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Pelo menos 75 pessoas foram mortas no Espírito Santo – que vive grave crise na segurança pública
– entre sábado e esta terça-feira depois que policiais militares
deixaram as ruas e permaneceram aquartelados, o que dá uma média de 19
assassinatos por dia, seis vezes a média registrada no estado no ano
passado, que foi de 3,2 por dia.
O caos começou a se instaurar, principalmente na região
metropolitana de Vitória, desde sábado, quando parentes de policiais
militares passaram a protestar em frente aos batalhões impedindo a saída
dos veículos, o que praticamente deixou as ruas sem policiamento. Os
PMs, que são proibidos por lei de fazer greve, reivindicam reajuste salarial e pagamento de auxílio-alimentação, auxílio-periculosidade, insalubridade e adicional noturno aos PMS.
Apesar do reforço de mil homens das Forças Armadas e duzentos homens da Força Nacional,
determinados pelo presidente Michel Temer, o Espírito Santo segue
vivendo mais um dia de insegurança nesta terça-feira, com assaltos,
saques e assassinatos. A ação de patrulhamento federal, anunciada pelo
ministro da Defesa, Raul Jungmann, e pelo governador em exercício, César
Roberto Colnago (PSDB), foi iniciada, mas ainda não permitiu que fosse
retomada a normalidade.
Os militares atuarão no policiamento das ruas em
conjunto com os órgãos de segurança locais, segundo o Ministério da
Defesa. Ainda no início desta semana, houve troca de comando na Polícia
Militar. O coronel da PM Nylton Rodrigues assume a pasta no lugar do
comandante-geral, coronel Laércio Oliveira, que foi exonerado do cargo
após menos de um mês de sua nomeação.
O início do ano letivo nas escolas, que estava previsto para
segunda-feira, continua suspenso, os postos de saúde continuam fechados e
o Departamento Médico Legal (DML) chegou a ser fechado pela Polícia Civil na segunda-feira por conta da superlotação. O local
dispõe de doze gavetas para corpos, mas acumulava mais de trinta mortos
– alguns deles estavam espalhados pelo chão. Repartições públicas estão
restringindo atendimento.
Os ônibus do transporte público começaram a retornar as atividades
nesta manhã – inicialmente, com a frota utilizada aos sábados, de cerca
de 60% do total. Será uma operação-teste até as 19 horas, quando será
decidido se os ônibus seguirão circulando durante a noite.
‘Greve branca’
A Justiça do Espírito Santo classificou a paralisação como “greve branca” e declarou ilegal o movimento
dos familiares dos policiais militares, que estão acampados em frente a
11 batalhões em mais de 30 cidades do estado, e determinou multa de 100 mil reais por dia às associações que representam os policiais capixabas, caso haja descumprimento da decisão.
Segundo o diretor social e de relações públicas da Associação de Cabos e Soldados da Polícia Militar (ACS), Thiago Bicalho, o movimento foi espontâneo.
De acordo com a entidade, o salário-base de um policial no estado é 2
600 reais, enquanto a média nacional chega a 4 000 reais. A entidade
argumenta que há anos os policiais não têm aumento salarial e que essa
situação acabou por motivar familiares dos policiais a fazerem as
manifestações em frente aos quartéis.
O cenário no estado ainda pode piorar na próxima quinta-feira, quando os policiais civis fazem assembleia para definir se entram em greve por melhores salários. “Nosso salário é um dos mais baixos do Brasil.
Nos últimos anos, não houve recomposição por causa da inflação”, afirma
Humberto Mileip, vice-presidente do Sindicato dos Policiais Civis
(Sindipol). O governo afirma nem ter conhecimento da possibilidade de
paralisação.