Iguatu. Nesta semana houve uma redução de chuvas no sertão do Ceará, mas a previsão da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) é de retorno das precipitações neste fim de semana. Três situações preocupam autoridades e moradores: nova previsão da Funceme revela condições desfavoráveis da quadra invernosa de 2014; praticamente não houve recarga dos reservatórios de médio e grande porte no Estado; e para 2015, a permanência do sistema El Niño pode indicar um novo período de estiagem.
O assistente da Diretoria de Operações da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), Gianni Lima, frisou que o Ceará enfrenta o segundo ano de secas muito intensas. "No Sertão de Crateús e na Bacia do Curu este é o quinto ano seguido de seca hidrológica", observou. "A perspectiva é de uma nova seca em grande parte do Ceará, em 2015, segundo modelo atual do El Niño", adiantou.
Decorridos os dois primeiros meses da quadra invernosa, o nível médio dos reservatórios permanecem praticamente o mesmo em relação ao início deste ano, em torno de 30%. Dos 144 açudes monitorados pela Cogerh, apenas dois têm volume acima de 90% (Curral Velho, em Morada Nova) e Gavião; outros 106 reservatórios estão com volume abaixo de 30%.
Gianni Lima disse que é importante analisar a garantia de abastecimento ao longo dos meses, e não apenas o percentual dos reservatórios. "Todas as cidades com problemas de abastecimento, nas sedes urbanas, estão com solução garantidas ou em andamento", frisou. "O esforço do governo é para evitar colapso".
Até o momento, 15 adutoras de engates rápidos já foram instaladas e mais nove serão implantadas. Quatro cidades enfrentam situação mais crítica: Irauçuba, Canindé, Salitre e Quiterianópolis. Todas com solução (adutora ou poços) realizada ou em andamento.
Na madrugada e manhã de hoje a Funceme registrou chuva em 56 municípios. As cinco maiores precipitações ocorreram em Aracati (55mm), Fortaleza (51mm), Missão Velha (40 mm), Barbalha (37mm) e Crato, no Lameiro (35mm). Choveu ainda em Barro (33mm) e Juazeiro do Norte (29mm). Parte da região Sul do Ceará foi a mais favorecida.
Bastou uma chuva de 55mm para alagar vários pontos da cidade de Aracati, na região do Vale do Jaguaribe. Na Rua do Centro Histórico, onde há diversos casarões tombados, uma lagoa se instalou em frente à Câmara Municipal. No entorno da Rodoviária, os motoristas tiveram que dirigir cautelosos, por conta da água que encobriu alguns buracos na via pública.
Na Rua Joaquim Ponciano, os moradores reclamaram de pontos de alagamentos. Segundo o radialista, Wagner Guiot, as obras de drenagem anunciada pela Prefeitura, no valor de R$ 300 mil, estão atrasadas. A insatisfação da população veio após uma chuva de 100mm que deixou a rua alagada. Sem data de previsão para iniciar os trabalhos, moradores arrancaram a placa que anunciava o serviço.
A meteorologista da Funceme, Dayse Moraes, disse que a tendência para este fim de semana é de retorno das chuvas, porquanto um ramo da Zona de Convergência Intertropical (principal sistema causador de chuva no Ceará) está se aproximando do Estado. "Nos últimos dias, um Cavado de Altos Níveis (CAN) atuou sobre o Ceará, impedindo a formação de nuvens de chuva, mas esse sistema está se afastando", explicou.
Na próxima segunda-feira, durante a reunião do Comitê Integrado da Seca, no Auditório do Comando Geral do Corpo de Bombeiros, em Fortaleza, a meteorologista da Funceme, Meiri Sakamoto, vai apresentar previsões climáticas até junho. Serão apresentados dados e tendência a partir das condições termodinâmicas dos oceanos Atlântico e Pacífico e da atmosfera. Também serão considerados os modelos atmosféricos da Funceme e de várias instituições nacionais e internacionais.
A nova previsão da Funceme vai mostrar que as condições atuais permanecem desfavoráveis às precipitações na maior parte do Ceará. O quadro da estiagem no Estado permanece. Neste ano, a Funceme já divulgou dois prognósticos oficiais de chuva e, na última semana deste mês, um terceiro documento confirma a tendência de irregularidade nas precipitações até o mês de junho.
De acordo com o terceiro prognóstico, a maior probabilidade é de que as chuvas fiquem abaixo da média histórica no trimestre abril - maio - junho na maior parte do Ceará, numa área que se estende da Região Central ao Sul do Estado. Apenas na parte Noroeste, entre o Litoral Norte a Região da Ibiapaba, os modelos sugerem maior probabilidade de chuvas em torno da média histórica.
Essa atualização do prognóstico inclui os dois últimos meses da quadra chuvosa e o primeiro mês da pós-estação (junho). Em janeiro, quando a média histórica é de 98,7 milímetros, choveu somente 46,7. A média em fevereiro é de 127,1mm e foram registrados 92,9mm. O mês de março ainda não terminou, mas a média mensal é de 206,2mm e houve precipitações de apenas 122,9mm em 27 dias. Até ontem, choveu apenas 40,4% da média para o período no Estado. As precipitações menores tornam-se mais grave no Estado, que já registra, nos últimos dois anos, uma das piores secas.