terça-feira, 9 de setembro de 2014

Jovens perdem sensibilidade nas pernas após vacina contra HPV

Três meninas estão internadas no Hospital Estadual Guilherme Álvaro, em Santos, litoral de São Paulo, após passarem mal, com queixas de dores de cabeça e perda de sensibilidade nas pernas, depois de serem vacinadas contra HPV em Bertioga, também no litoral. Onze meninas, entre 11 e 13 anos, foram atendidas em um hospital da cidade com supostas reações da vacina, aplicada em garotas de uma escola pública, durante campanha nacional de imunização para prevenir o câncer de colo de útero.

Médicos suspeitam que ansiedade e medo de agulha tenham causado uma reação que afetou os movimentos das jovens. Helena Sato, diretora de Imunização da Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo, diz que o quadro não tem a ver com a vacina.

— Avaliação feita por neurologista aponta que elas não estão com paralisia. A hipótese provável é uma reação de ansiedade decorrente da injeção, medo da agulha e da dor que a injeção pode causar. Considerando esta hipótese, não suspendemos o lote, uma vez que 480 meninas em Bertioga receberam vacina do mesmo lote. Foi pontual — disse Sato.

No dia 3 de setembro, 80 meninas foram vacinadas em uma escola da cidade. Na sexta-feira, 11 reclamaram de tontura, dor de cabeça e fraqueza. Elas foram atendidas e liberadas após se sentirem melhor. No entanto, no sábado, três apresentaram dificuldades para andar e fraqueza muscular. E foram encaminhadas para um hospital estadual de Santos, também no litoral.

— Duas melhoraram, já voltaram a caminhar sozinhas. A terceira jovem ainda continua com as reações e passará por uma nova avaliação neurológica. O caso está sendo investigado —afirmou o secretário de Saúde de Bertioga, Manoel Prieto Alvarez.

Luisa Villa, coordenadora do Instituto do HPV, uma das principais especialistas sobre o assunto no país, afirmou que não há relatos que associem reações anafiláticas graves à vacina.

— O que está sendo observado é esporádico, sem comprovação de ser causada pelo componentes da vacina. Pode ser uma injeção intramuscular mal dada. Não podemos assustar os pais. A vacina é importante e eficaz — destacou a especialista.

Renato Kfouri, presidente da Associação Brasileira de Imunizações, diz que é preciso cuidado para estabelecer relação de causa e efeito entre a vacina e as reações das jovens, principalmente a perda de sensibilidade nas pernas. Segundo Kfouri, uma revisão recente sobre o perfil de segurança da vacina contra HPV nos Estados Unidos, país que costuma fazer vigilância do medicamento após o licenciamento, aponta que os efeitos adversos foram registradas em 22 mil pessoas, entre 67 milhões de pessoas vacinas desde 2009.

— Isso equivale a 0,03% e revela um perfil de segurança. No Brasil, o modo de fabricação é igual aos Estados Unidos e outros países — afirma Kfouri.

De certo modo, diz ele, o caso ocorrido em Bertioga chama a atenção e precisa ser melhor investigado:

— Precisa ver a questão emocional, se é algo relacionado ao pânico por agulha, a técnica de aplicação da vacina. E 30% das vacinas usadas no estado de São Paulo pertencem ao mesmo lote que foi para Bertioga.

Jarbas Barbosa, secretário de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde, também acredita que a questão seja uma reação de ansiedade

— Por se tratar de adolescentes, recomenda-se que as vacinas sejam aplicadas nas jovens sentadas, para evitar desmaios. Acreditamos que estas jovens vão melhorar progressivamente. A vacina usada no Brasil é importada dos Estados Unidos, a mesma usada pelos americanos há seis anos — declarou.

Incidência de HPV

A vacina não é feita com o vírus, e sim com uma proteína que “imita” o vírus, ela não leva seu DNA. Mesmo assim, a vacina contra o HPV ainda é polêmica. Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), apenas 5% das infecções desenvolverão alguma manifestação aparente, como verrugas e o próprio câncer de colo de útero. O índice levanta a discussão de se vacinar ou não. O papilomavírus humano, mais conhecido como HPV, possui mais de cem tipos que podem infectar a pele e as mucosas de homens e mulheres. Sua principal forma de transmissão é pela via sexual, independente de haver penetração.

Algumas variações específicas do vírus provocam verrugas transitórias e outros tipos de lesões, sendo 90% dos casos provocados pelos tipos 6 e 11. Pelo menos outros 13 tipos podem produzir lesões com potencial de desenvolvimento de câncer, tendo os tipos 16 e 18 presentes em 70% dos casos de câncer de colo de útero.

Segundo o Inca, aproximadamente 291 milhões de mulheres no mundo são portadoras do HPV, sendo que 32% estão infectadas pelos tipos 16, 18 ou ambos. Comparando-se esse dado com a incidência anual de aproximadamente 500 mil casos de câncer de colo do útero, conclui-se que o câncer é um desfecho raro. A infecção pelo HPV é um fator necessário, mas não suficiente, para o desenvolvimento do câncer do colo do útero.

A vacina adotada pelo Ministério da Saúde é chamada quadrivalente porque engloba a imunização exatamente dos tipos de vírus mais comuns em lesões leves, moderadas e graves provocadas pelo HPV: tipos 6, 11, 16 e 18. O objetivo da campanha é evitar que meninas que ainda não iniciaram suas vidas sexuais sejam expostas a essas variações do vírus. Por isso a estratégia se inicia em jovens de 11 a 13 anos de idade e em breve começará a imunizar também meninas de 9 a 11 anos.

Fonte: Globo.com