O Ceará pode registrar até 10 mil casos de
pacientes com o novo coronavírus entre os meses de abril e maio, quando é
esperado o pico de Covid-19. A afirmação é do secretário da Saúde do
Ceará (Sesa), Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho (Dr. Cabeto), em
entrevista ao Sistema Verdes Mares (SVM) realizada nesta nesta
terça-feira (17). Segundo o boletim mais recente do órgão, há 9 casos
confirmados no Estado.
“É difícil você especular. Pois esse vírus tem uma característica
diferente. Em geral, temos 100 mil casos de gripe no Estado do Ceará por
ano. Se a gente acreditar que vamos ter 10% de coronavírus, a gente vai
estar falando de 10 mil casos. É uma expectativa, apenas. É preciso
está preparado para um cenário pior para que a gente possa receber
principalmente os doentes graves”, afirmou.
Cabeto reforçou que é importante a população saber se faz parte do
grupo de risco. Isso implica "saber se tem doença autoimune, se você tem
doença que reduz a sua imunidade, se você tem mais de 80 anos de idade,
se você tem mais de 60 anos. Se tem essas doenças, você deve ficar mais
atento”, alerta.
UTIs extras
O secretário ainda falou sobre a implantação de Unidades de Terapia
Intensiva (UTIs) extras para que sejam utilizados nos atendimentos mais
complexos.
“Existe uma característica do Estado do Ceará que o déficit de
leitos, que é realmente grande, principalmente na Região Metropolitana.
Quando você vai para o Interior, nós temos hospitais regionais que vamos
gerar 200 leitos extras somente para atendimentos complexos", diz. Dr.
Cabeto destacou ainda que irá conversar com prefeitos de cidades
cearenses sobre o aproveitamento da capacidade ociosa nos hospitais
polos, estruturando os equipamentos. "Esses hospitais polos podem
colaborar com esse momento de crise”, destaca.
Casos confirmados
De domingo (15) para segunda-feira (16), o número de casos
confirmados no Estado triplicou, passando de três para nove, conforme o
último boletim divulgado pela Sesa. Os casos investigados chegam a 62,
enquanto 99 foram descartados.
A contaminação dos pacientes no Ceará que não estiveram no exterior
ocorreu, mais precisamente, por meio do contato com pessoas que
realizaram as viagens a outros países e vivem em São Paulo, Rio de
Janeiro e Bahia, estados com os quais o Ceará mais mantém relações,
explicou Dr. Cabeto.
Apesar dos casos registrados, ele garante que o quadro de saúde de todos os pacientes infectados está "sob controle".
Medidas
Para a virologista e epidemiologista da Universidade Federal do Ceará
(UFC), Caroline Florêncio, as medidas tomadas pelo Poder Público estão
de acordo com o que vem sendo implementado em outros países, como a
China, que conseguiu controlar a epidemia. "O isolamento, juntamente com
os hábitos de educação e higiene adotados, são as melhores armas contra
o avanço do número de casos", diz a pesquisadora.
Para Caroline, é preciso "sermos cuidadosos ao extremo neste momento
em que estamos sob controle do que esperar acontecer um número
assustador de casos (como na Itália)". A medida de isolamento pode
ajudar a conter os casos que chegam ao Ceará, segundo ela. "A exemplo da
China, que agora reporta casos importados apenas, o isolamento é de
fato bastante eficaz", diz Florêncio.
De acordo com a pesquisadora da UFC, o medo da população nesse
primeiro momento é natural, mas na "medida em que passamos a conhecer
mais a doença, o seu agente e sua epidemiologia, o medo dá lugar à
razão".
"E assim como o H1N1 ficou comum, talvez a Covid-19 seja também mais
um vírus a ter circulação entre os humanos. Ter medo é natural diante
uma doença emergente", conta Caroline.
Assim como o secretário de saúde, a professora prevê que o pico
epidemiológico da doença no Estado do Ceará ocorra em torno do mês de
abril deste ano.
"Nós temos outros vírus endêmicos aqui em Fortaleza, como o vírus
sincicial respiratório e o influenza A, que tem o seu pico de atividade
no mês de abril (tem artigos que comprovam isso). Se a Covid-19 vai
seguir o mesmo comportamento, só o tempo dirá".