Jaguaribara. O Açude Castanhão, o maior do Ceará,
acumula apenas 3,96% da sua capacidade e a cada dia tem seu volume
reduzido. Os dados são da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos
(Cogerh). No início desde mês, o reservatório acumulava 4,02%. A
tendência é de perda seguida em decorrência da contínua liberação de
água por meio do Eixão das Águas para a Região Metropolitana de
Fortaleza (RMF) e da evaporação mais intensa neste período do ano.
"Nunca imaginei que o Açude Castanhão fosse secar um dia", a afirmação é
do agricultor aposentado e presidente do Sindicato dos Trabalhadores
Rurais de Jaguaribara, Francisco Saldanha, 81. Surpreso, o líder
sindical, produtores rurais e moradores desta cidade, no Vale do
Jaguaribe, assistem com preocupação a perda de volume de água do
reservatório.
A preocupação é geral porque há risco de desabastecimento de dezenas de
cidades na Bacia do Baixo Jaguaribe e na RMF, além da paralisação das
atividades produtivas. O Castanhão, que tem capacidade de acumular 6,7
bilhões de metros cúbicos, tem apenas 266 milhões de metros cúbicos. O
verdadeiro mar de água doce está se exaurindo a cada dia.
"Nunca pensei também que a gente fosse passar seis anos seguidos com
pouca chuva, sem chegar a água nos açudes do Ceará", disse, em tom de
apreensão, Francisco Saldanha. "Essa é a pior crise de água que já vi em
minha vida".
Liberação
Além da falta de recarga de água da chuva desde 2012, o Castanhão
liberou elevado e constante volume de água para atender demandas de
produtores rurais, irrigantes no Vale do Jaguaribe, consumo humano,
comercial e industrial da RMF, inclusive o parque industrial do Pecém.
O Castanhão libera para o Rio Jaguaribe 4,30 metros cúbicos por segundo
e, para o Eixão das Águas, três metros cúbicos por segundo. Para a
Cogerh, a cota de volume morto do reservatório é de 60 milhões de metros
cúbicos. Já para o Departamento Nacional de Obras contra a Seca (Dnocs)
é de 250 milhões de metros cúbicos. Há divergência, portanto, entre os
dois órgãos. O volume morto é a reserva mais profunda ou quando a água
fica abaixo do nível de liberação por gravidade, exigindo, portanto,
bombeamento.
Estimativa
A Cogerh estima que, no fim deste ano, o Castanhão chegue a 169 milhões
de metros cúbicos, ou seja, 2,5%, segundo simulação de esvaziamento do
reservatório. A maior demanda do abastecimento da RMF e do Vale do Baixo
Jaguaribe é atendida pelo Castanhão. "Estamos em contagem regressiva,
pois, se não chover na próxima quadra (fevereiro a maio), haverá colapso
do reservatório", observa Fernando Pimentel, coordenador do Complexo do
Açude Castanhão.
Em fins de fevereiro, dificilmente o Castanhão terá condições de
atender a demanda por água. O titular da SRH, Francisco Teixeira, já
reafirmou que o Ceará mediante o prolongado período de perda de reservas
de água nos açudes, depende da transferência de água do Rio São
Francisco, que é estratégica para reabastecer o Castanhão, de imediato, e
assegurar abastecimento no Médio e Baixo Jaguaribe e, sobretudo, da
RMF.
Caso não ocorram chuvas em 2018 suficientes para uma recarga mínima dos
açudes estratégicos, a situação de colapso nos sistemas de distribuição
chegará a um maior número de cidades. No próximo ano, a transposição
das águas do Rio São Francisco será decisiva para salvar a RMF de uma
grave crise hídrica.
O açude Orós, o segundo maior reservatório do Ceará, acumula apenas 8%
de sua capacidade. Em 31 de dezembro próximo, o reservatório deverá
chegar a 6%, isto é, 120 milhões de metros cúbicos. Ainda de acordo com a
Cogerh, terá condições de atender à demanda atual ao longo primeiro
semestre de 2018.
Queda
No geral, as reservas hídricas do Ceará vêm caindo. Em média, os 155
açudes monitorados pela Cogerh acumulam apenas 9,64%. Um total de 113
reservatórios está com volume inferior a 30%. Só há dois acima de 90% de
água acumulada. Há 44 em volume morto e 18 estão secos.
As três Bacias Hidrográficas que registram menor volume são: Sertões de
Crateús (0,6%), Baixo Jaguaribe (0,9%) e Banabuiú (2,9%). No Médio
Jaguaribe, a situação também permanece crítica (3,6%). O quadro mais
confortável está na região Norte e Litoral: Coreaú (64,9%), Litoral
(47,20%) e Metropolitana (25,1%). Na média, houve uma melhoria pequena
neste ano em comparação com períodos anteriores, por causa das chuvas
acima da média na região Norte e Litorânea, mas a situação é cada vez
mais grave, sobretudo nos açudes estratégicos.