BRASÍLIA,
DF (FOLHAPRESS) - Depois de o prefeito de São Paulo, Bruno Covas,
ameaçar deixar o PSDB caso o deputado federal Aécio Neves (MG) não seja
expulso, aliados do parlamentar mineiro dizem que a ala paulista da
sigla tenta instalar o que chamam "tribunal de exceção".
Os
tucanos mais próximos a Aécio defendem que o partido respeite o "direito
de defesa" do deputado no conselho de ética da sigla e pregam o que
chamam de "enfrentamento e resistência" do mineiro.
A coluna
Mônica Bergamo revelou nesta quarta (10) que Covas passou a defender a
expulsão de Aécio por causa das acusações de corrupção que pesam contra
ele. O prefeito chegou a dizer que o PSDB terá que optar: "Ou eu ou
ele".
"Espero que o bom senso prevaleça e que todo e qualquer
membro do partido que porventura venha a ser objeto de questionamento
ético tenha respeitado seu direito de defesa no conselho de ética do
partido", disse à reportagem o deputado Paulo Abi-Ackel, que preside o
diretório estadual do PSDB em Minas Gerais.
"A presunção de
inocência é uma conquista do Estado democrático de Direito e no PSDB
essa regra não será diferente", afirmou Abi-Ackel.
Procurado, Aécio não quis comentar as declarações do correligionário nem o pedido de expulsão.
Em
maio, em sua convenção nacional, o PSDB aprovou um novo código de ética
e disciplina, segundo o qual um integrante só pode ser expulso depois
de encerrado todo o rito no conselho de ética.
Após a declaração
de Covas, aliados de Aécio procuraram o presidente nacional do partido,
Bruno Araújo (PE). De acordo com os relatos feitos à reportagem, o
dirigente tucano indicou que seguirá o regimento interno e estaria
trabalhando para tentar conter a rebelião da ala paulista.
Em nota divulgada no Twitter do PSDB, Araújo repetiu o que disse aos correligionários.
"Eventuais
representações contra quaisquer filiados do PSDB seguirão a tramitação
prevista no código de ética recentemente aprovado por unanimidade em
convenção partidária. Sempre obedecendo todas as garantias processuais,
respeitando o devido contraditório, e ao princípio da ampla defesa",
afirmou.
Os integrantes do conselho de ética tucano foram eleitos
em maio, mas, por questões burocráticas, o colegiado ainda não foi
instalado. Ele será comandado pelo ex-vice-governador do Espírito Santo
Cesar Colnago, que tem demonstrado disposição de seguir todos os passos
do processo interno.
Em São Paulo, a declaração de Covas deu gás a
um movimento dos tucanos paulistas contra Aécio. "Ou ele ou nós. Não
podemos abrir mão da bandeira da moralização sempre defendida pelo
PSDB", disse à reportagem Geraldo Malta, coordenador do grupo evangélico
do partido.
Preocupados com a eleição para a prefeitura da
capital paulista no ano que vem, aliados de Covas --que tentará a
recondução ao cargo-- estão articulando atos contra o mineiro em São
Paulo para reafirmar o discurso de que, se Aécio não sair, haverá uma
debandada no partido.
A afirmação de Covas foi feita na manhã
desta quarta, quando o prefeito acompanhava o governador de São Paulo em
exercício, Rodrigo Garcia (DEM), em uma entrega de trens da CPTM no
Brás, no centro da capital. O governador João Doria (PSDB) está em
viagem a Londres.
No meio da cerimônia, os jornalistas
questionaram Covas sobre o fato de o diretório do PSDB em Belo Horizonte
defender a permanência de Aécio, em resposta ao fato de o PSDB
municipal de São Paulo sugerir a expulsão dele.
"Já [me]
manifestei diversas vezes no sentido da expulsão do deputado Aécio Neves
do partido", afirmou Covas. "Se o diretório do PSDB de Belo Horizonte
quer a minha expulsão, essa é uma boa decisão, então, que fica agora
para o PSDB nacional: ou eu ou Aécio Neves no partido." "É um ou
outro?", perguntaram os jornalistas. "É um ou outro. É incompatível",
respondeu.
O diretório municipal do PSDB de São Paulo aprovou no
último dia 4 uma moção pedindo a expulsão do deputado do partido. "Este
diretório avalia que postura e o histórico de Aécio ferem os princípios
do Código de Ética, além de denegrir a imagem do partido", diz nota
divulgada pelo presidente municipal da sigla, Fernando Alfredo.
Aécio,
ex-senador e ex-governador de Minas, foi alvo de ao menos nove
investigações oriundas das delações da Odebrecht, da JBS e do ex-senador
Delcidio do Amaral (ex-PT).
Na
terça (9), João Doria, defendeu que Aécio deveria sair espontaneamente
do partido para evitar a necessidade de expulsão. Em entrevista a O
Estado de S. Paulo, afirmou que a permanência do mineiro na legenda tem
gerado um "mal-estar" e disse que "o melhor seria uma saída espontânea".
Para Doria, seria a forma mais "clara, transparente, equilibrada e
serena" de conduzir o processo.