Ao chegar aos 100 dias de Governo, o presidente
Jair Bolsonaro (PSL) tem os índices de aprovação nas últimas pesquisas
como um termômetro dos desafios que estão por vir. Levantamentos feitos
pelos institutos Ibope e Datafolha mostram que, em queda desde o início
do mandato, o presidente é o mandatário pior avaliado no período desde a
década de 1990. Os números não parecem incomodar o Palácio do Planalto
publicamente, mas devem refletir a busca por ações direcionadas a
diversos setores do País.
A queda na popularidade em tempo recorde é o suficiente para o atual
presidente, que tem 32% de avaliação positiva segundo o Datafolha, ficar
atrás de Fernando Collor, com 36%, Itamar Franco, com 34%, Fernando
Henrique Cardoso, com 39%, Lula, com 43%, e Dilma, com 47%.
Para o cientista político da Universidade Federal do Ceará, Cleiton
Monte, a chamada "lua de mel" de todo Governo, no eixo dos primeiros
seis meses de gestão, não acontece "porque o desgaste já existe dentro
dos cem dias". Ele ressalta que os líderes dos partidos não demonstram
entusiasmo com a pauta do Planalto, fragilizando a base ainda não
firmada no Congresso.
Cleiton Monte tenta explicar a desidratação elencando "desgastes com
sociedade, imprensa, sociedade civil organizada e congresso". "É um
Governo que passa a criar cenários bélicos com várias forças e isso
afeta a popularidade, em queda na classe média e Nordeste. Essa classe
não vê ações concretas do Governo".
O sociólogo da Universidade Federal do Ceará, Jonael Pontes, ressalta
que os números que envolvem a classificação "regular" do Governo devem
indicar atenção para o Planalto. Isso porque "os pesquisados que optam
por essa variável, os que estão em cima do muro, são uma variável
importante". "Se tem indecisão, tem insegurança", explica. O Ibope traz
que esse contingente pesquisado está em torno de 34%, enquanto o
Datafolha mostra 33%.
Campanha
A insegurança na população, de acordo com o pesquisador, pode ter
sido gerada pelos recuos do presidente e de ministros, além dos casos de
corrupção que causaram pressão no Governo, como os episódios envolvendo
as denúncias de candidaturas laranjas do PSL na eleição de 2018.
Para o cientista político Clésio Arruda, da Universidade de
Fortaleza, o retrato do momento tem ligação com a campanha feita pelo
presidente. Segundo ele, o Governo gerou uma expectativa de resolução de
fatores que são de difícil solução a curto prazo. "Você promete
resolver o problema da violência no Brasil. Todos os especialistas dizem
que a violência não se resolve a curto prazo, porque não é só polícia,
são políticas públicas a longo prazo", diz o pesquisador.
Arruda argumenta que o Planalto gerou expectativas muito altas. "O
Governo estabeleceu metas muito elevadas por um lado. Por outro, não
participou dos debates aonde essa questão ficaria mais clara. Nesse
sentido, você gera uma expectativa no eleitor e a frustração para
qualquer meta estabelecida", conta. Bolsonaro, por sua vez, reagiu a
dados da última pesquisa Datafolha, no Twitter, de forma sintética:
"Kkkkkk".
Relação do presidente com a imprensa
“Datafolha? Não vou perder tempo para comentar pesquisa do Datafolha,
que diz que eu ia perder para todo mundo no segundo turno”, disse o
presidente Jair Bolsonaro ao ser questionado sobre o resultado do
levantamento.
Informações oficiais do governo à imprensa
A reportagem procurou todos os ministérios, através de e-mail, para
solicitar informações oficiais sobre a execução das metas. Quase todas
responderam, de forma ágil. Na última segunda-feira (8), porém, um
e-mail da Secretaria-Geral do governo anunciou que nenhuma Pasta
enviaria mais informações sobre as metas.