sábado, 29 de março de 2014

Jovens enganados por falso olheiro voltaram ontem a Fortaleza

Na madrugada da última sexta-feira (28), retornaram a Fortaleza 22 dos adolescentes que estavam em São Paulo e foram enganados por Daniel Magnum Nunes da Costa, 28, que se passava por um olheiro de jogadores de futebol. Um deles estava acompanhado pela mãe, que foi a São Paulo para buscar o filho. Os demais estavam sob os cuidados do Conselho Tutelar. No total, 33 garotos, com idades entre 11 e 21 anos, ficaram alojados em uma casa em São Bernardo do Campo (SP), que não apresentava estrutura adequada.

A partir de agora, o Conselho Tutelar fará o encaminhamento dos jovens e das famílias a psicólogos da rede pública, bem como reencaminhá-los às escolas, já que muitos deles tiveram as suas matrículas canceladas.

De acordo com Valdeci Paiva, conselheiro tutelar que acompanha o caso, aqueles com idades maiores de 18 anos conseguiram retornar antes para casa ou permaneceram em São Paulo por conta própria. Os demais retornaram quinta-feira. "Logo que fomos notificados sobre o caso, o Conselho Tutelar daqui entrou em contato com o de São Paulo. Os jovens foram alojados na Fundação Criança, em São Bernardo do Campo, e precisaram esperar a autorização judicial para voltarem. As passagens foram conseguidas por meio da Secretaria de Direitos Humanos de Fortaleza", conta.

Daniel Magnum foi preso em flagrante. Ele é acusado ainda de maustratos, estelionato, estupro de vulnerável e falsificação de documento público, pois ele diminuía a idade dos aliciados nos documentos, para facilitar a contratação pelos clubes.

Magnum foi acusado de aliciar os 33 jovens com a promessa de testes em três grandes clubes esportivos paulistas. O primeiro grupo de adolescentes partiu no último dia 2 de fevereiro. O destino divulgado por Daniel aos pais era a cidade de Campinas, no interior de São Paulo. Os jovens, no entanto, foram levados a uma casa em São Bernardo do Campo. No local, os jovens sofreram com a falta de alimentação, de higiene e dormiram no chão, já que não havia camas.

"Tive meus documentos falsificados e comemos muito mal. Às vezes, comíamos apenas dois pães pela manhã, arroz com carne moída no almoço e dois pães com café à noite. Quando não íamos treinar, ficávamos trancados. Os treinos deviam ser gratuitos, mas chegando lá, ele passou a cobrar uma taxa de R$ 20 por cada um. Deixamos de treinar por falta de condições físicas, já que não nos alimentávamos bem", conta um dos meninos.

Abusos

Paiva afirma que, embora não tenham sido relatados casos de estupro, os adolescentes já afirmaram que Magnum, por vezes, fazia comentários de cunho pornográfico e outros abusos.

O resgate dos jovens aconteceu depois de alguns deles passarem mal, em decorrência da fome. Um dos adolescentes possui problemas cardíacos e chegou a sofrer uma convulsão, num momento em que Magnum não estava em casa. Os mais velhos decidiram recorrer aos vizinhos, que chamaram a Polícia Militar. Os agentes esperaram que Daniel retornasse e prenderam-no em flagrante.

Ceará garante 30 dias de treino aos adolescentes

Os jovens resgatados vão começar, a partir de segunda-feira (1º), um período de treino de 30 dias em Itaitinga, no Ceará Sporting Clube. A atividade será como uma seleção, e alguns poderão ser aproveitados pelo clube. "Agora, mais do que nunca, acredito que eu posso realizar meu sonho", afirma um dos meninos.

Daniel Magnum era o diretor de um time de futebol, o Santa Fé Futebol Clube, no bairro José Walter, e selecionava jovens que tinham o desejo de se tornar jogadores de futebol. Em agosto de 2013, ele já havia levado os garotos ao Rio Grande do Sul, onde passariam quatro meses. Dois meses depois, no entanto, os jovens retornaram. Magnum alegou que o frio dificultou a realização dos treinos. "Como correu tudo bem, eu me senti segura em mandar meu filho para São Paulo", afirmou uma das mães.