Quinta-feira, 14 de julho de 2016, uma da tarde. Uma ligação.
– Mainha, quando a senhora vai comprar meu tênis da academia?
– Quando você vai começar, meu filho?
– Segunda.
– Então sábado a gente compra.
Fazendo
planos. Foi assim a última conversa que a cearense Guta Alencar teve
com Felipe, filho mais velho, à época com 16 anos. Horas depois, o
menino “lindo, comunicativo, generoso e dedicado à igreja e às coisas de
Deus” tiraria a própria vida.
Faz
6 anos, mas tempo nenhum foi ou será capaz de apagar as palavras dele
da mente, o abraço dele da pele, o cheiro dele do olfato, como garantiu
Guta em conversa com o Diário do Nordeste.
Quando
perdi meu filho, eu achei que não ia suportar. As pessoas falam ‘ah,
mas você tem outros filhos’. Nenhum substitui o outro. A dor é única.
GUTA ALENCAR
Gerente administrativa e estudante de Psicologia
Três
anos depois, em junho de 2019, a dor aguda e única dobrou. Davi
Alencar, que nasceu 1 ano e 4 dias depois de Felipe, não suportou a vida
que ficou sem o irmão, com quem até dormia junto. E também partiu. Era o
segundo suicídio ao qual Guta precisaria sobreviver.
“Eles
eram extremamente apegados, cresceram fazendo absolutamente tudo
juntos. E eu também muito apegada a eles, porque só tive outra filha
quando o Felipe, mais velho, já ia fazer 14 anos. Nossa vida foi sempre
nós três muito juntos”, reforça a mãe.
É
como se, depois que se tornou mãe, cada pedaço do coração de Guta
pertencesse a um dos filhos. “Hoje, tá lá o pedacinho da Eva, minha mais
nova. Meu coração não é completo.”
Sabe
o que é alguém abrir o seu peito sem anestesia, arrancar um pedaço do
seu coração e costurar o seu peito de volta? Foi assim. Não tem um dia
que eu não lembre dos meus filhos e sinta falta deles. Eu não vivo mais,
eu sobrevivo.