A depender dos próximos dias de maio, se serão ou não chuvosos, o
chamado “miolo do Ceará”, a parte territorial mais central do Estado,
poderá entrar pelo sétimo ano de estiagem em 2018. Nesta descrição, a
região voltaria a registrar perdas significativas na safra de milho e
feijão e baixo aporte nos reservatórios. Pelo menos 30 municípios estão
na iminência desse cenário de resultados agrícolas e produção pecuária
insuficientes e seca estendida, admite o presidente da Empresa de
Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará (Ematerce), Antônio
Amorim.
“Ainda há municípios com risco de entrar para o
sétimo ano (de seca). Tudo dependerá de como o ‘inverno’ acontece no mês
de maio”, confirma Amorim. Reticente em usar o termo “seca”, ele
reafirma que maio será definidor. Historicamente, o mês tem menores
chuvas que abril e março. Pondera que, no Estado todo, “2018 já é muito
diferente do ano anterior, muito melhor. Não podemos chamar este ano
como mais um ano de seca. Pode até ser chamado de ano médio. É o começo
de um novo ciclo, a meu ver”.
As 30 cidades cearenses estão
num caminho que cruza “o (Vale do) Jaguaribe, Sertão Central, Inhamuns e
Centro Sul”. A lista é construída por ele a partir da combinação de
chuvas abaixo da média, mais o fator pouca água acumulada nos açudes e
as perspectivas da produção agropecuária ainda sujeitas ao que maio
confirmar. No coloquial, Amorim identifica geograficamente os municípios
listados como “um espinhaço do Estado”.
O presidente da
Ematerce usa o mapa na parede de seu gabinete para descrever o caminho
da “chuva que afinou em abril, diminuiu bastante”. Aponta, no desenho do
Estado, que o lote menos próspero deste ano fica aonde as nuvens
acumuladas pela Zona de Convergência Intertropical (parte de cima) e as
chuvas vindas de Pernambuco/Bahia (parte de baixo) não chegaram. “A
falta de chuvas parou exatamente nesse meio”, diz Amorim. Acima e abaixo
no mapa, Zona Norte e Cariri seguem apresentando os maiores índices
pluviométricos de 2018.
Variável relevante, ele aponta, foi o
veranico mais duradouro dentro de março. A interrupção das chuvas,
segundo Amorim, “demorou mais do que se previa”. O presidente da
Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), Eduardo
Sávio Martins, confirma. “O veranico de março foi muito longo. Durou
mais de 15 dias. Na agricultura de sequeiro, deve ocasionar perda de
rendimento das principais culturas. Este veranico também não favoreceu o
aporte”, amplia Martins.
Março deveria ter sido justamente o
mais chuvoso da quadra invernosa, medida de fevereiro a maio. O mês tem
média histórica de 203,4 milímetros (mm), mas em 2018 choveu 120,1 mm.
Foi 40,9% menor que o esperado. Fevereiro e abril, respectivamente o
tempo do plantio e o do crescimento vegetativo, foram de chuvas acima de
suas médias.
Quanto à recarga hídrica, segundo Martins, com
exceção da Bacia Metropolitana, todas as demais estão com percentual
maior que o do final da quadra chuvosa de 2017. “O Ceará, ao fim da
quadra chuvosa do ano passado, estava com 12,5% da capacidade de
armazenamento. Agora, está com 16,3%”, mapeia o presidente da Funceme.
No caso do milho, o período atual é o da floração. O sertanejo
chama a flor da planta de “boneca”, de onde despontam as espigas. A
colheita do milho é em julho. “Se chover nas próximas duas semanas,
ajuda a sustentar bastante”. O POVO entrevistou Amorim na última
quinta-feira, dia 3.
Jaguaribe, Iguatu, Mombaça, Pedra Branca,
parte de Boa Viagem e Senador Pompeu apareceram entre as primeiras
citadas por Amorim como preocupantes. “Tiveram ‘inverno’ menor. Podem
ter perda de safra se não cair chuva agora”. No restante do Ceará,
segundo ele, a safra do grão será quase completa.
O feijão
já está sendo colhido no Cariri, toda Zona Norte, Sertões de Crateús,
Sertão Central e área metropolitana da Capital. Nos respectivos
municípios com as melhores chuvas dentro de cada dessas regiões,
ressalta o presidente. Brejo Santo e Novo Oriente são os expoentes
locais na produção. Ele acredita que a cultura também atingirá a
colheita prevista, 187 mil toneladas no Estado.
“No todo, está chegando ao esperado, mas também depende de maio. É o mês decisivo para isso”, destaca.
A chuva não deixou de ser registrada nos municípios onde a estiagem
poderá emendar sete anos. Mas só o suficiente para esverdear a paisagem
e fazer crescer pastagens nativas. Os pequenos açudes ganharam alguma
água. “Os pequenos reservatórios e essa mata nativa vão ajudar na
sustentação do rebanho”, projeta Amorim. O Ceará tem, nos cadastros mais
atualizados, perto de 2,5 milhões de animais bovinos, 2,6 milhões de
ovinos e e 1,4 milhão de caprinos.
O presidente da Ematerce
diz que “2018 está sendo um ano compensador. Esperança que os novos anos
sejam menos duros do que foram os seis anos passados. Para a lavoura tá
dentro da média, para o aporte merece mais”. Torce que maio seja
“surpreendente”. Eduardo Sávio, da Funceme, reforça: “As chuvas de 2018
nos trouxeram algum alívio, mas ainda está longe de qualquer situação
confortável”.
APORTE HÍDRICO
As bacias
hidrográficas que mais se beneficiaram com as chuvas de 2018 no Ceará
foram Coreaú e Acaraú, de acordo com o presidente da Funceme, Eduardo
Sávio Martins.
SAFRA EM 2018
A previsão é que o Ceará colha 570 mil toneladas de milho em 2018.
É o maior plantio no solo do Estado. 187 mil toneladas de feijão devem ser colhidas.
7 açudes eram considerados secos no Ceará no último dia 3, segundo o Portal Hidro
25 açudes eram considerados no volume morto e 20 estavam sangrando