Mais um desdobramento da venda da Oi aconteceu na
noite da quarta-feira, 22. O anúncio foi da exclusividade temporária da
empresa Highline para negociar a compra de parte da operadora. O
acontecimento foi divulgado em seu site como "fato relevante", documento
que deve ser publicado por empresas com negociação na bolsa de valores
em caso de movimentações que gerem grande impacto no mercado.
A Oi está em recuperação judicial desde 2016,
quando as dívidas acumuladas da empresa chegaram a R$ 65 bilhões -
atualmente o valor está em R$ 18 bilhões. Como parte do plano de
reestruturação elaborado pela assessoria financeira do Bank Of America,
está a venda a divisão de telefonia móvel da operadora, além da
infraestrutura de antenas celulares. O objetivo seria focar nos setores
de telecomunicação mais lucrativos, como infraestrutura de redes. A Oi chegou a ampliar o serviço de fibra ótica nos últimos meses.
A Algar, operadora que atua no sudeste com serviços
móveis e nacionalmente como provedora de internet para empresas, também
realizou proposta, em conjunto com um fundo de investimentos de
Cingapura. As concorrentes TIM, Vivo e Claro igualmente demonstraram
interesse na transação. Enquanto as duas primeiras anunciaram intenção de compra ainda em março, na última semana as três empresas fizeram oferta conjunta pelas operações de telefonia celular da Oi.
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O negócio, no entanto, enfrentaria entraves se fosse
aprovado: Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), órgão do
governo que fiscaliza grandes aquisições empresariais para evitar a
formação de oligopólios, demonstrou-se preocupado de que a redução de
quatro para três operadoras de alcance nacional aumente a chance de
atuação coordenada (cartel) entre elas. A Agência Nacional de
Telecomunicações (Anatel), por sua vez, poderia barrar a venda pela
concentração do espectro de rede móvel.
Agora, segundo o documento divulgado pela Oi, a
Highline terá privilégio para "negociar os documentos e anexos relativos
à oferta". O acordo de exclusividade vai até 3 de agosto, podendo ser
prorrogado.
O dinheiro para fechar o negócio virá do fundo de
investimentos estadunidense Digital Colony. Segundo o comunicado da Oi, a
oferta ficou acima dos R$ 16 bilhões mínimos pretendidos pela operadora
- R$ 15 bilhões pelos serviços de telefonia móvel e R$ 1 bilhão pelas
antenas. A Highline é uma empresa de operação de torres, que monta os
equipamentos e aluga a infraestrutura para operadoras.
Além das ofertas já tornadas públicas, segundo o site
Teletime, a companhia teria interesse em comprar toda a Oi, incluindo os
serviços de internet e telefonia fixa, de TV por assinatura, e a rede
de fibra ótica. O objetivo seria iniciar uma operação como "rede
neutra", o que deve trazer mudanças para os usuários atuais da
operadora.
O que muda para os clientes da Oi
Há várias possibilidades no futuro. Para entendê-las é
preciso, antes, explicar como funcionam os serviços de comunicação do
País. No Brasil, o modelo de internet e telefonia foi desenhado pensando
em soluções voltadas para o varejo. Isso significa que a mesma empresa
que vende os planos para os clientes é dona da maior parte da
infraestrutura que utiliza: antenas (no caso de telefonia móvel),
cabeamento (os fios de internet e telefone nos postes) e backbones (a
infraestrutura "invisível" ao consumidor final).
Nos últimos anos houve poucas alterações significativas
neste esquema, sendo a mais importante delas a chegada das "operadoras
virtuais" (MVNOs, na sigla em inglês) de celular, que alugam antenas de
outras operadoras operadoras. Um exemplo é a Correios Celular,
pertencente à estatal de entrega de correspondências. Ela aluga a
estrutura da EuTV, que também é uma operadora móvel, e funciona usando
as antenas da TIM. A Brisanet, operadora de internet que vem crescendo
no interior do Nordeste e está iniciando as operaçõe
s em Fortaleza, também oferece planos móveis como MVNO alugando a rede da Vivo.
Isso significa que, exceto para as MVNOs, o custo para
criar uma operadora de telecomunicações fica na faixa dos bilhões de
reais. Buscando ampliar a competitividade do mercado, surgiu então a
ideia das companhias de "rede neutra". Estas são corporações que atuam
apenas como donas da infraestrutura - novamente: antenas, cabeamento,
backbones etc. A venda dos serviços para o consumidor final, no entanto,
é feita por outras empresas, as operadoras, que alugam os equipamentos
das redes neutras.
Este é justamente o plano da Highline: comprar a Oi
como um todo e deixar de vender planos para usuários finais, alugando a
parte física para empresas novas ou já existentes no mercado. Para as
operadoras, a vantagem é não precisar desembolsar uma fortuna para
iniciar ou ampliar os negócios: as estimativas do valor total da Oi
passam de R$ 20 bilhões, fora investimentos adicionais como o leilão de frequências de telefonia 5G, que deve acontecer em 2021.
E o que isso significa, afinal, para os clientes? Caso
os planos se concretizem e a Highline compre, total ou parcialmente, a
Oi, pode mudar nada ou muita coisa. Como a operação será de rede neutra,
os consumidores finais - quem contratou planos de internet, TV por
assinatura, telefone ou celular pela operadora - serão migrados para
outras empresas. Em tese, então, os clientes da Oi seriam forçados a
assinar novos contratos, com companhias diferentes - sejam elas as que
já existem ou novas que sejam criadas alugando a estrutura da Highline e
vendendo planos aos consumidores. Neste caso, a mudança seria total e
inevitável.
A questão é que a própria Oi tem uma empresa para
gerenciar a sua base de clientes, a ClientCo, que não está à venda até o
momento. Caso a operadora se recuse a vender a ClientCo para a
Highline, os consumidores permaneceriam com a própria Oi - que deixaria
de ser dona de toda a infraestrutura e passaria a alugá-la da própria
empresa para a qual vendeu os equipamentos. Esta movimentação seria
vantajosa para a operadora, que receberia uma injeção bilionária de
caixa para pagar parte das suas dívidas, e continuaria tendo o
rendimento dos clientes atuais. Se isso acontecer, nada deve mudar para
os consumidores finais.
Fonte O povo