Jair Bolsonaro chama Paulo Freire de “energúmeno” e diz que TV Escola deseduca: “Programação de esquerda que promove ideologia de gênero com recursos públicos”. Emissora exibiu documentário com Olavo de Carvalho na última semana
O educador Paulo Freire
O
presidente Jair Bolsonaro (Sem partido) defendeu nesta segunda-feira
(16) o fim do contrato do Ministério da Educação com a Associação de
Comunicação Educativa Roquette Pinto (Acerp), responsável pela gestão da
TV Escola. Segundo o militar, a emissora “deseduca”.
“Era uma programação totalmente de esquerda,
ideologia de gênero. Dinheiro público para ideologia de gênero. Então
tem que mudar”, disse.
Na sexta-feira (13), a Acerp foi informada pela
pasta que não haveria a renovação do contrato, por motivos financeiros.
No Twitter, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, defendeu o fim da
parceria, com base no valor do contrato, que seria de R$ 700 milhões em
cinco anos.
A Roquette Pinto nega esse valor e afirma que o
previsto contratualmente é a metade do indicado pelo Weintraub: R$ 350
milhões. De acordo com a Acerp a instituição foi praticamente expulsa do
prédio do MEC.
Nesta manhã, o presidente Bolsonaro mencionou o
valor, mas sem citar o período de vigência do contrato. “Trezentos e
cinquenta milhões de reais que seriam jogados no lixo”, disse.
O militar aproveitou a ocasião para criticar o
educador brasileiro internacionalmente conhecido Paulo Freite, alvo de
parte da direita bolsonarista. “Tem muito formado aqui em cima dessa
filosofia do Paulo Freire. Esse energúmeno (ignorante, boçal, imbecil,
segundo definição do dicionário Houaiss) aí, ídolo da esquerda”,
completou.
O presidente citou os dados do Pisa, índice
elaborado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE) para medir a educação, na sua resposta, defendendo que o mau
resultado tem relação com o tipo de educação praticada no Brasil.
“Estamos em último lugar no mundo, se eu não me
engano, matemática, ciências e português. Acho que um ou dois itens
somos os últimos da América do Sul. Vamos esperar o que desse Brasil com
esse tipo de educação?”, disse.
Documentário com Olavo de Carvalho
Além do fim da parceria com o MEC, a TV Escola
também virou notícia nos últimos dias, com a veiculação de um
documentário sobre a história do Brasil, que contou com a participação
do ideólogo de direita Olavo de Carvalho.
Na sexta-feira, o departamento de História da
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São
Paulo (USP) se posicionou contrário ao conteúdo. ” A série é, de
fato, uma peça de propaganda ideológica de um grupo extremista”,
disse.
“O objetivo da série é defender uma posição
política de extrema direita, alinhada com o pensamento do atual grupo
que exerce a Presidência da República e sua guerra particular contra a
cultura e o conhecimento científico”, complementa.
Na nota, assinada por professores e alunos, eles
comentam ainda o fim da relação da TV com o MEC, classificando o fim do
contrato como “lamentável notícia”. “Para agravar ainda a situação de
desmonte das instituições culturais, no momento em que redigimos esta
Nota recebemos a lamentável notícia de que o Ministério da Educação
pretende não renovar o contrato de gestão que permite a TV Escola
funcionar”, afirmou.
Paulo Freire
Paulo Freire foi declarado o patrono da educação
brasileira em 2012. O educador desenvolveu uma estratégia de ensino
baseada nas experiências de vida das pessoas, em especial na
alfabetização de adultos.
Uma das obras de Freire, “Pedagogia do Oprimido”, é
o único livro brasileiro a aparecer na lista dos 100 títulos mais
pedidos pelas universidades de língua inglesa consideradas pelo projeto
Open Syllabus.
No mês passado, a Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal do Nível Superior (Capes) alterou a plataforma criada para os
professores buscarem cursos de aperfeiçoamento profissional e retirou a
homenagem ao educador Paulo Freire do nome. Agora, a “Plataforma Freire”
se chama “Plataforma da Educação Básica”.