline.

Assim como o secretário de saúde, a professora prevê que o pico epidemiológico da doença no Estado do Ceará ocorra em torno do mês de abril deste ano.

"Nós temos outros vírus endêmicos aqui em Fortaleza, como o vírus sincicial respiratório e o influenza A, que tem o seu pico de atividade no mês de abril (tem artigos que comprovam isso). Se a Covid-19 vai seguir o mesmo comportamento, só o tempo dirá".