O processo penal contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
sobre o caso do triplex do Guarujá, entra em sua fase final, após os
depoimentos de testemunhas de defesa. Mas aumenta o nível de
enfrentamento da defesa ao juiz Sérgio Moro, titular da ação montada a
partir da Operação Triplo X, da Polícia Federal. Entre os
depoimentos colhidos, o advogado Cristiano Zanin Martins destacou que há
novamente revelações que destroem a base da acusação contra Lula.
— O depoimento de Adriano Pires Ribeiro esclareceu que a partir de
2008, a OAS passou a fazer exames de viabilidade para assumir alguns
empreendimentos pela Bancoop. Ele também esclareceu que a OAS impôs como
condição para assumir esses empreendimentos que houvesse um patamar
mínimo de 90% de adesão dos cooperados — afirmou Zanin, em um vídeo
distribuído na manhã desta terça-feira.
Segundo o advogado, o procedimento adotado pela OAS é incompatível com a tese de acusação contra Lula.
— No sentido de que dona Marisa teria em 2005 comprado uma cota da
Bancoop já sabendo que iria receber em 2009 um imóvel diferente daquele
que a sua cota daria direito — afirmou.
Neófito
Também foi ouvido na mesma ação penal o ex-presidente da Petrobras
José Sergio Gabrielli, que negou ter sido orientado por Lula para
cometer atos ilícitos. Durante o depoimento de Gabrielli, o juiz Sergio
Moro voltou a discutir com os advogados de Lula, que o acusaram de ser
inquisidor.
Gabrielli, negou ter recebido orientação do ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva para cometer atos ilícitos na estatal e disse que
indicações para cargos da empresa são uma tradição. O ex-presidente da
Petrobras afirmou, na condição de testemunha de defesa do ex-presidente
Lula, que as indicações para os cargos diretivos da Petrobras são uma
tradição desde a criação da estatal. Os ex-diretores Nestor Cerveró e
Paulo Roberto Costas tinham história dentro da companhia antes de
chegarem a cargos de diretoria.
— O Paulo Roberto Costa não era um neófito na Petrobras, é um
engenheiro de longa tradição e não demonstrava nenhum comportamento que
ele veio confessar depois. Uma pessoa pacata, cumpridora dos seus
deveres e não demonstrava nenhum comportamento ilícito. Nestor Cerveró
também era um diretor de longa tradição na Petrobras. E era um diretor
que na área internacional cumpriu as determinações da empresa — disse
Gabrielli.
Cerveró e Paulo Roberto, condenados na Lava Jato, fecharam acordo de delação premiada em que reconheceram práticas criminosas.
Entrevero
Os advogados do ex-presidente Lula acusaram Moro de agir como um
“inquisidor” ao fazer perguntas a Gabrielli. Moro negou, disse estar
apenas fazendo perguntas e pediu respeito ao juízo.
Depois de os advogados de defesa e dos Ministério Público dirigirem
perguntas a Gabrielli, foi a vez de Moro. Ele perguntou ao ex-presidente
da Petrobras sobre a aprovação do nome de Jorge Zelada para a diretoria
internacional da estatal. O nome foi aprovado pelo conselho diretor da
empresa que à época era presidido por Gabrielli. Zelada substituiu
Cerveró no cargo.
Gabrielli argumentou que houve uma “redefinição” da diretoria
internacional. Por isso, afirmou, houve a mudança no comando da
diretoria e a nomeação de Zelada para o cargo. O ex-presidente da
Petrobras, no entanto, não soube dizer de quem era a indicação. Disse
que foi o então presidente do conselho e ministro da Fazenda à época
Guido Mantega quem sugeriu o nome.
Inquisidor
Moro insistiu se, como membro da conselho, Gabrielli não deveria ter
se informado sobre as razões da nomeação de Zelada. Nesse momento, a
defesa de Lula disse que o juiz estava tentando induzir as respostas.
— As perguntas já foram respondidas — disse o defensor.
Moro, por sua vez, negou que estivesse induzindo.
— Ouvi pacientemente as perguntas da defesa e do Ministério Público e estou fazendo as minhas perguntas — rebateu o magistrado.
Ato seguinte, o advogado retruca:
— A suas perguntas são de um inquisidor e não de um juiz.
Moro pediu respeito ao juízo.