O desaparecimento de um casal de jovens no dia 8 de julho em Santos, no litoral de São Paulo, mobilizou as redes sociais após a tia do rapaz divulgar uma foto dos namorados, pedindo informações. Desde então, o caso foi investigado e tratado pela polícia como sequestro, mas nesta sexta-feira (26), o casal foi encontrado na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, e confessou ter forjado tudo. O caso foi apresentado pela Polícia Civil durante uma coletiva na tarde desta segunda-feira (29).
A ocorrência foi registrada no dia 8 de julho pela família, que estranhou a demora do contato do casal, que tinha saído para levar um computador no conserto. Dois dias após o desaparecimento, as famílias dos jovens passaram a receber mensagens, dizendo que eles estavam sendo mantidos presos por alguém. Os supostos sequestradores mandaram que nem a polícia nem a imprensa fossem avisadas. Nas mensagens, diziam ainda que, se as fotos divulgadas em redes sociais não fossem retiradas do ar, o casal ficaria sem comer.
Na última sexta-feira, o casal, um menor de 17 anos e uma jovem de 20, ligou para a família dizendo que os sequestradores os haviam soltado, pedindo dinheiro para voltarem para a Baixada Santista. A polícia do Rio de Janeiro foi acionada e os encontrou em Copacabana, de onde foram levandos para a Delegacia Antissequestro da cidade.
Na delegacia, o casal disse que o sequestro tinha sido inventado para justificar uma fuga, motivada por uma ameaça que estariam recebendo de uma pessoa interessada na jovem. O casal apresentava marcas roxas pelo corpo. Inicialmente, eles disseram que os hematomas haviam sido feitos pelos sequestradores, mas após confessarem a farsa, falaram que as marcas seriam chupões, feitas um no outro. O casal disse à policia que ficou durante 18 dias em uma casa alugada por dois meses na comunidade da Rocinha, pela qual pagaram R$ 1.500.
A polícia investiga se outras pessoas estão envolvidas na farsa. Segundo o delegado Fábio Szabo Guerra, da Divisão Antissequestro da Polícia Civil, as famílias receberam três ligações do suposto sequestrador, que pedia R$ 10 mil pelo resgate de cada um. Em depoimento, o menor disse que as ligações foram feitas por um rapaz que eles conheceram em uma lan house no Rio de Janeiro. Em troca do favor, o menor disse ter entregado para ele um tablet. Segundo a polícia, apenas o primeiro nome do rapaz foi dito, porque o casal afirma que não o conhecem e não o viram mais.
O delegado disse ainda que, desde o começo das investigações, havia indícios de que não se tratava de sequestro.
O menor disse em depoimento que simulou um assalto dias antes do “'sequestro'”, quando teria sido obrigado por uma pessoa a retirar da conta do pai um valor que, segundo a polícia, pode ter sido usado para pagar o aluguel do imóvel na Rocinha. “"Pode ter sido uma brincadeira, mas mobilizou toda a polícia, tirando a atenção de outros casos”", diz o delegado.
Segundo Aldo Galiano Junior, diretor do Departamento de Polícia Judiciária de São Paulo e Interior (Deinter-6), a investigação está bem adiantada, mas ainda há algumas questões a serem apuradas.
O casal responderá inicialmente por falsa comunicação de crime. O menor será apresentado na Vara da Infância e Juventude, onde poderá ficar recolhido. Segundo o delegado Fábio Szabo, caso seja comprovado o envolvimento de mais de quatro pessoas no caso, todos responderão por formação de quadrilha. O casal também poderá responder por estelionato, já que houve tentativa de tirar dinheiro das famílias e nenhum dos envolvidos passou por perigo.
As investigações tiveram a participação da Polícia Civil de Santos e Rio de Janeiro e da Polícia Federal. A polícia alerta ainda para os casos de simulação de crime. "Todos os casos de falso sequestro que passaram pela delegacia foram esclarecidos e os envolvidos estão respondendo pelo crime"”, conclui Fábio.