
Nos áudios, gerados nos primeiros cinco minutos do ataque, é possível ouvir gritos e respirações ofegantes.
Um deles, ao qual a Folha de S.Paulo teve acesso, dura 26 segundos e é
de uma adolescente que via o ataque e, ao mesmo tempo, tentava fugir
dos atiradores.
Após ouvir "Bombeiros emergência" da atendente, a jovem fala enquanto
chora: "Olha, eu preciso de ajuda, na escola Raul Brasil. Entrou um
menino atirando em todo mundo, eu preciso de gente aqui, pelo amor de
Deus, tem um monte de gente sangrando. Agora!", pede ela.
Segundo o comando da PM, os primeiros policiais chegaram ao local dois minutos após o início dos ataques.
Uma equipe de três policiais já havia sido chamada após o empresário Jorge Antonio Moraes,
proprietário de uma revendedora de carros e tio de um dos atiradores,
Guilherme Taucci Monteiro, 17, ter sido baleado. O ataque aconteceu a
pouco metros da escola.
"Falaram para a gente no lava-jato que seria um rapaz jovem, vestido
de preto, com máscara de caveira no rosto e que tinha empreendido fuga
em um carro branco", disse.
"Nós estacionamos atrás do veículo branco, que estava em frente à
escola, e adentramos", afirmou sargento Anderson Luiz Camargo, 44, que
chegou à escola quando os adolescentes, alunos do colégio, ainda
escapavam desesperados pelo portão principal em meio a gritos e choros.
A polícia diz acreditar que o atendimento rápido da PM evitou que a tragédia fosse ainda maior.
Em um segundo áudio, com a polícia já ciente do ocorrido e com
equipes já em direção da escola, uma garota com a fala bastante ofegante
também pede socorro imediato. A ligação dura 15 segundos.
"É... moça [toma fôlego, como se estivesse correndo], moça, tá tendo um tiroteio aqui na Raul Brasil", diz.
A atendente responde : "Tá, já foi cadastrada a ocorrência e já tem
viatura a caminho do local, tá bom?". A menina responde sussurrando: "tá
bom".
O centro de operações da Polícia Militar de São Paulo recebe, em média, 80 mil chamadas diárias. O atendimento dos chamados ocorre, em grande parte das vezes, instantaneamente, sem espera.
Os serviços de emergência em São Paulo funcionam de maneira integrada pelo telefone 190, inclusive no mesmo espaço físico. Assim, tanto bombeiros como o policiamento podem ser acionados por esse número.
Atendentes civis, que passa por treinamentos específicos, são
responsáveis por receber as chamadas e são supervisionados por sargentos
da PM.
Os profissionais precisam manter a voz calma, falar pausadamente e evitar externar emoções.
"Se hoje tivermos uma catástrofe, uma tragédia, uma explosão, por exemplo, eu consigo atender, num estalar de dedos, 120 pessoas ao mesmo tempo, um protocolo do Corpo de Bombeiros", afirma o comandante-geral da PM, Marcelo Vieira Salles.
"O sucesso é estar preparado para casos de todo tipo. A maior lição
[do massacre de Suzano] é que a gente deve continuar com o espírito
institucional de servir, não importa o horário, as condições climáticas,
a natureza dela."
O massacre de Suzano deixou oito pessoas mortas,
além dos dois agressores, Guilherme Taucci Monteiro, 17, e Luiz Henrique
de Castro, 25, e 11 pessoas feridas. Segundo a polícia, após perceberem
a chegada de uma equipe da força tática, Guilherme teria atirado em
Luiz e, depois, se matado com um tiro na cabeça.