No mesmo testemunho em que confessou participação em quatro das sete
mortes da chacina, Douglas confirmou que os ataques ocorreram por
vingança e no contexto da disputa entre facções criminosas por
territórios na Capital. “[Afirmou] que o presente crime não teve relação
com rixa de torcidas e sim com brigas de facções”, diz trecho do
depoimento.
Segundo o acusado, que admite ter relação com a facção
Guardiões do Estado (GDE), ele e outros dois comparsas foram à sede da
Torcida Uniformizada do Fortaleza (TUF) após receberem a informação que
um rival, membro do Comando Vermelho (CV), estava no local.
Ainda
de acordo com Douglas, o inimigo já havia o ameaçado de morte e teria
envolvimento nas mortes de Renato Timbaúba Farias, Clóvis Tiago e Jorge
Luís Rodrigues, todos assassinados nas proximidades da Praça da
Gentilândia. Uma vez na sede da TUF, o grupo não localizou o suposto
rival, mas procedeu a atirar contra outras pessoas na área que seriam
ligadas, segundo eles, ao CV.
“[Douglas afirma] que primeiramente
passaram em frente à TUF e visualizaram várias pessoas, tendo-as
reconhecido como inimigos por pertencerem ao CV”, diz o depoimento.
“Deram volta no quarteirão e voltaram novamente para a frente da TUF,
ocasião em que os dois homens que estavam com ele desceram e saíram
atirando contra indivíduos como pertencentes ao CV”, relata. O
testemunho foi incluído em parecer do Ministério Público do Estado
(MP-CE) ao qual O POVO teve acesso. No documento, o MP pede ainda o
desmembramento de processos envolvendo os acusados, bem como maior
andamento de diligências do inquérito policial.
Versão do
acusado confirma a nova linha de investigação, divulgada ontem em
coletiva da Perícia Forense do Estado do Ceará, junto com a Polícia
Civil. Na época do massacre, o secretário de Segurança do Ceará,
delegado André Costa, afirmou que a pasta não descartava a tese de que
os homicídios registrados no Benfica tivessem relação direta com
disputas entre torcidas organizadas. Afastando a hipótese de disputa
entre facções criminosas.
Um dia após a chacina, o Ministério
Público do Estado (MP-CE) emitiu nota cobrando a “imediata extinção das
atividades” de torcidas como a TUF e a Associação Torcida Organizada
Cearamor. No documento, o órgão também ressaltou que, supostamente, a
maioria das vítimas do massacre eram ligadas à torcidas organizadas.
Preso dia 10 em um apartamento no Meireles, Douglas Matias da Silva
teve prisão preventiva decretada na semana passada. Segundo a Polícia
Civil, ele teria participado, ao lado de Stefferson Mateus Rodrigues e
Francisco Elisson Chaves, dos ataques realizados em Fiat Punto da cor
branca na sede da TUF, com quatro mortes.
A Secretaria de
Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) ainda não divulgou suspeitos
que estariam no Honda Civic, outro veículo que teria sido utilizado nos
ataques. Segundo apuração inicial do caso, teria sido este segundo
carro o que realizou os homicídios executados na Praça da Gentilândia,
com três mortos e dois feridos em estado grave.