Aos poucos as coisas vão ficando claras. Investigadores que fazem parte
da operação para elucidar as mortes dos dois membros da cúpula do
Primeiro Comando da Capital (PCC), Rogério Jeremias de Simone, o 'Gegê
do Mangue'; e Fabiano Alves de Souza, o 'Paca', parecem tão perplexos
quanto à sociedade, com o que têm encontrado nas apurações.
O inquérito segue com efeito dominó, em que a descoberta de uma peça
leva, automaticamente, à queda de outra. Não deu tempo de 'Gegê' e
'Paca' se livrarem de comparsas, imóveis, veículos, rastros e de todo o
esquema que haviam montado aqui. Agora, mais do que nunca, a Polícia
está mais próxima de desvendar os caminhos do crime organizado no Ceará.
Uma das descobertas recentes mais importantes dos investigadores é que
nem só as duas vítimas eram "figurões" do PCC morando no Ceará. Mais um
membro do alto escalão da maior facção criminosa do País, morava em
Fortaleza: Claudiney Rodrigues de Souza, o 'Cláudio Boy', 36, um dos
principais nomes da organização em Minas Gerais, foi preso pela Polícia
Federal (PF), na última segunda-feira (19), no Aeroporto Internacional
de Guarulhos, em São Paulo, ainda a bordo do voo que saiu da Capital
cearense.
O homem foi algemado e retirado de dentro do avião por agentes
federais. O criminoso deixou Fortaleza apenas três dias após o achado
dos cadáveres de 'Gegê do Mangue' e de 'Paca'. De acordo com a Polícia
Federal de Minas Gerais, Claudiney Souza era foragido da Justiça mineira
e integrava a lista de procurados da Interpol. Contra ele, havia sete
mandados de prisão em aberto, expedidos por Varas da Comarca de Belo
Horizonte, pelos crimes de homicídio e tráfico internacional de drogas.
'Cláudio Boy' estava utilizando documentos falsos para abrir empresas, e
se estabelecer como empresário e adquirir bens em Fortaleza, além de
realizar inúmeras viagens pelo Brasil e até para o exterior, segundo a
PF. O foragido tinha documentos com vários nomes diferentes, para
facilitar a vida de 'fachada' que levava no Estado. Nas redes sociais,
ostentava uma vida de luxo frequentando barracas de praia e a noite de
Fortaleza. Era amigo de empresários da Capital. O traficante circulava
no Ceará há, aproximadamente, seis anos.
"A prisão é resultado de minuciosa investigação realizada pela PF, como
representação da Interpol no Brasil. A investigação contou com o apoio
da Agência de Imigração Americana Immigration and Customs Enforcement
(ICE) e da Inteligência da Polícia Civil de Minas Gerais", informou a
PF.
A PF acrescentou que a investigação aponta que, mesmo foragido,
'Cláudio Boy' seguia atuando em operações relacionadas ao tráfico
internacional de drogas, o que podia estar sendo feito direto do Ceará,
conhecido como um ponto estratégico para o tráfico.
'Missão'
Uma fonte da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS),
que atua nas investigações, disse que o criminoso pode ter recebido a
'missão' de agenciar a morte de 'Gegê' e 'Paca'. "O PCC é realmente
muito organizado e tem uma hierarquia definida, mas o líder máximo não
se ocuparia de planejar execuções. Ele reúne a sintonia geral final, que
é um espécie de conselho que toma decisões, e resolve o que vai ser
feito. Depois disso, delega a 'missão' a alguém. Nesse caso, pode ser
que o 'Claudiney' tenha recebido a missão de arquitetar as mortes. Se
não tivesse implicado de alguma forma, não teria fugido", afirmou.
Conforme o investigador, os passos dos membros do PCC estão sendo
refeitos no Ceará, para esclarecer se eles movimentavam algum negócio em
comum, legal ou ilegal; se frequentavam as casas uns dos outros; se
aparentemente eram amigos. Até o momento não há confirmação de como as
vítimas foram convencidas a entrar na aeronave, que os levou até a
reserva indígena de Aquiraz, onde foram mortos.
Histórico
Claudiney Souza assumiu a liderança nas ruas do PCC em Minas Gerais
quando o antigo líder, Ângelo Gonçalves de Miranda Filho, o 'Pezão'; e o
matador do grupo, Bruno Rodrigues de Souza, o 'Quem-Quem', foram
presos, em São Paulo, no ano de 2011. A dupla integrava a lista dos 12
criminosos mais procurados de Minas Gerais.
Na semana seguinte, a Polícia chegou a Fábio Silvano Alves Azevedo, o
'Fabinho', que era tido como o homem de confiança de 'Cláudio Boy'.Desde
aquele momento, há mais de seis anos, Claudiney Souza se tornou o alvo
principal dos investigadores, mas deixou seu Estado de origem e
encontrou refúgio no Ceará.