quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Sangue de policial que se suicidou ao vivo está nas mãos do PMDB que comandou RJ

Sangue de policial que se suicidou ao vivo está nas mãos do PMDB que comandou RJ

“Quero ver quem tem disposição pra ver o bagulho ao vivo”, disse o soldado Douglas de Jesus Vieira, de 28 anos, em transmissão ao vivo pelo Facebook no último sábado à noite. Logo em seguida, atirou contra a própria cabeça.

Douglas era soldado da PM há seis anos. Lotado no 24º BPM de Queimados (RJ), há algum tempo vinha se queixando de problemas financeiros em virtude dos atrasos de pagamento por parte da corporação.

“Eu preciso receber, minhas contas vão vencer”, postou ele poucos dias antes.

O Rio de Janeiro de Sergio Cabral, Pezão e demais correligionários do cancerígeno PMDB entrou em colapso e suas finanças são um filme de horror. Diversos serviços públicos estão sendo afetados. 

Hospitais fechados, escolas fechadas, a Fundação de Amparo à Pesquisa interrompeu estudos sobre o zika vírus, aposentados passam aperto nunca antes imaginado.

Em suas relações de amizade com empreiteiros à base de helicópteros, lanchas e jóias de R$ 800 mil, Cabral concedeu isenções fiscais para empresas amigas que deixaram de recolher R$ 138 milhões (apenas em ICMS) para o governo do Rio de Janeiro.

Como não seria difícil de prever, a crise agora atinge outro ponto sensível: as polícias. O governo carioca está atrasando o pagamento de bônus dos policiais que conseguiram os melhores resultados no combate ao crime durante 2016. Há três meses os agentes também estão sem receber pelas folgas trabalhadas e o 13º veio com atraso. Qual o desfecho para isso? O soldado Douglas tinha uma filha pequena para dar de comer. Morto, não ajudará em nada, porém quem pode julgar o desespero de alguém que vê o filho com fome?

O Laboratório de Análise de Violência da UERJ entrevistou 224 PMs e nada menos que 10% declararam já ter tentado o suicídio.

“Estímulo algum para trabalhar no dia a dia. Você sai de casa na sua folga para prestar um serviço, para ter uma renda a mais no seu orçamento. Um trabalho digno dentro da legalidade, você espera receber no mês seguinte e não vem. E não vem. Não vem. Três meses e nada. A única resposta que você tem é aguardar, aguardar”, afirmou recentemente em entrevista a um telejornal um PM que não quis se identificar.

Ao que tudo indica, Douglas tinha histórico de depressão. Internado quatro vezes na ala de psiquiatria do Hospital da Polícia Militar, estava ainda em processo de divórcio de sua esposa e com a carga horária de trabalho sobrecarregada. Por conta das dificuldades e atrasos em receber da PM, vinha fazendo bicos de segurança. A própria ex-esposa fez uma análise certeira:

“Ele tinha histórico de depressão, mas a gota d’água foi o atraso nos salários. (Ele) era muito certinho com as contas. Nos últimos meses, muitas vezes me ligava desesperado. Dizia que estava endividado e não sabia como iria pagar o aluguel”, falou Rayane Cristina dos Santos, com quem Douglas estava ainda casado no papel.

O vídeo original não está mais disponível na página do policial, mas a realidade do Rio de Janeiro está escancarada para quem quiser ver.

Mauro Donato é Jornalista, escritor e fotógrafo nascido em São Paulo.