Inútil todo o esforço desenvolvido, ao longo desta semana, pelo
governador Camilo Santana (PT) e o ex-governador Cid Gomes (PDT), para
unir a base parlamentar governista na Assembleia e evitar a disputa,
acirraigada como está, pela presidência do Poder Legislativo, para o
momento mais importante da rearrumação das forças políticas, no caso os
dois últimos da gestão, quando são trabalhadas as composições com vistas
às eleições estaduais de 2018.
A irredutibilidade dos deputados José Albuquerque, querendo a
reeleição, e Sérgio Aguiar, o lugar de presidente, nos faz voltar ao
aqui escrito no último sábado, e lembrar "O Amanhã" do compositor João
Sérgio, o célebre samba enredo feito para a União da Ilha do Governador,
no Carnaval Carioca de 1978, imortalizado pela cantora Simone, e outros
grandes intérpretes nacionais, que tem uma de suas estrofes bem
apropriada para o momento político cearense quando diz: "Como será
amanhã? Responda quem puder. O que irá me acontecer? O meu destino será
como Deus quiser".
No sábado pretérito, aqui dissemos: "Camilo Santana, qualquer que seja o
resultado das duas eleições (a segunda é a do comando do Tribunal de
Contas dos Municípios), amargará as consequências das divergências ora
existentes. Na Assembleia, as dificuldades se darão na articulação
política para o curso normal das suas proposições, inclusive naquelas
pelo Governo consideradas fundamentais à segunda metade da gestão, onde o
foco central é o ano do pleito estadual. E com os prefeitos que, na sua
maioria, ou pelas atcnias nas contas ou por ilegalidades na
administração, estão mais dependentes da ajuda de conselheiros do
Tribunal do que os parcos recursos do Estado, ele também se ressentirá".
Critério
Avanço, se alguém admitir ter havido, na tentativa de evitar a disputa
em plenário, no fim da manhã da próxima quinta-feira, 1º de dezembro,
foi tentar, ainda na manhã deste sábado, uma manifestação da bancada do
Governo na Assembleia, sobre qual dos dois deva ser o candidato a
presidente.
Na quinta-feira, após os banquetes oferecidos aos seus respectivos
apoiadores, essa solução da escolha de um nome pela bancada, construída
pelo ex-governador Cid Gomes, não aconteceu por conta da alegação de um
dos dois candidatos de não ter tido tempo de arregimentar os eleitores
até o início daquela noite. Os dois almoços reuniram aproximadamente 30
deputados, inclusive oposicionistas. O Colégio Eleitoral para definir
sobre a escolha de um nome governista soma 32 parlamentares.
A ideia desse critério de escolha do nome do próximo presidente da
Assembleia foi do deputado Sérgio Aguiar. Ele está isolado dentro do
PDT, a maior bancada, e fundou sua postulação em integrantes dos demais
grupos de apoio ao Governo no Legislativo. José Albuquerque não queria.
Sua alegação era de que o maior partido indicaria o nome.
E mais, reclamava um compromisso que teria sido firmado pelo governador
Camilo Santana, e o ex-governador Cid Gomes, quando da escolha de
Camilo para disputar o Governo, de que seria ele o presidente da
Assembleia nos dois períodos (no Legislativo o mandato é de dois anos),
que compreenderiam os quatro anos do mandato do governador.
Descontentes
Não há como acreditar na existência de duas chapas encabeçadas por José
Albuquerque e Sérgio Aguiar, na quinta-feira, após a escolha de um dos
dois pela bancada, prevista para esta manhã. Mas há certeza que ambos
estarão descontentes, após todo o imbróglio.
O eleito pela falta do apoio esperado das principais lideranças do seu
partido, e o derrotado, pelos dois motivos: ausência de empenho dos
líderes e o insucesso. Por mais que digam ao contrário, jamais serão os
mesmos liderados, principalmente Sérgio Aguiar, agora, também por conta
das circunstâncias, bem mais ligado a Domingos Filho, o próximo
presidente do Tribunal de Contas dos Municípios.
Viabilizado
Domingos não tem mais qualquer preocupação com sua ascensão ao comando
da Corte de Contas municipais. Já está viabilizado com o conselheiro
Manoel Veras na vice. Agora, ele só tem atenção voltada para a
presidência da Assembleia. São os deputados ligados aos partidos
controlados por Domingos - PMB e PSD, o principal sustentáculo da
postulação de Sérgio Aguiar.
Este, apoiado também pelo pai, o guardião da cadeira de presidente do
Tribunal para o sucessor Domingos Filho. Os dois têm muitos prefeitos
como credores, que, por sua vez, contam com os deputados em que votaram
para pagarem a conta aos conselheiros, votando em Sérgio para
presidente.
A última eleição de presidente da Assembleia Legislativa cearense com
disputa foi há mais de 30 anos quando Castelo de Castro foi eleito
derrotando o avô de Sérgio Aguiar, o ex-deputado Murilo Aguiar. Ele
morreu ao fim da renhida disputa, integrando o grupo do ex-governador
Gonzaga Mota. Aquiles Peres Mota, presidente da Assembleia à época,
representando o grupo "virgilista", com o qual Gonzaga havia rompido,
patrocinou a candidatura de Castelo.
Do fim da década de 80 até agora, todas as eleições de presidente da
Assembleia têm sido consensuais. Apesar dos comentários sobre essa ou
aquela candidatura, nunca, no período, aconteceu coisa semelhante à
atual, pois as intervenções dos governadores eram decisivas,
lamentavelmente, pela falta de competência dos deputados de conduzirem
as sucessões no Legislativo, tornando-o mais dependente, ou pior,
desfigurado.