Na tarde do último sábado (11), um
rompimento no canal do Eixo Norte do Projeto de Integração do Rio São
Francisco (PISF), entre os municípios pernambucanos de Terra Nova e
Salgueiro, surpreendeu a população cearense que aguarda, há um bom
tempo, a chegada das águas do "Velho Chico" ao seu território. A falha
ocorreu por volta das 12h em um trecho próximo ao distrito de Pau Ferro,
causando desvio do fluxo de água. No entanto, segundo o Ministério da
Integração Nacional, isso não afetará o cronograma da obra, que deve
ficar pronta até o fim deste ano.
Desde o início da ocorrência, 140 técnicos estão no local trabalhando
em regime de 24 horas para recuperação da estrutura. Após novas
análises, as equipes do Ministério da Integração constataram que o dano
causado ao trecho foi maior que o inicialmente previsto; por isso, a
restauração, que duraria até 48 horas, deve ficar pronta só no fim desta
semana.
Intervenção humana
Um laudo técnico está sendo elaborado, mas, as principais evidências
mostram que a falha aconteceu por algum tipo de intervenção humana - não
está descartada ação criminosa. Em um vídeo que circulou nas redes
sociais no último domingo (12), aparecem duas pessoas conversando
momentos após o canal romper. Antes disso, no sábado de manhã, o trecho
foi supervisionado e não havia sido constatado nenhuma falha na
estrutura canal. A assessoria do Ministério da Integração acrescentou
que os trechos da obra possuem monitoramento permanente, mas com 470 km
de extensão é difícil fiscalizar em sua totalidade a todo momento.
Em nota, o Ministério da Integração Nacional diz que um boletim de
ocorrência foi registrado pois, preliminarmente, "há evidências que
tenha sido um ato criminoso". Além disso, o órgão conta que há relato de
pessoas no entorno afirmando que a ação tinha como objetivo desviar o
curso d'água para encher um reservatório nas imediações. Paralelamente à
ação, equipes foram designadas para avaliar se o episódio causou algum
impacto na região; mas, nas proximidades não há moradores.
O ex-secretário de Recursos Hídricos do Governo do Estado, engenheiro e
empresário, Hypérides Macedo, acredita que esse tipo de incidente é
comum, principalmente, em épocas de seca, pois os moradores procuram
furar a estrutura com o objetivo de conseguir garantir água para a
irrigação ou dessedentação animal. "Se fosse uma parede de concreto, o
vazamento só seria no buraco. Não tem parede porque é revestido com
concreto na terra. Se fura para tirar água, cria uma bomba de erosão que
destrói o canal", explica.
Ele acredita que é muito difícil que isso tenha sido causado por algum
erro de execução, pois o canal já estava funcionando há um bom tempo e
tinha sido testado. "A velocidade da água é lenta. Não vejo
possibilidade. Só com uma chuva grande, que causasse algum
deslizamento", acrescentou. Além disso, Hypérides explica que, além de
todo o solo ser compactado com o revestimento colocado, há uma manta
impermeável para que a água não vaze para o aterro. "A água tem muita
capacidade erosiva. Acredito que houve uma intervenção do homem por uma
razão muito simples: na seca, ele quer água para o rebanho, para
irrigar. O local foi considerado uma região de seca extrema" completa.
O também engenheiro Emanuel Carvalho acredita que, pelos vídeos, não dá
para precisar se houve uma falha de execução e que tipo de falha seria.
Além disso, ele descarta que o possível tempo de paralisação nas obras
pode ter prejudicado o funcionamento da estrutura. "A água é perigosa.
Qualquer pequeno vazamento pode levar a um desastre de grandes
proporções".
O rompimento no canal desse sábado é semelhante ao que aconteceu no dia
10 de junho do ano passado, entre os municípios pernambucanos de
Custódia e Sertânia, no Eixo Leste do PISF. Na época, a falha diminuiu a
vazão de água destinada ao Estado da Paraíba. Lá, as cercas foram
quebradas. Algumas estradas ficaram alagadas, mas não houve vítimas. Já
em 2018, no dia 2 de fevereiro, as placas de concreto da segunda estação
de bombeamento, em Cabrobró, também em Pernambuco, se romperam logo
após seu acionamento pelo presidente Michel Temer.
Andamento
No último dia 3 de agosto, o presidente da República, Michel Temer, e o
ministro da Integração Nacional, Pádua Andrade, estiveram em Salgueiro
para inaugurar a terceira e última estação de bombeamento (EBI-3) do
Eixo Norte do Projeto de Integração do Rio São Francisco (PISF). A
estrutura é responsável por bombear o Rio São Francisco a 90 metros de
altura - o equivalente a um edifício de 30 andares.
Esta era a última etapa de maior complexidade do primeiro trecho (1N)
do Eixo Norte. Com seu acionamento, a previsão é que a água já chegue ao
túnel Milagres, em Penaforte, no Ceará, em setembro deste ano. De lá,
seguirá para atender também a população da Paraíba e do Rio Grande do
Norte. A expectativa é abastecer 7,1 milhões de habitantes em 223
cidades nesses estados.
Organizado em três metas (1N, 2N e 3N) ao longo de 260 quilômetros de
extensão, o Eixo Norte está com 96% das obras finalizadas. Hoje, a etapa
1N, que possui 140 quilômetros, está com 1.800 trabalhadores, alguns
atuando em frentes de serviço com turnos 24 horas.
Além das três estações, o eixo completo possui 15 reservatórios, oito
aquedutos e três túneis. Nesta etapa, a água do "Velho Chico" já
abastece 9,2 mil moradores em Terra Nova (PE) e beneficia 3,2 mil
agricultores em Cabrobró (PE).