“Quero ver quem tem disposição pra ver o bagulho ao vivo”,
disse o soldado Douglas de Jesus Vieira, de 28 anos, em transmissão ao
vivo pelo Facebook no último sábado à noite. Logo em seguida, atirou
contra a própria cabeça.
Douglas era soldado da PM há seis anos.
Lotado no 24º BPM de Queimados (RJ), há algum tempo vinha se queixando
de problemas financeiros em virtude dos atrasos de pagamento por parte
da corporação.
“Eu preciso receber, minhas contas vão vencer”, postou ele poucos dias antes.
O Rio de Janeiro de Sergio Cabral,
Pezão e demais correligionários do cancerígeno PMDB entrou em colapso e
suas finanças são um filme de horror. Diversos serviços públicos estão
sendo afetados.
Hospitais fechados, escolas fechadas, a Fundação de
Amparo à Pesquisa interrompeu estudos sobre o zika vírus, aposentados
passam aperto nunca antes imaginado.
Em suas relações de amizade com
empreiteiros à base de helicópteros, lanchas e jóias de R$ 800 mil,
Cabral concedeu isenções fiscais para empresas amigas que deixaram de
recolher R$ 138 milhões (apenas em ICMS) para o governo do Rio de
Janeiro.
Como não seria difícil de prever, a
crise agora atinge outro ponto sensível: as polícias. O governo carioca
está atrasando o pagamento de bônus dos policiais que conseguiram os
melhores resultados no combate ao crime durante 2016. Há três meses os
agentes também estão sem receber pelas folgas trabalhadas e o 13º veio
com atraso. Qual o desfecho para isso? O soldado Douglas tinha uma filha
pequena para dar de comer. Morto, não ajudará em nada, porém quem pode
julgar o desespero de alguém que vê o filho com fome?
O Laboratório de Análise de Violência da UERJ entrevistou 224 PMs e nada menos que 10% declararam já ter tentado o suicídio.
“Estímulo algum para trabalhar no
dia a dia. Você sai de casa na sua folga para prestar um serviço, para
ter uma renda a mais no seu orçamento. Um trabalho digno dentro da
legalidade, você espera receber no mês seguinte e não vem. E não vem.
Não vem. Três meses e nada. A única resposta que você tem é aguardar,
aguardar”, afirmou recentemente em entrevista a um telejornal um PM que não quis se identificar.
Ao que tudo indica, Douglas tinha
histórico de depressão. Internado quatro vezes na ala de psiquiatria do
Hospital da Polícia Militar, estava ainda em processo de divórcio de sua
esposa e com a carga horária de trabalho sobrecarregada. Por conta das
dificuldades e atrasos em receber da PM, vinha fazendo bicos de
segurança. A própria ex-esposa fez uma análise certeira:
“Ele tinha histórico de depressão,
mas a gota d’água foi o atraso nos salários. (Ele) era muito certinho
com as contas. Nos últimos meses, muitas vezes me ligava desesperado.
Dizia que estava endividado e não sabia como iria pagar o aluguel”, falou Rayane Cristina dos Santos, com quem Douglas estava ainda casado no papel.
O vídeo original não está mais
disponível na página do policial, mas a realidade do Rio de Janeiro está
escancarada para quem quiser ver.
Mauro Donato é Jornalista, escritor e fotógrafo nascido em São Paulo.