É
impossível desassociar o Flamengo de sua torcida. Em arrancadas, então,
nem se fala. E o reencontro do time com o G-4 do Brasileirão depois de
quase quatro anos deu origem a uma bela festa no Maracanã. Na vitória
diante do Cruzeiro, na quinta-feira, os rubro-negros presentes deram um
verdadeiro show no estádio, que recebeu mais de 43 mil pessoas. Eles
esbanjaram garganta ao cantar durante os 90 minutos, empurraram a equipe
dentro de campo e encantaram o técnico Oswaldo de Oliveira.
-
Isso é um capítulo à parte. Negócio maravilhoso. Foi fundamental.
Principalmente no final, nos deu muita força. Aquele negócio de "Vamos,
Flamengo". Isso é muito forte, dá uma força muito grande. Mexe com a
gente ali fora, imagina com quem está dentro do campo. A torcida faz o
jogador tirar força de onde não tem - resumiu Oswaldo, que, após a
partida, foi para beira do campo aplaudir incentivo das arquibancadas.
O
show de gogó da torcida rubro-negra não perdoou nem o Hino Nacional,
que por pouco não foi abafado pela massa. A esperança estava estampada
no rosto de cada torcedor. O G-4 enfim era um sonho possível. Bastava
vencer para retornar a um posto de onde estava afastado havia 137
rodadas. A torcida sabia que precisava "entrar em campo". E assim o fez.
No primeiro tempo, enquanto a equipe titubeava na partida, a
arquibancada era a certeza. As palmas em sincronia pareciam mostrar ao
time que havia um coração enorme batendo forte por eles.
Cada
lance, cada corte, cada defesa difícil eram comemoradas como um gol. O
Cruzeiro até ensaiou uma pressão, mas insuficiente para conseguir calar
as arquibancadas. O nervosismo não chegou até a torcida, que percorria o
vasto repertório de músicas. A ausência de um gol era uma espécie de
profanação da festa rubro-negra. Mas eis que Alan Patrick fez justiça.
Quase no fim do primeiro tempo, completou a festa com a única coisa que a
torcida não era capaz de fazer: o gol. O balançar das redes era o play
da última música do repertório, que estava guardada. Guardada, não.
Entalada.
- Ihhhhhh!!! Libertadores, qualquer dia tamo aê - vociferava a voz das arquibancadas.
O
delírio de outrora era a realidade atual. Porém, o despertador tocou em
forma de apito. Ainda faltavam 45 minutos. A etapa final foi menos
dramática para o torcedor. Sem precisar prestar o apoio difícil no
momento ruim, o empurrão era desta vez em busca do segundo gol. A partir
dos 20 minutos, o som foi ao máximo. O Maracanã pulsava. Escanteio para
o Fla. Rebote da defesa. Luiz Antonio correu para a bola sem deixá-la
cair. O torcedor levantou. A bola então rumou ao endereço mais nobre do
gol: o ângulo. Os 98km/h que ela alcançou parece ter levado um pouquinho
da força de cada grito. Era o segundo. Era o G-4. Era a explosão das
arquibancadas. Libertadores não é mais um delírio. É objetivo real.
E
assim é inevitável não lembrar os títulos do Brasileiro de 2009 e da
Copa do Brasil de 2014. Arrancadas abraçadas pela torcida. Neste ano o
filme se repete. Alguém ousa duvidar? Afinal, reza a velha máxima
rubro-negra: deixou chegar... Agora aguenta.