Após a disparada de preços da carne no fim de
2019, os valores da proteína tiveram redução de 15% em janeiro, de
acordo com o Sindicato das Carnes (SindiCarnes). Consumidores de
Fortaleza dizem, contudo, não terem sentido essa diminuição. E os
estabelecimentos da Capital asseguram ter notado queda nas vendas por
causa das altas consecutivas dos últimos meses, recuperando aos poucos a
clientela.
O açougueiro Edson Batista trabalha em um mercadinho na Aerolândia.
Lá, os cortes mais caros são contrafilé (R$ 40); alcatra (R$ 35); e
patinho (R$ 26). Já os mais baratos são as carnes de segunda: acém e
músculo, que ficam entre R$ 16 e R$ 20. Os preços ofertados, explica o
açougueiro, já registraram patamares mais elevados, o que contribuiu
para queda nas vendas.
Hoje em dia, mesmo com valores baixos, o local ainda sente os
reflexos do período em que a proteína estava mais cara. "Não teve
aumento nas vendas. Diminuiu muito. A gente vendia quatro peças de boi
por dia, mas, hoje em dia, são duas. Não está como antes", diz Edson
Batista.
A dona de casa Denise Gonçalves afirma que não percebeu redução no
preço da carne nos açougues próximos ao local onde mora. Por não ter
condições de comprar a proteína todos os dias, recorre a alimentos mais
baratos.
"Eu acho um absurdo. Estou comendo pouca carne porque o dinheiro não
dá. Tenho que comer ovo, que é mais barato. Eu comprava muito ossobuco,
que era R$ 12 ou R$ 13. Agora, tá a R$ 16 ou R$ 17. Não tem escolha.
Evito comer todas", diz Denise.
O presidente do SindiCarnes, Everton Silva, avalia que, apesar do
abatimento do valor, o preço da proteína ainda não chegou aos patamares
anteriores. Mas o baixo consumo e o período da entressafra do boi no
País auxiliaram na amenização dos preços neste início de ano.
"Agora, em janeiro, é o período da safra do boi no Brasil, então a chegada de produtos e a queda do consumo são fatores que contribuem para que a carne tenha uma queda, mas não chegou aos patamares registrados no ano passado. Mas já baixou cerca de 15% em relação ao que tinha fechado o ano de 2019", comenta.
Silva ainda pontua que as carnes menos procuradas são as que irão
sofrer maior redução nos preços, seguindo a lei da procura e oferta de
mercado. Já em relação às vendas, ele diz que a proteína teve, nos meses
de novembro e dezembro, uma queda de 15%.
Atacado
No atacado, o preço da carne recuou entre 10% e 15%, de acordo com
Odálio Girão, analista de mercado da Ceasa. Já no varejo, a diminuição
observada foi ainda maior. "No varejo, a queda está maior. Os donos de
frigoríficos e supermercados sentiram que o consumidor se retraiu e, por
isso, deixou as carnes com preços mais acessíveis", relata.
Odálio Girão ainda ressalta que, os cortes mais baratos são os mais
requisitados, já que o salário dos brasileiros não acompanha o aumento
exagerado do preço da carne. O presidente do SindiCarnes também salienta
que o tipo de carne a ser procurado "depende do poder aquisitivo de
cada consumidor".
Cortes
Segundo a análise de Odálio Girão, os cortes mais em conta são
costelinha, lombo e músculos, aqueles que "a população de menor poder
aquisitivo compra. Os mais sofisticados como filé, cupim, alcatra e
maminha, normalmente têm preços mais elevados", conclui.