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A Polícia Federal (PF) deflagrou, ontem, a maior operação da história da Instituição, a 'Caixa Forte - Fase II', para desarticular um esquema de lavagem de dinheiro da facção Primeiro Comando da Capital (PCC) no Brasil. No Ceará, foram cumpridos 22 mandados de prisão e 13 mandados de busca e apreensão. A reportagem apurou que a maioria dos alvos que estavam em território cearense são familiares de membros da organização criminosa presos.
Conforme a PF, a facção encaminhava parte do dinheiro arrecadado com tráfico de drogas para o 'Setor da Ajuda', responsável por recompensar a família de pelo menos 210 presos de todo o País que possuem cargos de liderança ou cumpriram missões relevantes no grupo criminoso. A maioria deles está no sistema penitenciário federal. A 'mesada' era enviada por contas bancárias de familiares 'laranjas', que não tinham envolvimento com outros crimes.
"Os valores variavam de acordo com o motivo que os presos foram remetidos ao sistema penitenciário federal. Se eles foram remetidos por pertencer à facção, recebe X. Se for remetido por pertencer a cargo de relevância, recebe 2X. E se ele executou alguma missão da facção, recebe 3X, leia-se ter matado algum servidor público", afirma o delegado da Superintendência da Polícia Federal em Minas Gerais e coordenador da Operação, Alexsander Castro. Segundo ele, os valores transferidos são tabelados, mas não podem ser divulgados devido ao sigilo da investigação.
Contas bancárias bloqueadas
Essa fase da Operação derivou dos levantamentos da primeira fase, que identificou os membros do PCC responsáveis pelo 'Setor do Progresso' da facção, que se dedica exclusivamente à lavagem de dinheiro proveniente do tráfico de drogas.
A 'Caixa Forte - Fase II', que contou com a participação de 1.100 policiais federais, cumpriu o total de 623 ordens judiciais, expedidos pela 2ª Vara de Tóxicos de Belo Horizonte/MG, em 19 estados do Brasil e até no exterior. Sendo 422 mandados de prisão preventiva e 201 mandados de busca e apreensão. No Ceará, 13 mandados de prisão foram cumpridos em Fortaleza; oito em Itaitinga; e um em Aquiraz.
A Justiça de Minas Gerais também determinou o bloqueio de R$ 252 milhões nas contas bancárias da facção. Durante o cumprimento de mandado de busca e apreensão, a PF apreendeu R$ 2 milhões e US$ 730 mil (dólares) em espécie - o que totaliza R$ 6 milhões - em uma residência no Município de Santos, em São Paulo, berço da facção criminosa.
"Essa é uma operação institucional. A Polícia Federal traçou uma estratégia para combater as organizações criminosas dedicadas a crimes violentos. É uma operação histórica porque não veicula as prisões de baixo escalão. Ela veicula a localização de esquemas de lavagem de dinheiro, de como esses valores são movimentados. Ela visa, acima de tudo, desarticular, desestabilizar, quebrar a parte financeira da organização criminosa", classifica o coordenador geral de Repressão a Drogas, Armas e Facções Criminosas da Polícia Federal, Elvis Secco.
Além da PF, participaram da Operação a Polícia Civil de Minas Gerais, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e o Departamento Penitenciário Nacional (Depen) e o Sistema Penitenciário de Minas Gerais, que compõem a Força Integrada de Combate ao Crime Organizado de Minas Gerais (FICCO).
Mandados no Chile
Dois mandados de prisão foram cumpridos no Chile, contra Mauricio Hernández Norambuena e a mulher, com apoio da Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol), segundo informações da TV Globo. O ex-guerrilheiro chileno estava preso no Brasil até agosto de 2019, quando foi extraditado. O casal também seria beneficiado pela 'mesada' do PCC.
Norambuena, ex-dirigente da Frente Patriótica Manuel Rodríguez (FPMR), organização que combateu a ditadura Pinochet no Chile, foi condenado no seu País pelos assassinatos de um senador e de um empresário. Ao fugir para o Brasil, teria se relacionado com a facção Primeiro Comando da Capital e foi condenado a 30 anos de prisão por participar do sequestro do publicitário Washington Olivetto.