Fortaleza. Quarenta e oito açudes, dos153 monitorados
pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) apresentam os
índices bastante elevados de poluição, caracterizada pelo nível de
eutroficação, ou seja, o aumento excessivo de nutrientes na água,
especialmente fosfato e nitrato, o que provoca crescimento exagerado de
certos organismos, comumente algas. Além do carreamento de esgotos e
dejetos, a queda das reservas hídricas, em virtude da escassez de chuva
contribui para que o problema ficasse mais evidente e preocupante, sem a
diluição pela água da chuva ou a renovação, no caso de sangramento dos
reservatórios.
Os dados expostos no Portal Hidrológico são se agosto de 2015. Os
açudes estão classificados em quatro categorias: oligotrófica (nível
baixo, com reduzido prejuízo aos usos múltiplos), mesotrófica (nível
médio com prejuízo variável), eutrófica (nível alto, com alto prejuízo) e
hipereutrófica (nível bastante alto, com prejuízo correspondente).
Apenas o Açude Várzea da Volta, na Bacia do Coreaú, foi classificado
como oligotrófico. Cinco reservatórios - Gangorra (Bacia do Coreaú),
Santo Antônio (Médio Jaguaribe), Muquêm e Mamoeiro (Alto Jaguaribe), e
Prazeres (Salgado) - ficaram na categoria mesotrófica. No geral, são 50
eutróficos e 48 hipereutróficos.
Custos
A supervisora de Controle e Qualidade de Água da Companhia de Água e
Esgotos do Ceará (Cagece), Neuma Buarque, admitiu que os custos com o
tratamento chegam a aumentar até 400% em estações de tratamento onde os
reservatórios se encontram em situação mais crítica. Ela explicou que
esses valores são bastante variáveis e tendem a se alterar na medida que
se registram precipitações nas regiões.
"Temos que entender que o fenômeno da eutroficação ocorre na nossa
região quer chova ou não. O fato é que, com a seca, há uma maior
evaporação e, consequentemente, a maior aglomeração de algas", disse. A
elevação de custos, segundo Neuma, decorre da obrigação de atender às
normas de qualidade exigidas pelo Ministério da Saúde, enquanto a
aquisição de muitos produtos são tabelados em dólar e insumos, como da
energia elétrica, sofreram três reajustes no ano passado. "Não ofertamos
o produto que não seja tratado da forma devida", disse.
Ceticismo
O professor do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da
Universidade Federal do Ceará (UFC), Suetônio Mota, manifesta ceticismo
quanto ao fato de que o tratamento convencional venha a neutralizar a
poluição. Segundo ele, muitas das algas são tóxicas e as práticas de
remoção não são totalmente eficientes. "O objetivo maior do tratamento
convencional é retirar a turbidez e alguns micro-organismos. Mas os mais
nocivos não são alcançados", garante.
Para Suetônio Mota, o pior é que não há uma solução a curto prazo,
considerando que boa parte da poluição decorre da ausência de saneamento
básico, o que não será resolvido ao mesmo tempo em que se enfrenta os
efeitos da seca.
Procurada pela reportagem, até o fechamento dessa edição, a Cogerh não se pronunciou.