O
impacto da pandemia da Covid-19 vai além das tragédias causadas apenas
por ela. De forma geral, a doença também se soma a outras enfermidades e
sinistros que levam a óbito no Ceará. Nos 15 meses de pandemia
acumulados até o momento, o valor mediano é de 4.400 registros de óbitos
por mês. Nos dois anos anteriores, 2018 e 2019, o valor era de 3.480.
O
aumento de 26% nos registros mensais é de um levantamento do Diário do
Nordeste com base em dados do Portal da Transparência da Associação
Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen), que leva em
consideração informações fornecidas por cartórios.
Até
2019, as principais causas identificadas de óbitos no Estado eram
pneumonia, septicemia (infecção generalizada), insuficiência
respiratória, acidente vascular cerebral (AVC) e infarto.
Porém,
em 2020, a Covid-19 ultrapassou todas essas causas e inflou os números
gerais. Como parte dos casos não foi identificada em tempo hábil, também
cresceram os registros de mortes por pneumonia e insuficiência
respiratória.
De
acordo com a plataforma IntegraSUS, da Secretaria da Saúde do Ceará
(Sesa), o Ceará já acumula 19.848 óbitos causados pela doença pandêmica,
de março de 2020 a 24 de maio de 2021.
Um
dos lutos é atravessado pela coreógrafa e professora de dança Emanuelle
Câmara, que perdeu a mãe, Antônia, no fim de abril. A mulher de 58 anos
chegou a ficar três dias hospitalizada com insuficiência respiratória
causada pelo coronavírus, mas não resistiu às complicações.
Hoje,
a filha ainda percebe muito desrespeito da população aos protocolos de
prevenção em Caucaia, cidade da Região Metropolitana de Fortaleza onde
mora. “Dá vontade de pegar as pessoas e dizer: ‘por favor,
consciência!’. É bem provável a gente entrar numa terceira onda se
continuar assim”, lamenta.
Excesso de mortes
Segundo
o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), a infecção por
Sars-CoV-2 não é necessariamente a causa direta do excesso de
mortalidade, mas um reflexo indireto da epidemia em todo o País.
Entre
as mortes além da média, podem estar aquelas provocadas “pela
sobrecarga nos serviços de saúde, pela interrupção de tratamento de
doenças crônicas ou pela resistência de pacientes em buscar assistência à
saúde, pelo medo de se infectar pelo novo coronavírus”.
Ricardo
Pereira Silva, professor de Cardiologia da Faculdade de Medicina da
Universidade Federal do Ceará (UFC), analisa que, desde o início da
pandemia, vários pacientes com sintomas de infarto do miocárdio e AVC
deixaram de procurar o pronto-socorro por receio da doença.
Portadores
de doenças cardíacas, pulmonares e crônicas, de forma geral, devem se
proteger mais, mas não se afastar de seus médicos”
Ricardo Pereira
Cardiologista
Prevenção de doenças
O
médico destaca a necessidade de se manter hábitos de vida saudáveis,
mesmo com as dificuldades da pandemia, sobretudo para quem apresenta
fatores de risco como obesidade, tabagismo, colesterol alto, diabetes e
histórico familiar de doenças crônicas.
A
prevenção de doenças cardiovasculares, por exemplo, engloba a
“aquisição de bons hábitos que incluem o peso ideal, uma alimentação
adequada baseada em frutas e verduras, exercício físico sistemático e
práticas para diminuir o estresse”, recomenda.