quinta-feira, 12 de agosto de 2021

Ceará tem primeiro caso de transmissão comunitária da variante; orientação é evitar viagens

Quem pode ter interesse em não cobrar testes ou vacinação de quem chega aos aeroportos?(foto: BARBARA MOIRA)
Quem pode ter interesse em não cobrar testes ou vacinação de quem chega aos aeroportos?(foto: BARBARA MOIRA)

O Ceará registrou o primeiro caso de transmissão interna da chamada variante Delta do coronavírus. Trata-se de profissional de saúde do município de Icó. É o 16º caso confirmado da variante no Ceará, mas os outros 15 haviam sido de pessoas que viajaram a outros estados e lá foram infectados. Porém, o profissional de Icó não fez viagens recentes nem teve contato com viajantes. Assim, o caso é considerado transmissão comunitária. A variante está circulando no Ceará.

A Delta é mais transmissível. Documento do Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos a define como tão contagiosa quanto a catapora. A capacidade de imunização das vacinas, em alguns casos, depende da segunda dose. Em outros casos, está ainda em estudo.

O que significa a confirmação de transmissão comunitária? Vejamos o exemplo da Austrália e da China. Sabe o que está ocorrendo lá por causa da cepa? Lockdown. Israel, país que mais vacinou no mundo, também planeja avançar nas restrições. Estados Unidos e Reino Unido também estão em alerta e começam a planejar restrições.

Ah, lá vem o Érico dizer que vai ter lockdown de novo no Ceará. Não estou dizendo isso, mas estou apontando que isso é possível. A julgar pela postura de tanta gente por aqui, diria até que é provável. Essa tem sido a rota da pandemia por aqui. As coisas começam na Ásia, espalham-se por Europa, chegam aos Estados Unidos. E o Brasil é incapaz de aprender com os erros alheios e se precaver.

Por causa da variante Delta, não houve avanço na flexibilização das restrições no decreto do governador Camilo Santana (PT) da semana passada. Nesta quarta, a Secretaria da Saúde do Ceará recomendou que viagens de um município para outro do Estado só ocorra em "casos estritamente necessários".

Lembra quando começaram as restrições no início do ano? Começaram na segunda metade de janeiro, com recomendação para se evitar deslocamentos intermunicipais. As regras ficaram gradualmente mais rígidas, até chegar ao lockdown no começo de março. Estamos vendo o mesmo filme? Não sei. A sequência até agora é bem parecida. A diferença, extremamente favorável ao momento atual, é o avanço da vacinação. Que ganhe velocidade. E que a segunda dose chegue a tantos quanto possível, pois é necessária para conter a variante.

Esse é o contexto em que ocorre uma inacreditável disputa na Justiça.

A batalha antes da batalha contra a variante Delta

Na sexta-feira passada, o governador Camilo Santana (PT) anunciou que iria à Justiça para que fossem exigidos de viajantes que chegassem ao Ceará testes PCR ou vacinação concluída com duas doses ou dose única da Janssen. É inacreditável que a Justiça precise ser acionada para União e Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) acatarem a determinação, que interessa a todo mundo. Até aos viajantes. Ontem, veio a decisão favorável.

O triste da questão ter de se levada à Justiça é que não é a primeira vez. Em março de 2020, o Governo do Ceará foi à Justiça para que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) permitir triagem de passageiros que chegavam ao aeroporto de Fortaleza. A decisão foi favorável, mas a Anvisa recorreu, porque não queria fazer.

Houvesse a barreira sanitária no início, teria sido possível quem sabe controlar a pandemia antes de se disseminar. No mesmo mês, o Estado do Ceará obteve liminar para impedir o ingresso de passageiros estrangeiros de países que tinham então casos confirmados de Covid-19. O Governo Federal recorreu e derrubou a liminar. Menos de 48 horas depois, a própria União, por recomendação da Anvisa, proibiu por 30 dias a entrada de estrangeiros de todas as nacionalidades.

Em outubro passado, a Anvisa negou pedido do governo cearense para testar passageiros que chegavam em voos internacionais. Em março deste ano, a Justiça Federal no Ceará negou pedido do Ministério Público Federal para que fosse obrigatório apresentar exame RT-PCR negativo para embarcar em voos em todo o Brasil.

Olha, eu entendo, embora discorde, que as pessoas sejam contra lockdown por razões econômicas, ainda que as autoridades apontem como o meio para salvar vidas e assegurar atendimento hospitalar. Embora pense de forma radicalmente diferente, sou capaz de entender o interesse que envolve. Mas, quem é contra testar as pessoas que viajam, correndo risco de transportar o vírus de um lado para outro. Leva algum tempo, mas não há termo de comparação entre esforço e benefício. Ainda assim, é a recorrente briga judicial.

FONTE O POVO