Três meninas estão internadas no Hospital Estadual Guilherme Álvaro, em Santos, litoral de São Paulo, após passarem mal, com queixas de dores de cabeça e perda de sensibilidade nas pernas, depois de serem vacinadas contra HPV em Bertioga, também no litoral. Onze meninas, entre 11 e 13 anos, foram atendidas em um hospital da cidade com supostas reações da vacina, aplicada em garotas de uma escola pública, durante campanha nacional de imunização para prevenir o câncer de colo de útero.
Médicos suspeitam que ansiedade e medo de agulha tenham causado uma reação que afetou os movimentos das jovens. Helena Sato, diretora de Imunização da Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo, diz que o quadro não tem a ver com a vacina.
— Avaliação feita por neurologista aponta que elas não estão com paralisia. A hipótese provável é uma reação de ansiedade decorrente da injeção, medo da agulha e da dor que a injeção pode causar. Considerando esta hipótese, não suspendemos o lote, uma vez que 480 meninas em Bertioga receberam vacina do mesmo lote. Foi pontual — disse Sato.
No dia 3 de setembro, 80 meninas foram vacinadas em uma escola da cidade. Na sexta-feira, 11 reclamaram de tontura, dor de cabeça e fraqueza. Elas foram atendidas e liberadas após se sentirem melhor. No entanto, no sábado, três apresentaram dificuldades para andar e fraqueza muscular. E foram encaminhadas para um hospital estadual de Santos, também no litoral.
— Duas melhoraram, já voltaram a caminhar sozinhas. A terceira jovem ainda continua com as reações e passará por uma nova avaliação neurológica. O caso está sendo investigado —afirmou o secretário de Saúde de Bertioga, Manoel Prieto Alvarez.
Luisa Villa, coordenadora do Instituto do HPV, uma das principais especialistas sobre o assunto no país, afirmou que não há relatos que associem reações anafiláticas graves à vacina.
— O que está sendo observado é esporádico, sem comprovação de ser causada pelo componentes da vacina. Pode ser uma injeção intramuscular mal dada. Não podemos assustar os pais. A vacina é importante e eficaz — destacou a especialista.
Renato Kfouri, presidente da Associação Brasileira de Imunizações, diz que é preciso cuidado para estabelecer relação de causa e efeito entre a vacina e as reações das jovens, principalmente a perda de sensibilidade nas pernas. Segundo Kfouri, uma revisão recente sobre o perfil de segurança da vacina contra HPV nos Estados Unidos, país que costuma fazer vigilância do medicamento após o licenciamento, aponta que os efeitos adversos foram registradas em 22 mil pessoas, entre 67 milhões de pessoas vacinas desde 2009.
— Isso equivale a 0,03% e revela um perfil de segurança. No Brasil, o modo de fabricação é igual aos Estados Unidos e outros países — afirma Kfouri.
De certo modo, diz ele, o caso ocorrido em Bertioga chama a atenção e precisa ser melhor investigado:
— Precisa ver a questão emocional, se é algo relacionado ao pânico por agulha, a técnica de aplicação da vacina. E 30% das vacinas usadas no estado de São Paulo pertencem ao mesmo lote que foi para Bertioga.
Jarbas Barbosa, secretário de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde, também acredita que a questão seja uma reação de ansiedade
— Por se tratar de adolescentes, recomenda-se que as vacinas sejam aplicadas nas jovens sentadas, para evitar desmaios. Acreditamos que estas jovens vão melhorar progressivamente. A vacina usada no Brasil é importada dos Estados Unidos, a mesma usada pelos americanos há seis anos — declarou.
Incidência de HPV
A vacina não é feita com o vírus, e sim com uma proteína que “imita” o vírus, ela não leva seu DNA. Mesmo assim, a vacina contra o HPV ainda é polêmica. Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), apenas 5% das infecções desenvolverão alguma manifestação aparente, como verrugas e o próprio câncer de colo de útero. O índice levanta a discussão de se vacinar ou não. O papilomavírus humano, mais conhecido como HPV, possui mais de cem tipos que podem infectar a pele e as mucosas de homens e mulheres. Sua principal forma de transmissão é pela via sexual, independente de haver penetração.
Algumas variações específicas do vírus provocam verrugas transitórias e outros tipos de lesões, sendo 90% dos casos provocados pelos tipos 6 e 11. Pelo menos outros 13 tipos podem produzir lesões com potencial de desenvolvimento de câncer, tendo os tipos 16 e 18 presentes em 70% dos casos de câncer de colo de útero.
Segundo o Inca, aproximadamente 291 milhões de mulheres no mundo são portadoras do HPV, sendo que 32% estão infectadas pelos tipos 16, 18 ou ambos. Comparando-se esse dado com a incidência anual de aproximadamente 500 mil casos de câncer de colo do útero, conclui-se que o câncer é um desfecho raro. A infecção pelo HPV é um fator necessário, mas não suficiente, para o desenvolvimento do câncer do colo do útero.
A vacina adotada pelo Ministério da Saúde é chamada quadrivalente porque engloba a imunização exatamente dos tipos de vírus mais comuns em lesões leves, moderadas e graves provocadas pelo HPV: tipos 6, 11, 16 e 18. O objetivo da campanha é evitar que meninas que ainda não iniciaram suas vidas sexuais sejam expostas a essas variações do vírus. Por isso a estratégia se inicia em jovens de 11 a 13 anos de idade e em breve começará a imunizar também meninas de 9 a 11 anos.
Fonte: Globo.com