Embora a relação diplomática entre Brasil e
Colômbia seja positiva, especialmente por conta do alinhamento entre os
presidentes dos dois países, a vinda de alguns colombianos para o Ceará
vem trazendo prejuízos ao Estado. Apenas neste ano, pelo menos 23
nascidos no país vizinho foram presos e enquadrados na Lei de Crimes
Contra a Economia Popular, conhecida comumente pela infração da
agiotagem. Além disso, estimativa realizada pelo Diário do Nordeste
aponta que, em 2019, mais de R$ 4,5 milhões foram transferidos
ilegalmente de contas de agências no Ceará para a Colômbia.
“É um tipo de organização criminosa que vem assolando o Estado todo.
Ultimamente, a gente tem visto operações visando combater esse crime. A
gente já viu em Iguatu, Quixadá, mas não com essa proporção que teve
aqui”, ressaltou, ontem (3), em coletiva de imprensa, o delegado Luiz
Eduardo da Costa Santos, após detenção de quatro colombianos e sete
brasileiros suspeitos de terem cometido o crime no Cariri.
O grupo teria enviado, em apenas seis meses, mais de R$ 2,5 milhões a
partir de uma agência de Juazeiro do Norte a uma ramificação da
quadrilha no país vizinho. As informações foram obtidas pela Polícia
Civil após quebra de sigilo bancário de um dos detidos.
De acordo com o delegado Giuliano Sena, “a orientação da Delegacia-Geral no Ceará é combater todos esses crimes e tentar diminuir esse tipo aqui no Ceará”.
Histórico
Contudo, a prática da agiotagem cometida de maneira transnacional vem
se popularizando no Ceará e em estados como Pernambuco, segundo o
delegado Luiz Eduardo. “É difícil a gente auferir o número exato de
vítimas porque eles trabalham com esse pessoal que tem pequenos
comércios, que não tem acesso a credito bancário”, explica.
Desde o início do ano, pelo menos sete operações – tendo como foco
grupos de agiotagem com suposto envolvimento de colombianos – já foram
deflagradas no Estado. O caso de ontem, o maior de 2019 em termos
financeiros, levou à prisão os estrangeiros Mario Andres Nunes Prieto,
Omar Camargo Lizarazo, Jhon Edson Grajales Buitrago, Darwin Plazas
Alvarado e Yilber Arbey, além de seis brasileiros que formavam a
quadrilha.
Conforme o promotor de Justiça Jairo Pequeno Neto, os “cabeças” dos
esquemas desarticulados pelas autoridades cearenses não ficam no Brasil,
mas agenciam as atividades de fora.
De acordo com ele, aqui no País, os comandados trocam uma parte do dinheiro ilegal em casas de câmbio e encaminha para a Colômbia. O que não é enviado, é reinvestido a fim de expandir as atividades em solo cearense. No país vizinho, a prática é conhecida como “cobro” ou “cobrito”.
‘Préstimos’
Em julho, o próprio promotor foi um dos responsáveis pela
desarticulação de outra quadrilha transnacional, com os mesmos moldes de
atuação, durante as diligências da “Operação Préstimos”. Na época, três
colombianos e oito brasileiros foram presos pela prática de agiotagem
nos municípios de Pentecoste, São Gonçalo do Amarante, Umirim e
Paraipaba. Eles teriam movimentado cerca de R$ 2 milhões – frutos dos
crimes contra pequenos comerciantes – para a Colômbia.
Cristian Camilo Davi Quintero e Ivan David Jaramillo Giraldo foram
presos pela Polícia Civil, mas colocados em liberdade pela Justiça após
pagamento de fiança de R$ 50 mil. A esposa de Davi, Natália Orozco, teve
a prisão temporária revogada. Os três tiveram de entregar seus
passaportes a fim de impedir o deslocamento internacional.
A prática
O Diário do Nordeste averiguou que as ações criminosas já ocorreram
em, pelo menos, 11 cidades do Estado, incluindo a Capital. O modus
operandi das ações criminosas é bem parecido.
Primeiro, eles montam suas equipes para realizarem os crimes contra a economia popular, dividindo-se em gerentes ou coordenadores, além de cobradores e fiscais. Em seguida, buscam comerciantes a fim de realizar empréstimos a juros altíssimos, chegando até a taxa de 20%.
Primeiro, eles montam suas equipes para realizarem os crimes contra a economia popular, dividindo-se em gerentes ou coordenadores, além de cobradores e fiscais. Em seguida, buscam comerciantes a fim de realizar empréstimos a juros altíssimos, chegando até a taxa de 20%.
Conforme a Polícia Civil, as cobranças são diárias e, as vítimas,
normalmente, não dispõem de acesso a crédito por organizações de fomento
para darem andamento aos seus negócios. As vítimas, assim, são
extorquidas, ameaçadas e precisam realizar o pagamento sem ter condições
financeiras.